13 de janeiro de 2019 - parte 2

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- PUTA QUE PARIU - berrei, pulando pra trás e me agarrando na Billie enquanto nos viamos o filme. Pude perceber ela rir. Ah, que se foda, eu tô com medo.

- Calma gatinha, eu te protejo - ela disse sacana no meu ouvido, pude sentir meu corpo todo se arrepiar.

Continuamos vendo o filme, mas eu já não me sentia bem. Desde criança tenho medo do escuro, principalmente pelo meu passado. No susto seguinte que eu levei, senti meu coração ir pra boca, literalmente. Meus olhos lacrimejaram e eu saí da sala. Não basta ter medo do escuro, ainda sofro de ansiedade.

Eu abri a porta pro jardim da casa com urgência, sentindo meu peito pesado e minha respiração dificultada. É agora que eu morro.

Fui andando com pressa pro meio do jardim, pude ver que o dia já estava escurecendo, já que a luz do sol estava fraca, e a neve já mal podia ser vista.

- Calma, Arya, é só um filme, calma - falei pra mim mesma, fechando os olhos e tentando controlar minha respiração enquanto me beliscava. Eu, de alguma forma, precisava sentir que estava no mundo real pra não surtar mais ainda - Calma, por favor, calma - tentei respirar fundo novamente, mas parecia que o ar não entrava nos meus pulmões, e meu passado começava a me assombrar como em toda crise que eu tinha. Nisso comecei a chorar - Que vida de merda, não consigo assistir nem um filme de terror, eu sou uma...

- Ei, Arya, tá tudo bem? - eu ouvi a voz da Eilish atrás de mim. Ah não, no meu momento de fragilidade não.

- Só me deixa em paz que eu me viro - falei com dificuldade por causa da falta de ar.

- Arya, ei, ei, olha pra mim - ela agarrou minha mão e me fez parar de andar de um lado pro outro, enquanto fitava meus olhos. - Tá tudo bem, é só um filme. Você tá sentindo o que?

- Eu tenho transtorno de ansiedade - falei tentando puxar o ar, ainda inquieta - Tô numa crise de Pânico.

- Vem comigo - ela falou, me puxando com cuidado pra área da varanda, e me fez sentar num sofazinho que tinha ali - Eu vou pegar uma água pra você, me espera aqui.

- Não - segurei a mão dela, que se foda - Não me deixa sozinha. - ela me encarou surpresa pelo meu pedido, mas assentiu, sentando do meu lado.

- O que eu posso fazer pra você melhorar? Não sei muito bem o que pode funcionar com você - ela disse preocupada.

- Só..... Fica aqui comigo, não gosto de ficar sozinha nas minhas crises, eu já me acalmo, só não sai daqui - praticamente supliquei e ela assentiu.

Me endireitei no sofá, enquanto batia meus pés no chão e tentei respirar mais fundo, fechando meus olhos e imaginando o mar. Respirei uma, duas, três vezes, e logo meu coração começou a bater de forma normal de novo e minha respiração tornou a ficar tranquila. Não aguentei e comecei a chorar. Por que essa merda tem que acontecer comigo?

- Ei, Arya, o que foi? - Billie perguntou e eu continuava chorando com as mãos no meu rosto - Você quer ir a um hospital ou algo assim? Eu te levo agora, não tem problema - falou saindo do meu lado e se ajoelhando na minha frente - Olha pra mim, pelo amor de deus, o que tá acontecendo?

- Não é como se eu confiasse tanto em você pra falar dos meus problemas, Eilish. - falei rude, virando o rosto pro outro lado e tentando secar minhas lágrimas que não paravam de sair.

- Eu sei que você não me conhece, e muito menos gosta de mim. Mas eu não teria motivo pra contar isso pra alguém ou zoar com você. Sabe, Arya, já passei por muita merda na minha vida e sei que, as vezes, desabafar te faz se sentir melhor - ela deu uma pausa, e eu encarei ela, seus olhos azuis estavam escuros - Eu desabafo na minha música, então se você precisar desabafar de alguma forma, saiba que pode ser comigo. Tenha certeza que eu vou te entender melhor do que ninguém. - terminou de falar e eu continuei a encarar ela. Talvez ela tenha razão, dizem que desabafar com estranhos as vezes é melhor do que com conhecidos.

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