Chapter 3: Son of a Preacher Woman

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Rainfort, Connecticut, Estados Unidos. Setembro de 2020.

O som repetitivo do apito no meu ouvido começava a me irritar. Pi. Pi. Pi.

Tirei os aparelhos auditivos e por alguns segundos eu só ouvi o som do silêncio. Não fazia muita diferença, o único som ali era o da chuva forte caindo do lado de fora. Eu não sabia quanto tempo demoraria para eu me acostumar às chuvas daquele lugar. Nós não tínhamos chuvas como aquelas no Texas.

Não tinha mais ninguém na pequena capela da escola. Nunca tinha. Eu imaginava que os outros garotos só viessem ali quando era obrigatório, mas eu gostava da calma daquele lugar. Eu nunca tinha visitado uma capela católica quando era pequeno, por causa dos meus pais, mas eu gostava de como me sentia ali. Meu pai dizia que Deus estava em todos os lugares, então Deus também devia estar ali.

Meus pais eram pastores de uma igreja protestante no Texas. Mais do que isso, eles eram um casal de celebridades na internet. Os dois tinham um canal no Youtube onde falavam sobre a sua fé, família, relacionamento e a maneira como Deus estava presente em todos esses aspectos da vida deles. Essa era a nossa vida desde que eu nasci, então eu sempre achei natural ver meu pai ou minha mãe com uma câmera na mão.

Quando eu cresci um pouco, percebi que boa parte da fama deles na internet era porque os dois eram muito bonitos. Meus pais tinham um relacionamento perfeito, abençoado por Deus e de acordo com as leis Dele. Eles tinham até mesmo "superado o desafio" de ter um filho com uma deficiência. Cresci ouvindo como eu era uma lição de Deus para os dois, que eu os ensinava a serem humildes e persistentes.

Eu amava os meus pais mais do que tudo. E eu acreditava que o relacionamento deles era tão perfeito quando eles diziam. Eles nunca brigaram na minha frente, nunca. A minha infância foi boa, os dois sempre me amaram muito. Não tinha nada de errado com eles.

E então, um dia, minha mãe desapareceu. Eu me lembrava com todos os detalhes daquele dia. Minha mãe e eu tínhamos combinado de escolher um bolo pro meu aniversário na semana seguinte. Eu iria completar nove anos. Mas daí ela não veio me buscar na escola. Quando o meu pai chegou, umas horas depois, eu sabia que tinha alguma coisa errada. Eu me lembrava de cada momento e de cada palavra daquele dia.

Eles nunca encontraram a minha mãe, mesmo com todo o apelo público que o caso teve. Por meus pais serem relativamente famosos, o desaparecimento dela rendeu notícias em vários jornais, especialmente no Texas. Muitas pessoas se juntaram nas buscas pela cidade e por cidades vizinhas.

Por outro lado, meu pai rapidamente se tornou o principal suspeito, e foi a partir disso que eu vi tudo o que falavam de ruim sobre eles na internet. A quantidade de pessoas que gostava dos meus pais era a mesma de pessoas que não gostavam deles. Eu sempre tentei impedir que o que falavam me influenciasse sobre a maneira como eu via os dois, mas uma parte de mim sempre se perguntaria se havia alguma verdade. Seria possível que o relacionamento deles não fosse perfeito como parecia? Seria possível que o meu pai tivesse alguma coisa a ver com o desaparecimento da minha mãe?

A vida continuou. Já fazia um pouco mais de cinco anos que a minha mãe tinha desaparecido. Aos poucos o sumiço dela se tornou apenas outro dos desafios que o meu pai teve que enfrentar na sua jornada cristã. A popularidade dele na internet se multiplicou e, embora ele não fizesse vídeos com a mesma frequência de antes, o canal ainda existia, ainda com milhões de seguidores.

Foi ideia dos meus avós, os pais do meu pai, me enviar para a St. Dominic. Meu pai e eu conversamos sobre o assunto, e na verdade não fazia muita diferença pra mim. Desde o desaparecimento da minha mãe, meu pai gastava mais tempo em missões em outros estados (ou países) do que em casa, então eu não me importava de ser enviado pra um colégio interno.

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