Acordei com os raios solares maltratando os meus olhos, e a minha frente Luther estava sentado olhado directamente para mim. Ele deu um pequeno sorriso que não foi retribuído, acho que para variar eu havia acordado de mal humor
- Oi...- ele disse ainda sorrindo
- Oi- respondi enquanto levantava - Que horas são?
- Onze horas, você dormiu demais. Mas não se preocupe que hoje é sábado
- Graças à Deus - voltei a deitar
- Você não irá ver os seus pais como os outros?
- E porquê você não foi?
Ele deu de ombros e olhou para o nada. Seu olhar era distante, cheio de tristeza e mágoa. Por alguns instantes eu senti como se aquele Luther invejado e admirado que governava a academia estivesse se desmoronando
- Você nunca me falou da sua vida. Tipo, da sua família, amigos além dos que tem aqui e dos seus objetivos- falei num tom neutro
- Eu não tenho muito que falar
- Então eu quero escutar esse pouco que tem para dizer
Luther de debateu entre a cama, eu notava a sua falta de interesse sobre falar do mesmo assunto. Mas mesmo assim ele começou:
- Minha mãe desapareceu quando eu tinha quinze anos deixando eu e os meus irmãos nas mãos do meu pai bêbado e agressivo. Eu era o mais novo dentre quatro irmãos e também era o que mais apanhava. Minhas irmãs mais velhas sempre tentavam me defender, mas o esforço foi em vão. Então, todas elas decidiram refazer as suas vidas, e por isso me trouxeram para cá. Pelo menos aqui eu ficaria longe das pancadas do meu pai
Senti um terrível aperto no peito e um nó na garganta. Eu não podia acreditar que por detrás de um garoto que tanto se exibia havia uma alma ferida, um garoto encolhido mendigando amor
Levantei da minha cama sem dizer uma palavra sequer e sentei do seu lado encarando o seu semblante triste. Não pedi a sua permissão e dei um abraço nele, eu sabia que ele não precisava de palavras de consolo, apenas de um acto de consolo
Porque é isso que nós seres humanos muitas vezes precisamos.
Nada de : Eu sinto muito, Vai ficar tudo bem, Eu estou do seu ladoUm simples abraço dirá mil e uma palavras em diferentes línguas
*********
Tirei o dia para visitar os meus pais, eu estava morrendo de saudades deles, e eles agradeceram aos deuses por eu estar bem. Meu pai tentou me convencer a deixar de lado a vingança mas eu não podia, talvez ele esteja pensando dessa forma porque o Pietro não era o seu único filho, mas era o meu único irmão e eu me recusava de desistir dele
Aproveitei para visitar Esmeralda no hospital, e fiquei sabendo que o ferimento não foi tão grave quanto pareceu. A facada não atingiu nenhum dos seus órgãos vitais e dentro de dois meses ela poderia voltar para LaVey
Voltei para a academia quando o sol já havia caído, e a lua estava radiante ao lado das estrelas.
Desci do táxi e caminhei até ao portão principal, estava fazendo um frio cortante mesmo debaixo daquele casaco pesadoCaminhava por entre as árvores escuras e secas até escutar um pequeno barulho a minha trás, como se alguém estivesse pisando naquelas folhas secas. Olhei para trás e não vi ninguém, estava tudo escuro e silencioso, tentei forçar os olhos a enxergar além da escuridão mas era quase impossível, eu não conseguia ver nada nem ninguém.
Dei de ombros e virei para continuar a minha caminhada, mas o meu coração apertou assim que vi a silhueta de uma pessoa saindo da escuridão das árvores, a pessoa andava em passos lentos e parou a minha frente, numa distância de dez metros.
Era um homem de mais ou menos 1,78 de altura, vestia uma calça e casaco de moletom preto, e a cada segundo que passava, a cada momento que os meus olhos analisavam aquela estrutura, mais eu o conseguia assemelhar ao Pietro
Ele tinha a mesma estrutura física, a maneira de andar, e o cabelo bagunçado. Meu coração acelerou e os meus olhos ficaram marejados, eu não podia acreditar que era o Pietro.
