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𝓓𝓮 manhã ainda chovia forte e ventava, mas não tão violentamente como à noite. Ele tinham de tomar cuidado, porque quando chovia muito, não era incomum que o canal se tornasse uma corrente enfurecida.
Mal percebeu que estava a mergulhar a sua bota cujo couro velho era macio na água congelante, que tão fria os tornozelos doíam e os pés já não sentia mais.
Por sorte, ao longe, foi socorrido por uma velha mulher de galocha amarela e cabelos emaranhados que levava na mão um guarda-chuva aberto. Sua sorte ali tinha sido enlaçada com o destino:
– Meu jovem você está bem? — cutucou lhe.
Matteo acordou com um pulo, rígido e com frio, seu corpo estava tremendo e a cabeça confusa: Ele sabia o que havia acontecido naquela noite não era verdade, mas em sua mente perversa, ele acreditava que sim.
Cambaleante, ele se levantou. As gotas tocando o solo molhado eram tudo o que os circundavam ali.
– O que aconteceu? — questionou a velha lhe cobrindo-o com seu guarda-chuva.
– Tive um sonho que me assustou! — respondeu sem pensar muito. — Belinda, aquela menina veio até mim.
– Oh! Meu filho. Vejo trevas à sua volta. — a feição da senhora mudou e ela o abandonou ali, sem mais nem menos.
Com os braços cruzados diante do peito, Matteo caminhava em direção à sua casa de cabeça baixa com as pernas tremendo e os dentes rangendo, era uma mistura de medo e frio.
– Ei, Matt! — de longe, Giulia eufórica o avistou, a garota andava por aquela mesma ponte todos os dias para ir ao trabalho. — Precisa de ajuda?
O detetive recompôs-se, evitou olhar para a moça e disse que não precisava de ajuda, mas ela insistiu:
– Ei, me espere. — acenou com as pontas dos dedos.
Ele não reagiu, voltando a caminhar na mesma direção, preferia que ela não estivesse ali. Mas, a suspeita foi o suficiente para que ela saísse correndo até alcançá-lo.
– Você se feriu? — e ao se aproximar percebeu que o rosto dele estava a arder em febre, os olhos vermelhos, a boca contraída, e os cabelos em desordem.
– Não — respondeu secamente.
– Você está todo molhado e sujo vai pegar uma bela de uma gripe. — fala a moça. Ele olhou para ela percebendo como aquela garota é simpática e amável.
Sem esperar uma resposta, Giulia tirou sua jaqueta desgastada, colocando-lhe sobre as costas do detetive que mantia seus olhos frios e implacáveis sob as pálpebras semicerradas.
Diante do silêncio obstinado dele, ela caminhou ao seu lado até a sua casa, que no momento, parecia abandonada, mas estarreceu quando deu com a porta aberta.
– O que aconteceu aqui? — questionou mais uma vez sem obter nenhuma resposta.
Por mais cabeça dura que fosse, não tinha como ele recusar o que aconteceu. O homem pôs a chorar, mas desta vez, Giulia o envolveu em um abraço quente, como quisesse acalmá-lo, deu lhe um beijo na testa demonstrando carinho.
Para escapar da chuva ela o arrastou para dentro da casa, Tanto ela quanto Matteo estavam completamente encharcados, com água caindo de seus cabelos e roupas no chão de madeira.
– A coisa toda está me deixando louco. — desenbuchou o detetive.
Matteo tirou o casaco molhado e deixou em cima da poltrona, tirou as botas encharcadas e as meias em igual estado e largou ali mesmo. Rapidamente Giulia pegou uma manta esverdeada que estava dobrada no sofá e o envolve-o.
– Está tudo bem Matt, eu estou aqui com você. — tentou acalmá-lo.
– Então por que diabos eu estava dormindo na tempestade? — gritou o detetive.
– Se acalme. — ela abraçou-o com força, tentando tranquilizá-lo.
Giulia dirigiu-se até a cozinha preparou um pouco de café bem forte e quente, e trouxe duas xícaras, adicionando açúcar e leite no seu café.
– Tome isso. Te fará melhor. — ela o entregou o café e dedicou-lhe um sorriso forçado. Os seus cabelos estavam para trás, e parecia que tinha se maquiado um pouco, mas não se sabia ao certo. — Agora, me conte o que aconteceu?
Matteo tomou um gole enquanto a moça se sentava do outro lado do sofá. – Tive um sonho terrível, Giulia, nem imagina, um pesadelo que me fez acordar há quilômetros daqui.
– Ou, talvez, você seja sonâmbulo e tenha caminhado até lá. — disse ela pousando a xícara barulhentamente sobre a mesinha à sua frente.
– Era real. — respondeu sem expressão.
– Por hora é melhor descansar, as respostas virão com o tempo. — Giulia se levantou ameaçando ir embora e com um sorriso, ele reagiu como se nada fosse.
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Belinda
Mistério / SuspenseMatteo Muller foi um dos detetives mais renomados da Itália por volta de 1980. Seu dom em decifrar enigmas, desnudar histórias e revelar segredos era de se vangloriar. Mas, o pior de tudo, é que ele levava dentro de si a lembrança de um caso insolúv...