[prólogo]

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A casa dos Wheeler era uma bagunça. Talvez tivesse muito a ver com o fato de que ninguém além de Karen Wheeler realmente se importasse em manter qualquer coisa ali organizada, ou era pelo simples fato de que ela não fora agraciada com um ou dois filhos como qualquer uma das garotas que conhecia quando nova planejavam, mas sim com quatro. Claro que qualquer um que conversasse com a mulher por mais que quinze minutos a ouviria admitir de forma implícita que Nancy e Holly eram as que menos lhe davam trabalho.

Não, o problema eram os gêmeos.

Michael e Richard Wheeler simplesmente não conseguiam existir no mesmo espaço sem ameaçar criarem uma terceira guerra mundial um contra o outro. A semelhança física absurda que tinham não combinava em nada com suas personalidades e a única outra coisa que tinham em comum eram as bicicletas que tanto amavam. Só isso.

Eles enlouqueciam a pobre Karen.

Mike, como todos o chamavam, era agitado como o irmão, embora muito menos hiperativo. Seus olhos sempre passeavam por aí, observando mais do que propriamente falando. Os cabelos um pouco mais lisos do que os do gêmeo estavam sempre muito bem cortados, aparados meticulosamente pelo vizinho barbeiro que sempre fazia um bom preço, organizados por um pente de madeira todas as manhãs, como um ritual que ele precisava completar, caso o contrário seu dia seria péssimo.

Apesar de gostar bastante de fliperamas, preferia jogar D&D em campanhas longas demais para serem saudáveis em sua idade com seus amigos, fazendo suas risadas e conversas ficarem altas pela animação e ecoarem muitas vezes para fora do porão que usavam para brincar. Ele também tinha um apreço imenso por ficar em casa, ainda que soubesse de cor todas as ruas da cidade.

Mike era um bom menino e todos gostam de bons meninos.

Richie era o completo oposto.
Tinha cabelos ligeiramente mais cacheados que raramente deixava alguém sequer respirar perto. Cortava os próprios fios sozinhos. Achava um passatempo incrível fumar escondido atrás da escola com Beverly, sua melhor amiga, embora nunca fosse admitir aquilo para ela ou mais alguém. Se irritava fácil e tinha uma dificuldade notável de guardar os próprios pensamentos para si, o que o fazia ser um dos garotos mais perseguidos por "valentões" pela cidade, e também ocasionava em muitos tapas na cabeça dados pelo pai, por falar tantos palavrões. Aliás, ninguém sabia onde ele havia aprendido a falar "tanta bosta", como a irmã mais velha insistia em observar.

Ele era míope, mais um motivo para ser zoado por aqueles óculos grandes demais aparados com fitas brancas e que faziam seus olhos parecerem maiores.

Ah, Richie também era gay, coisa que ele secretamente tinha certeza ser um dos únicos detalhes que partilhava em comum com o irmão gêmeo, apesar de ninguém já ter comentado em voz alta sobre aquilo na família e Mike jurar de pés juntos em pensamentos que não poderia ser daquele jeito.

Porque afinal, Mike era um bom menino, e ser tão diferente não se encaixava nos padrões de bom menino que todos tinham naquela cidade pequena e estúpida.

Mas mesmo com tantas diferenças e intrigas e a absurda habilidade de não conseguirem respirar no mesmo espaço sem Richie dizer com todas as palavras não repitiveis que iria matar Mike ali mesmo na sala de estar usando nada mais do que uma espátula de manteiga, ele era o único que sabia do segredinho sujo do gêmeo. O mesmo segredo que ambos compartilhavam e fazia de todos os seus desejos algo que ninguém poderia ver.

The Twins [byler & reddie]Onde histórias criam vida. Descubra agora