Prólogo, Jovem Mestre Nem-Tão-Jovem Assim

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Era pressuposto que King’s Cross fosse um lugar caloroso, onde sonhos se tornariam realidade a partir do momento em que se cruzasse a plataforma 9¾ para o Expresso de Hogwarts. O véu entre o mundo mágico e o mundo trouxa, para Harry Potter, no entanto, meio que na verdade era o inferno.

Não, é sério, era o inferno mesmo.

Ou, pelo menos, era algo desse tipo. Quer dizer, não poderia ser o inferno porque lá não era a última viagem, esse negócio de inferno e última viagem também nem existia. Estava mais para uma pausa corriqueira ‘pra um cafézinho da tarde enquanto se espera o trem para a sua próxima vida — ou deveria ser chá? Todo mundo ama chá. Provavelmente era por isso que lá era tipo, uma estação de trem, sabe, mas também tinha a ver com Harry ser o Mestre da Morte e poder escolher qual seria a paisagem que iria ter aquele lugar. Ele havia mudado há uns dois séculos, quando aconteceu uma coisa aí.

Pelo o que ele se lembrava da explicação de Morte — que ele esqueceu (mas ei! Não o julgue, fazia tipo, uns quatro mil anos já) —, o Limbo assumia uma forma diferente para cada pessoa, então era corriqueiro que parecesse com um lugar que foi importante na vida da pessoa que morreu. Isso significa que se você morreu e amava demais, por exemplo, um quarto de Motel barato em específico, o Limbo iria se parecer com isso. É por isso que logo na entrada do Limbo King's Cross tinha uma placa onde dizia: “Se você é um desses que amou muito um quarto de motel, por favor, não imagine cenas impróprias para o horário nobre por aqui quando você chegar”.

Sabe o negócio de mudar por um acontecimento aí? Então. Acredite, aconteceu mesmo. Foi nojento.

A questão é que, quando Harry chegou naquele lugar, ‘tava uma bagunça.

Não, mentira, na verdade ele ‘tava meio que vazio. Era só névoa, sabe? Você pode conferir isso em sua autobiografia, a coleção de livros Harry Potter — é meio óbvio, duh. Se bem se lembrava, havia lançado a coleção em sua terceira vida, quando foi uma escritora meio problemática. Harry se arrependia um pouquinho disso, porque ele morreu antes de contar o verdadeiro final e foi por causa disso que, nos livros, ele acabou com a vaca que o traiu e ainda teve um fodidamente falso final feliz —. Enfim, como eu ia dizendo, King's Cross era um vasto nada.

Foi lá que Harry Potter encontrou Morte pela primeira vez, mesmo que ele não soubesse que aquela era A Morte — e ele queria que tivesse sido a última vez também, apesar de que na época a entidade assumiu a forma de Albus fodendo-babaca-manipulador Dumbledore, e se o garoto soubesse o pedaço de porcaria que seu ex-diretor era, certamente teria mandado um caguei pra tu e tua guerra, meu chapa, e então teria seguido o baile (no caso, o trem) e reencarnado, como toda pessoa que não fosse meio fora da casinha — igual um certo cara com manias de grandeza aí.

O problema é que Harry era meio ingênuo — burro, né — e voltou para lutar com Tom “Voldemort” Riddle, o referido cara com manias de grandeza por quem Morte sempre teve uma queda. Tudo teria sido de boa se ele não tivesse sido traído pelos amiguinhos do peito alguns anos depois de matar o auto intitulado Lorde que era um pirado de merda. Garoto de sorte, né?

Daí, ele voltou ‘pro Limbo.

Agora eu posso dizer: na segunda vez que Harry esteve ali, aquele lugar era uma bagunça. Provavelmente porque agora ele estava realmente morto, ele conseguia ver as inúmeras Almas que vagavam em busca de saber seu destino. Isso significa que tinham um monte de cabeças se movendo em um mar gigantesco de almas perdidas e umas criaturinhas esquisitas gritando coisas do tipo: “Christian! Christian, aqui! Christian Harrison, tenho um trem marcado ‘pra você daqui a quinze minutos!” — o mais engraçado é que ali não existia tempo, então não fazia muito sentido dizer que o trem sairia em quinze minutos ou quinze anos.

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