Fumando um cigarro e sentada em um dos bancos do lado oeste da grande praça no centro da cidade, ela observava o vai e vem de pessoas. Os raios de luz do sol já não eram intensos e a noite já trazia o seu ar sombrio e, ela parecia estar atenta, procurando alguém no meio da multidão. Entre aqueles rostos borrados por serem desconhecidos haveria um que ela reconheceria, este rosto familiar era daquele o qual ela, ali, esperava.
_Achei que não te encontraria aqui. – um homem bem vestido fala sorrindo. Ele chegara por trás do banco assustando levemente a mulher que estava vestida elegantemente. Seus cabelos longos estavam soltos e sua pele branca realçava-se por estar vestindo um sobretudo longo e com corte slim fit, um vestido também preto completava seu look. Suas pernas estavam aquecidas por uma fina meia calça e seus pés, por um charmoso sapato de tom escuro.
_Pois encontrou. – ela joga o cigarro no chão e o apaga pisando delicadamente e ironicamente ri e logo continua – Por que pensou que eu não estaria aqui? Dei minha palavra.
_Tampouco eu duvidei, senhora Lewis. Vamos ir à cafeteria "Caffè Con Amore"? Lá conversaremos melhor. – ela com seus olhos azuis escuro, delicadamente confirma com seu olhar, aceitando ir ao café.
Alguns minutos depois eles chegam ao tal café. Um lugar com estilo medieval, suas paredes ostentadas por pedras grandes, também lembrando um pouco a Itália pelas cortinas amarradas e as mesas com toalhas xadrez, estilo também um pouco "pizza". O lugar tinha como fundo musical uma música de Alessandra Amoroso para dar um toque ainda mais italiano ao local, e este café era famoso na cidade por ser tão convidativo e por sua aparência confortável, assim como o atendimento aparentemente privilegiado que o cliente recebe.
_Adoro esse lugar. – ela comenta puxando a cadeira para sentar. – O café deles é único, não há outro lugar que faça um café tão bom quanto o que é feito aqui. – completa.
_Concordo com você, Senhorita Lewis.
_Me chame apenas de Sandra. – ela sorri.
_Ciao! O que desejam? – o garçom com sotaque italiano questiona. Ele espera a resposta com um sorriso.
_Eu quero o legítimo cappuccino italiano. – ela com todo seu charme, responde. – Com pouco chantilly.
_Quero um macchiato. – mal olhando para o garçom.
_Anotado! Algo mais, senhora e senhor?
_No momento não. – responde, Sandra, com seu sorriso encantador. – Sobre o que mesmo você quer conversar? – ela pergunta curiosa.
_Irei direto ao ponto. É sobre a família Kelling.
_Eles? Por que falar sobre eles? – ela indaga em tom de surpresa.
_Irei te contar. Você é nova na cidade, não sabe muito sobre eles. A família era uma das mais ricas na cidade, porém o pai dele, Isaac, estava com sérios problemas financeiros, perdendo dinheiro em jogos e principalmente se metendo com pessoas estranhas ou, quiçá, perigosas da região. – ele é interrompido.
_Pessoas estranhas? Perigosas? Jogos? Ricos? Isso é tudo novo pra mim.
_Sim, ainda, com isso eles pagaram caro. As dívidas, que o membro major da família adquirira com o tempo, fez com que algumas pessoas se revoltassem e com o tempo cansaram de cobrar.
_Ainda não estou entendendo o que isso tem realmente a ver com a morte de Alex. Está querendo me dizer que a dívida foi paga com a morte do garoto?
Eles param de falar por uns segundos, pois o garçom entregara os cafés. Enquanto isso eles se olhavam e Sandra demonstrava estar descrente, afinal, aquela história estava soando muito estranha. O garçom vai-se e eles retomam a conversa.
_Você se recorda de quando saíram fotos nos jornais de todo o ocorrido? De que não haviam fatos suficientes para provar o porquê do acontecimento, assim como quais foram as razões de terem feito a tal cruz e quem a fez. – ele sério, sem expressar nada em seu rosto, acaba de falar e bebe um gole do seu macchiato.
_Lembro. – ela franze a testa. – Lembro muito bem! E posso afirmar que fiquei muito curiosa quando vi a cruz. Não entendi exatamente por que diabos usaram a cruz egípcia. – Ela fica tocando na xícara com seu cappuccino quente. – Por que o ankh?
_Por quê? Já me fiz tantas vezes essa pergunta, Sandra. – ele dá mais um gole.
_Eu pesquisei. O ankh é um símbolo que entre tantas coisas significa imortalidade. Mas não faz sentido. – Ela fica pensativa enquanto bebe seu café. – Não... Pode. – se cala.
_E se ele, no final de tudo, continuou vivo? Imortal? – o homem questiona.
Os dois continuam ali por alguns minutos, conversando sobre algo que era assunto em rodas de amigos, em bares, em jogos de xadrez, assunto que não tem um final certo. Que as tantas perguntas não se encaixavam com as respostas dadas. Por quê? Por que a cruz Ansata? Por que ele foi assassinado? E por quem?
_Joanna Kelling! – Sandra fala o nome em um suspiro profundo. – Ela esteve na delegacia dando queixa de ameaças. Ela! Como não me dei conta antes disso, como não recordei. Ela foi à delegacia no dia da morte do seu filho. Falou que havia recebido uma ligação suspeita em que diziam que eles estavam em perigo, algo assim. Na verdade... – ela fica boquiaberta com seus pensamentos e é interrompida.
_Na verdade a dívida seria paga? – ele ri de forma que satiriza o que ela dizia.
_Sim. Mas mesmo assim não consigo ligar os fatos. Parece que mesmo tendo tantas provas, peças, pessoas nesse caso, eu não consigo, ainda, encontrar as respostas para minhas perguntas.
_Eu tentarei entrar em contato com a mãe dele.
_Faça isso. Pois eu já consegui o endereço dela, irei amanhã cedo. Ela poderá me contar muitas coisas. – Ela bebe as últimas gotas do seu cappuccino.
_Claro! Vamos desvendar esse crime. – Ele sorri. Os dois levantam e se despedem.
O homem caminha pela rua, procura seu telefone em um dos bolsos da calça, o encontra e:
_Peter, localize o endereço de Joanna Werner Kelling o mais depressa; ela deverá estar em silencio. – ele fala ao telefone.
_Espere alguns minutos, Senhor.
_Ok!
Alguns minutos.
_O Endereço é Ramon Solis, 301, Vilarejo dos Inocentes. Cidade dos Pássaros.
_Obrigado! Essa mulher beberá sua própria vida!
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Além das sombras
Mystery / ThrillerUma festa, vários amores e um assassinato. Descubra junto com quem narra esta história, o que provocou a morte de Alex Kelling, os segredos e detalhes que montam um quebra-cabeça disposto em várias pistas ao longo das sombras.