Capítulo 18

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Meu coração tem ficado apertado,
Pela ânsia de lhe ver,
Eu sei que isso parece errado,
Já que estou tão perto de você.

Falta coragem para expressar o que sinto,
Já que é claro, somos só amigos.
Mas sobre o que eu desejo não minto,
Queria que o deixasse para ficar comigo.

Para: Yolanda Morgan

Cada gota é importante para uma grande queda d’água, elas são imprescindíveis para formar o todo, e assim também funciona com a nossa mente e o nosso espírito

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Cada gota é importante para uma grande queda d’água, elas são imprescindíveis para formar o todo, e assim também funciona com a nossa mente e o nosso espírito. Cada pequena atitude ou gesto, forma o que chamamos de sentimento. Ele não é baseado em perfeição, mas sim, no tanto que conseguimos sentir por alguém pelo conjunto todo, seja ele bom ou ruim, para que nós amemos ou odiemos.

Não sei exatamente quando as atitudes de Derek começaram a formar o “todo” sobre ele, mas o que vivenciamos à beira da cachoeira teve muito a ver com o sentimento que despontou no meu coração, e era bom. Diferente do que eu sentia por Dominic, isso era estranho já que eu procurava o meu melhor amigo, nele. Mas não vou negar que estava deveras hipnotizada pela semelhança e pela preocupação que demonstrou comigo.

— Derek — chamei seu nome, depois de caminharmos um longo trecho sem dizer nem ao menos uma palavra. — Obrigada... Pelo que fez por mim.

— Ah, não foi nada. Quer dizer, eu acho que significou bastante para você, e eu acho que isso é bom — respondeu sem me encarar.

— É.

Eu não sabia como continuar a conversar sem tocar naquele assunto. Poderia falar qualquer coisa sobre o clima ou as compras que fez, mas seria estranho e desconfortável, então o silêncio do restante do caminho foi de mais proveito.

Assim que chegamos, meu tio, que estava consertando uma das estacas da cerca, me encarou de soslaio e semicerrou os olhos. Eu sei que ele pensava que algo poderia ter acontecido entre nós dois e, visivelmente, não gostava nada da ideia.

Dois dias depois, levantamos bem cedo, Derek trocou de roupa e foi ajudar meu tio a arrumar o que ainda faltava na cerca e no portão, eu fui tomar um banho para tentar encarar uma ligação difícil. Saí do banheiro com os cabelos molhados, minha jardineira florida e uma camiseta branca por baixo. Peguei o celular que estava sobre a cama do quarto e selecionei o contato de Kalel.

Pressionei os lábios e contorci a boca para o lado direito, pensando se era realmente aquilo que eu queria. Uma briga que se estenderia por nada. Depois de bater algumas vezes com as unhas curtas na traseira do aparelho, decidi ligar. Meu polegar foi certeiro no número e comecei a ouvir o som da chamada.

— Alô.

— Oi, amor. Sou eu — falei. — Está na estrada, não é? Depois eu li...

Não, não, não, espera! Não sou eu que estou no volante agora — retorquiu. —  Pode falar. Eu estava preocupado com você. Não falou comigo desde que eu saí.

— Não queria te incomodar ou te atrasar — menti. — Você tá bem?

Com saudade de casa e de você. Mas bem. E você, paixão? Está tudo bem aí?

Suspirei e umedeci os lábios antes de continuar.

— É, na medida do possível. Preciso te contar uma co...

Amor, desculpa, vamos parar em um posto pra abastecer, tenho que desligar o telefone. Te amo, até daqui a pouco.

— Não, Kalel. Espe... — Fui interrompida pelo barulho da chamada encerrada.

Deus é testemunha de que eu quis contar.

Abandonei o celular de novo sobre a colcha azul e acariciei o tecido que ainda tinha o cheiro do meu melhor amigo, enquanto olhava para a foto do meu pai no criado-mudo. Estava começando a sentir o peso da saudade outra vez.

— YOLANDA, VEM AQUI! — Era John.
Levantei de onde estava, dei uma última olhada para o telefone e segui rumo à sala.

— Me chamou, tio?

Ele estava na porta, escorado, ofegando enquanto algumas gotas de suor escorriam pelo seu rosto.

— Vai lá na cidade com o rapaz e compra um pacote de prego pra mim.

— Ué, mas... Ele não pode ir sozinho?

— É porque eu vou tirar na minha conta, e só você é autorizada.

— E porque o senhor mesmo não vai? — retruquei.

— Vou ir serrando uns pedaços de madeira aqui pra adiantar. Colabora comigo, Yolanda, por favor — pediu, mas com um tom de ordem que fazia lembrar meu pai em certos momentos.

— Não é mais fácil ele ir lá, comprar com o próprio dinheiro e depois o senhor paga ele aqui? Ou melhor, dá o dinheiro pra ele. Aliás, ele vai morar aqui também, é um saco de pregos que vai beneficiar a ele também. Poderia pagar — eu disse sem nem mesmo pensar, e me arrependi no mesmo minuto, quando ele terminou de subir as escadas com os braços cruzados, escutara tudo que eu falei.

— Tem razão — disse ele, e eu ruborizei.

— Ai, me desculpa, eu...

— Não, Yolanda. Não tem que se desculpar, o que você disse é verdade e eu disse isso ao seu tio também, que eu iria pagar, não é, John? — Olhou para meu tio.

— É que... É que eu...

— Deixa pra lá — falei, percebendo algo de estranho no ar, algo que eu iria desvendar depois. — Depois a gente conversa, tio. Vamo’, Derek. — Saímos da sala enquanto eu ainda encarava John.

Entramos no carro e assim que a cópia mais velha de Dom deu partida eu questionei:

— O que foi aquilo?

— Seu tio não precisa de pregos, precisa de um tempo sozinho — respondeu e eu ergui uma das sobrancelhas. — Ele estava falando sobre o seu pai, daí a voz ficou embargada, só que eu acho que ele não é do tipo que chora em público. Daí ele me mandou comprar os pregos, só que o encaixe da estaca é com parafusos. E parafusos ele tem aos montes lá na mala de ferramentas.

— E onde eu entro nisso, ou melhor, saio?

— Como eu disse, acho que ele precisa chorar, mas não quer ninguém por perto. Então ele inventou essa desculpa, mas eu entendo.

Ficamos por alguns instantes só escutando o barulho dos pneus na estrada de terra, mas Derek sempre tinha o que dizer, isso às vezes me irritava, me irritava como Dominic.

— Você gosta de poesia, Yolanda? — perguntou, tirando os olhos do caminho por um instante.

Eu virei o pescoço para responder:

— Poesia é minha vida, eu amo. Parece que sempre traduzem o que nós sentimos.

— Hm — ele resmungou e voltou a me encarar rapidamente. — Quando voltarmos, posso te mostrar uma que eu fiz?

— Você? Nossa, não sabia que era poeta.

— É, eu não sou. Mas... Escrevo algumas coisinhas. — Deu um sorriso de lado.

— Claro, assim que chegarmos, você me mostra — falei, correspondendo o gesto doce e, nesse momento, meu celular, que estava sobre minhas pernas, tocou.

Eu apenas desliguei a chamada e expirei.

— Alguém importante?

— Não, era... — Olhei para a tela com a chamada recusada e o nome de Kalel. — Era restrita. — Sorri para ele. — Me fala mais sobre os seus poemas.

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