Tinha conseguido entrar no sono profundo, até voltarem os pesadelos. Sonhava que estava perante a minha família e que ninguém me conseguia ouvir, ninguém me via. Tinha desaparecido perante eles, talvez estivesse morta, talvez todos se tivessem esquecido de mim. Depois sonhei que me tentava injectar e as minhas mãos tremiam, a seguir pegava numa faca e não entrava na pele, metia a cabeça dentro de água e nada resultava.
Acordei quase sem fôlego, com um grande aperto no peito. Peguei numa dose de heroína e mesmo no momento que ia snifar algo aconteceu, algo me impediu de o fazer.
Quando levantei a cabeça vi uma foto dos meus pais, recordei as tristezas que lhes dei, as vezes que os vi com caras de amuados por minha culpa, apenas pelos erros que eu cometi, as zangas que eles tinham por minha causa e pensei nas vezes que eles se arrependeriam de me ter trazido ao mundo. Pareceu-me estar cansada, mesmo sem me ter movido.
Peguei num papel e numa caneta e comecei a escrever. "Mãe, pai, mana, há uma coisa que vos quero dizer, eu amo-vos, independentemente de todas as merdas que eu fiz era por vocês que eu continuava a lutar para continuar em pé, para vos continuar a ver e para criar a imagem de família feliz que na realidade nunca existiu. Gostava de antes disto vos poder ter abraçado e ter dito isto. Mas era impossível. Desculpem por vos ter dado tantas desilusões, juro que no fundo não queria. Mas já passou, agora só vos quero pedir para me esquecer, ou para se lembrarem das coisas boas, por poucas que foram. Amo-vos"
Depois de ter escrito isto não pensei em mais nada e agarrei a tremer e a chorar a arma que o meu pai tinha na gaveta do quarto e depois de ter gritado e de me lembrado de todos os momentos disparei.