Talvez eu estava ficando louco.
Poderia ser qualquer pessoa menos o meu irmãoEu queria toca-lo, saber quem ele era, saber se realmente o conhecia, queria tirar as minhas dúvidas. Mas o meu mundo desmoronou quando a pessoa a minha frente se moveu para voltar de onde veio. No conjunto de árvores escuras
- Não, espera!- disse caminhando até ele- Pietro é você?
Ele não respondeu, simplesmente caminhou entre as árvores e desapareceu no escuro
- Pietro! - minha voz estava embargada- Pietro volta pra mim, por favor Pietro
- Giovanni?- Luther apareceu- Giovanni o que você está fazendo aqui?
- Eu vi. Eu vi ele, eu juro que vi- falei ainda tremendo
- Quem você viu?- Luther pareceu preocupado com o meu estado
Olhei para o escuro e não havia nada, nenhum vestígio de vida humana.
Será que eu estava ficando louco?
Não, eu não estava louco, eu vi o meu irmão. Ele estava bem na minha frente
Ou não estava?
Será que eu estou mesmo louco?- C-Como você sabia que eu estava aqui?- tentei me acalmar para não parecer paranóico
- Eu não sabia. E além do mais, o inspector Elijah está aqui. Ele quer falar com você
Apenas assenti e Luther me acompanhou até às instituição. Ele falava várias coisas que eu nem sequer percebia, apenas olhava para trás, para o lugar onde aquela pessoa que eu julguei ser o Pietro estava.
E entre as árvores no escuro, eu podia jurar que vi uma silhueta que estava olhando para mim. Esse foi um dos momentos mais assustadores da minha vida.
Fechei os olhos e olhei para frente. Algo nessa academia não estava certo, e eu senti isso desde o dia que cheguei aquiEntramos na instituição que ainda estava vazia. Deixei que o Luther fosse para o dormitório e entrei na sala da directora Iracebeth, encontrei o Inspector Elijah sentado em um dos sofás tomando café
- Ainda bem que você chegou.- ele disse colocando a xícara de café na mesa e levantou- Tenho algo que você precisa ver
- Sério Elijah? Eu acho que já estou vendo coisas a mais. E não tenho certeza se quero ver mais alguma coisa
- Desde quando você me trata por apenas "Elijah"?- ele parecia intrigado
Sentei no sofá, suspirei e revirei os olhos
- Pula essa parte, por favor
Ele deu de ombros e tomou a sua postura inicial
- Giovanni, lamento informar que terá que ver isso e me dizer o que acha
Em cima da cátedra, ele tirou um envelope branco, e de lá apareceram quatro fotografias. Ele me entregou e quando eu olhei para elas quase apanhei uma queda de pressão
Nas fotos havia um garoto extremamente idêntico ao Pietro ajoelhado no túmulo do Pietro, como se estivesse chorando. Notava-se que as fotos eram amadoras e que foram tiradas á distância, apesar da escuridão da noite, ainda assim era possível reconhecer o Pietro.
Seus olhos fechados, seu nariz, seus lábios finos e o seu cabelo negro bagunçado. Sem sombras de dúvida que aquele era o Pietro chorando no seu próprio túmulo...
- Mas que merda é essa?- quase gritei
"Será que o Pietro está vivo?
Será que ele tem um irmão gémeo que só decidiu aparecer agora?
Ou será que aquilo é apenas o seu espírito que veio para se vingar de todos que o fizeram sofrer?Essas são as perguntas que não querem se calar. E não importa qual seja a resposta, apenas tomem cuidado e...
Fiquem ligados
LAVEY"
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LaVey
Mystery / ThrillerDepois do assassinato de um aluno, a mais prestigiada academia de teatro e cinema do país se tornou num verdadeiro lar de medo, tormento, assombrações, desespero, assassinatos e até suicídio. Alguns acreditavam ser o karma. Que o espírito do garot...