CAPÍTULO 2 - Quando o peão cai

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A cabeça de Antonie rodava. Sua nuca latejava quase como se estivessem batendo nela com um martelo, fazendo parecer que tudo a sua frente estava correndo em alta velocidade, lhe deixando desnorteada.

Respirou fundo, tentando não grunhir de dor. Sua cabeça pendia sobre o braço e se arrependeu em tentar levantá-la tão rapidamente. Estava tudo escuro e a dor a impedia de pensar direito e compreender de onde vinha aquele monte de sensações.

O chão no qual estava caída era frio e úmido. Seus músculos doíam como se tivessem sido esmagados por um rolo compressor e a ânsia de vômito assolava sua garganta.

Percebeu que estava em uma sala ampla, uma espécie de galpão. Conforme os pingos de algum cano quebrado batiam no chão, sua mente parecia reconhecer aquilo como um estrondo de tiro e rodava ainda mais. Aparentava ser um lugar subterrâneo, pois podia ouvir com nitidez os carros passando no andar de cima. Esgoto, talvez. A repulsa pelo lugar a fez querer se levantar, e foi só então que tomou consciência de que estava amarrada e com uma fita na boca.

Os pés estavam juntos, presos por uma corrente para evitar que ela fugisse. O vestido de gala parecia destroçado, rasgado e queimado, disposto sobre seu corpo de modo que deixava suas pernas quase totalmente à amostra. Seus joelhos estavam na carne viva, culpa do acido na sala presidencial. A pele parecia ter sumido, deixando os nervos expostos, cobertos de sangue que escorriam até seu pé, pingando compassadamente no chão. A aflição que corroeu seu estômago a fez entrar em desespero e ao perceber o quanto aquilo doía, não pode evitar a ânsia de pôr a mão e não conseguiu evitar o grito que rasgou sua garganta, ainda que abafado pela mordaça.

Seus braços estavam presos no alto por uma corrente enferrujada; estava presa sobre sua cabeça e se afundava em sua carne conforme o peso de seus braços a puxava para baixo, abrindo uma fenda sangrenta em sua palma. A consciência de mais uma ferida lhe trouxe desespero, e a agitação da consciência fez um prego fincado na parede espetar sua pele e o rasgo fez mais sangue jorrar de seu braço talhado.

A dor do prego lhe cortando foi quase tão agonizante quanto à da sua carne queimada e pobre sobre os joelhos, e a percepção do ombro deslocado.

Antonie mordeu a língua e respirou fundo. As lágrimas desceram sem pudor e a respiração falhava em meio à agonia. Ela precisava se acalmar, precisava saber o que realmente estava acontecendo para poder sair dali.

A dor que sentia era inumana, seus joelhos queimavam feito sua palma queimada, o sangue escorria fluido pelo teu braço e o ombro latejava com força. Toda via, ao ouvir passos vindos do corredor junto a um assovio calmo, seu desespero foi por outro motivo.

Havia uma porta ao seu lado direito, aonde a única fresta de luz vinha por debaixo do pequeno filete da porta e ela foi escancarada quase lhe cegando, lhe fazendo virar o rosto.

Um homem de feições rudes e porte grande entrava pela porta, fazendo a luz que entrava refletir na faca em sua mão.

— Olá docinho. – Sua voz soou asquerosa e cheia de malícia. – Está preparada para o nosso jogo? – perguntou levantando a faca que brilhou.

O brutamonte se abaixou, estourando com apenas um puxão as correntes soldadas na parede. Os braços de Antonie caíram sobre ela, lhe causando mais dor pelo movimento dos seus músculos e pelas correntes pesadas e enferrujadas caindo em suas costas.

Havia uma maca tão enferrujada quanto as correntes no canto da sala, e ele a puxou a jogando sobre o móvel, fazendo sua cabeça bater com força contra o ferro. Sua mente rodou e ela sentiu seus sentidos a abandonando. Ele puxou as correntes dos seus braços e pés, a prendendo na maca.

A luz que entrava pela porta era fraca, mas ainda assim ela podia ver seu rosto nojento lhe olhando com desejo enquanto passava mão por seu rosto e deixava escorrer pelo vão de seus seios. Apertou um deles com força, e as lágrimas caíram dos olhos da mulher no mesmo instante em que ele arrancava a fita da sua boca.

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⏰ Last updated: Apr 21, 2020 ⏰

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