Chapter 1: Puppy

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Rainfort, Connecticut, Estados Unidos. Setembro de 2020.

Desliguei meu celular pela última vez e o guardei no porta-luvas do carro. Eu tinha lido extensamente o manual de regras da Saint Dominic Academy For Boys, então eu sabia que aparelhos celulares não eram permitidos por lá. Não fazia muita diferença, na verdade. Eu não tinha com quem falar. Talvez eu fosse sentir falta das leituras que fazia pelo aparelho, mas eu podia facilmente substituí-las por livros da extensa biblioteca da nova escola.

— Só mais dez minutos, master River. — Eu ouvi a voz de Carlos dizer.

Carlos era o chauffeur do meu pai desde antes de eu nascer. Ele tinha trabalhado também para o meu avô paterno, o qual eu não cheguei a conhecer. Eu tinha vagas memórias de Carlos, de quando era pequeno e meus pais ainda estavam juntos, mas nada muito vívido.

Meus pais ficaram juntos por seis anos. Três antes do meu nascimento, três depois que eu vim ao mundo. Minha mãe tinha nascido no Japão, mas fora criada na Inglaterra. Seus pais, meus avós maternos, eram médicos e pesquisadores japoneses que durante boa parte da vida viveram e trabalharam na Europa. Eles agora viviam uma aposentadoria tranquila em Okinawa, e eu nunca os via. Já meu pai era um típico all-american boy, formado em um college da Ivy League e herdeiro de um império de pesca. Os dois se conheceram durante o intercâmbio do meu pai na Inglaterra, e quando decidiram se casar, minha mãe se mudou com ele para os Estados Unidos. Eu nasci na América, mas fui com a minha mãe para o Japão quando meus pais se separaram. Foi lá que eu vivi os doze anos seguintes da minha vida, e era lá que eu considerava minha casa.

Afastei meus pensamentos e assenti com a cabeça através do espelho retrovisor. Eu estava sentado no banco de trás. Meu pai nunca se sentava na frente, ele dizia que não era correto, eu me lembrava. Eu imaginava que havia algum aspecto de manutenção de hierarquia nessa atitude, o que eu compreendia.

Eu sabia lidar bem com hierarquia e disciplina, eu era bom nisso. A St. Dominic Academy não parecia ser muito diferente das escolas que eu havia frequentado no Japão, talvez um pouco menos desafiadora do ponto de vista acadêmico, se a grade curricular deles era algum indicativo. Ou talvez esse fosse um pensamento pretensioso da minha parte.

Começava a anoitecer. Chovia bastante do lado de fora, o que não me permitia ver meus arredores com muita clareza. Eu conseguia enxergar somente um bocado de árvores por todos os lados, sinal de que estávamos entrando em uma área bastante isolada. Notei também quando atravessamos uma ponte, observando o lago abaixo de nós por alguns segundos. Eu havia lido que aquele era o Lake Myriam, o qual cercava toda a propriedade da escola, tornando-a uma espécie de pequena ilha. A ponte era elevada durante a noite, e só era abaixada pela manhã. Eles diziam que se tratava de uma tradição datada da fundação da instituição, mas eu imaginava que devia ser para conter pupilos que tentassem fugir às escondidas.

Assim que o carro terminou de atravessar a ponte, eu consegui ver parte da estrutura da escola despontando através das árvores que a cercavam. A St. Dominic Academy existia desde o século XVIII, fundada pela família Dumas. O castelo que servia de berço para a instituição era ainda mais antigo, datando da metade do século XVII, e considerado uma construção única nos Estados Unidos, por sua arquitetura e idade. Eu definitivamente havia feito meu dever de casa quanto à história da academia.

A estrutura colossal me deixou sem fôlego por alguns segundos. Conforme o carro se aproximava mais e mais, eu conseguia ver as imponentes paredes de pedras, torres, janelas, luzes. Tudo ali exibia um ar de tradição e secularidade. Aquela escola existia muito antes de mim, e continuaria a existir muito depois.

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