The Twins [byler & reddie]

[richie]

Correr não adiantava mais, Richie achava. Ainda sim ele dava tudo de si movendo as pernas para o mais longe que conseguia, o sangue esquentando tanto que parecia ferver nas veias e ele não pararia tão cedo. Não pelo menos antes de ter certeza de que estava em um lugar totalmente seguro.

Não que tivesse algum lugar na cidade que fosse suficientemente protegido de Henry Bowers, mas Richard estava acostumado a passar a vida fugindo dele, qualquer coisa servia.

E qualquer coisa, nesse caso, acabou sendo a frente da casa de Edward Kaspbrak, diante da qual parou, apoiando os braços nos joelhos e ofegando enquanto sentia o óculos escorregar pela ponte do nariz oleoso e fino.

Caralho.

Olhou pela rua. Tinha que ter outra opção; nem fodendo ele simplesmente bateria na porta de Eddie, não depois de tudo. O que era aquele ponto loiro descendo a rua? Certo, as chances de ser o bosta do Bowers eram altíssimas e ninguém ousaria abrir a porta para um pirralho ensanguentado naquela tarde ensolarada de sábado. Richie não queria que a surra que tinha levado fosse coroada com outro olho roxo.

Sem pensar muito, correu e olhou pela janela da casa de madeira, espiando e vendo que Nora Kaspbrak estava tirando sua usual e barulhenta soneca na poltrona da sala. Suspirou e limpou com o punho o sangue que escorria do corte pequeno no supercílio direto para o olho esquerdo, batendo algumas vezes na porta.

Richard Wheeler talvez fosse o garoto mais orgulhoso daquela cidade. Lógico que quando se tratavam de qualquer assunto de morte ou que fosse extremamente delicado para alguém e suas piadas tivessem passado do limite, ele pedia desculpas. Mas apenas em situações assim, todas as outras erram isentas a qualquer tipo de reconhecimento de culpa ou qualquer viadagem do gênero. Por isso era difícil lidar com ele; os amigos de Mike o detestavam porque essa armadura tão expressa de mal comportamento e egocentrismo o faziam parecer o completo oposto do que era.

Besta. Era outra palavra além de orgulhoso que poderia definir Richie. Entretanto não "besta" no sentido de "otário" - esse adjetivo só se aplicava à ele para o grupo de Henry -, mas sim em sinônimo de "Besta por Eddie Kaspbrak". Não existia nada do mundo que ele não pudesse fazer por aquele menino, apesar de o tratar como se o odiasse.

Era este o problema. A mistura de extremos tão absurdos era tóxica principalmente para o próprio Richie. O orgulho dele o mantida distante do pequeno Eddie, enquanto sua baitolice - como Beverly chamava - por ele o fazia ter a necessidade constante de se manter por perto.

E quando Richie estava perto de Eddie era apenas caos, porque como um adolescente desajeitado e sem muitas experiências sociais com pessoas de sua idade, além de outras características únicas de sua personalidade, o Wheeler ficava nervoso demais e alternativa plausível perfeita parecia ser falar.

E foi o falatório sem limites que o levou para a mais recente e feia das brigas que teve com o menino que, além de ser um de seus melhores amigos, ainda era alvo do seu primeiro e mais intenso amor.

Já tinha batido na porta algumas vezes, começando a fazer aquilo de forma frenética e sem fim, e quando estava quase desistindo e resolvendo voltar a correr, ouviu o rangido da madeira velha. Uma fresta bem pequena se abriu e ele viu os olhos castanhos e grandes de Eddie o encarando pelo espaço que ficava.

- Vai se foder, seu escroto - a voz do menino estava ficando um pouco mais grave pela puberdade e aquilo fez Richie querer sorrir, mas estava tão nervoso que apenas olhou para a rua, agitado.

- Eu também te amo. Me deixa entrar, ursinho.

- Ursinho nada, Richie! Você ainda tem coragem de aparecer na minha casa com a mamãe dormindo e... - sua fala ficou suspensa e ele abriu mais a porta de repente - Você tá sangrando?