26. Trevas à sua volta

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𝓓𝓮 manhã ainda chovia forte e ventava, mas não tão violentamente como à noite. Ele tinham de tomar cuidado, porque quando chovia muito, não era incomum que o canal se tornasse uma corrente enfurecida.

Mal percebeu que estava a mergulhar a sua bota cujo couro velho era macio na água congelante,  que tão fria os tornozelos doíam e os pés já não sentia mais.

Por sorte, ao longe, foi socorrido por uma velha mulher de galocha amarela e cabelos emaranhados que levava na mão um guarda-chuva aberto. Sua sorte ali tinha sido enlaçada com o destino:

– Meu jovem você está bem? — cutucou lhe.

Matteo acordou com um pulo, rígido e com frio, seu corpo estava tremendo e a cabeça confusa: Ele sabia o que havia acontecido naquela noite não era verdade, mas em sua mente perversa, ele acreditava que sim.

Cambaleante, ele se levantou. As gotas tocando o solo molhado eram tudo o que os circundavam ali.

– O que aconteceu? — questionou a velha lhe cobrindo-o com seu guarda-chuva.

– Tive um sonho que me assustou! — respondeu sem pensar muito. — Belinda, aquela menina veio até mim.

– Oh! Meu filho. Vejo trevas à sua volta. — a feição da senhora mudou e ela o abandonou ali, sem mais nem menos.

Com os braços cruzados diante do peito, Matteo caminhava em direção à sua casa de cabeça baixa com as pernas tremendo e os dentes rangendo, era uma mistura de medo e frio.

– Ei, Matt! — de longe, Giulia eufórica o avistou, a garota andava por aquela mesma ponte todos os dias para ir ao trabalho. — Precisa de ajuda?

O detetive recompôs-se, evitou olhar para a moça e disse que não precisava de ajuda, mas ela insistiu: 

– Ei, me espere. —   acenou com as pontas dos dedos.

Ele não reagiu, voltando a caminhar na mesma direção, preferia que ela não estivesse ali. Mas, a suspeita foi o suficiente para que ela saísse correndo até alcançá-lo.

– Você se feriu? —  e ao se aproximar percebeu  que o rosto dele estava a arder em febre, os olhos vermelhos, a boca contraída, e os cabelos em desordem.

– Não — respondeu secamente.

– Você está todo molhado e sujo vai pegar uma bela de uma gripe. — fala a moça. Ele olhou para ela percebendo como aquela garota é simpática e amável.

Sem esperar uma resposta, Giulia tirou sua jaqueta desgastada, colocando-lhe sobre as costas do detetive que mantia seus olhos frios e implacáveis sob as pálpebras semicerradas.

Diante do silêncio obstinado dele, ela caminhou ao seu lado até a sua casa, que no momento, parecia abandonada, mas estarreceu quando deu com a porta aberta.

– O que aconteceu aqui? — questionou mais uma vez sem obter nenhuma resposta.

Por mais cabeça dura que fosse, não tinha como ele recusar o que aconteceu.  O homem pôs a chorar, mas desta vez, Giulia o envolveu em um abraço quente, como quisesse acalmá-lo, deu lhe um beijo na testa demonstrando carinho.

Para escapar da chuva ela o arrastou para dentro da casa, Tanto ela quanto Matteo estavam completamente encharcados, com água caindo de seus cabelos e roupas no chão de madeira.

– A coisa toda está me deixando louco. — desenbuchou o detetive.

Matteo tirou o casaco molhado e deixou em cima da poltrona, tirou as botas encharcadas e as meias em igual estado e largou ali mesmo. Rapidamente Giulia pegou uma manta esverdeada que estava dobrada no sofá e o envolve-o.

– Está tudo bem Matt, eu estou aqui com você. —  tentou acalmá-lo.

– Então por que diabos eu estava dormindo na tempestade? — gritou o detetive.

– Se acalme. — ela abraçou-o com força, tentando tranquilizá-lo.

Giulia dirigiu-se até a cozinha preparou um pouco de café bem forte e quente, e trouxe duas xícaras, adicionando açúcar e leite no seu café. 

– Tome isso. Te fará melhor. — ela o entregou o café e dedicou-lhe um sorriso forçado. Os seus cabelos estavam para trás, e parecia que tinha se maquiado um pouco, mas não se sabia ao certo. — Agora, me conte o que aconteceu?

Matteo tomou um gole enquanto a moça se sentava do outro lado do sofá. – Tive um sonho terrível, Giulia, nem imagina, um pesadelo que me fez acordar há quilômetros daqui.

– Ou, talvez, você seja sonâmbulo e tenha caminhado até lá. — disse ela pousando a xícara barulhentamente sobre a mesinha à sua frente.

– Era real. — respondeu sem expressão.

– Por hora é melhor descansar, as respostas virão com o tempo. — Giulia se levantou ameaçando ir embora e com um sorriso, ele reagiu como se nada fosse.

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BelindaOnde histórias criam vida. Descubra agora