Capítulo 34

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A sala estava fria, era escura e fechada, me fazia sentir um pouco de nervoso, mas me controlei. John e minha mãe estavam no canto, ela segurava minha bolsa nas mãos, enquanto ele roía o canto das unhas.

— Você tem alguma preferência, Yolanda? — perguntou o médico, enquanto deslizava o aparelho sobre o gel frio na minha barriga.

— Não. Eu só quero que o bebê...

— Venha com saúde? — completou minha frase com uma pergunta.

— Que ele seja feliz — falei. — É isso que importa.

— E os avós, querem menino ou menina?

— Ele não é meu pai — falei sem pensar e vi a face de meu tio esmorecer. Meu comentário não foi o mais oportuno. — É meu tio.

— Eu quero uma mocinha pra eu mimar! — disse minha mãe.

— E o senhor? — o médico perguntou.

— Acho que eu sou do time da felicidade — John respondeu e deu uma piscadela para mim.

— Bom, então que venha um menininho muito feliz! — contou.

Eu abri um sorriso. Era a primeira vez que me sentia realmente bem enquanto grávida. Era o meu pedaço de amor, uma vida que crescia em mim, o meu menino.

— Já sabe o nome? — perguntou o médico.

— Sim, mas eu queria esperar pra dizer. Ainda não é uma certeza — repliquei.

— Está tudo certo com o bebê, Yolanda. Pode ficar tranquila, está bem? Continue fazendo o pré-natal e está tudo certo.

Lhe lancei um sorriso afetuoso e esperei que ele me desse o papel para limpar o gel. Ajeitei o short que vestia por baixo do vestido e me recompus. Minha mãe tinha lágrimas nos olhos, era o seu primeiro neto.

Saímos do consultório e eu segui calada até em casa. Os dois, na parte da frente do veículo, falaram sobre a criança, sobre o enxoval e sobre o parto. Eu ainda estava esmorecida pelo fato de que Kalel não quis saber de nós. Eu sei que tinha culpa, mas a criança, não.

Desci do carro, com a bolsa sobre o ombro, e entrei rapidamente, estava com muita vontade de ir ao banheiro. Depois que saí, fui até meu quarto, abri a janela e me sentei na cama, olhando para fora. Senti meu telefone vibrar antes de escutar seu toque, fiquei surpresa quando vi quem era.

— Oi... Derek.

— Yolanda, posso falar com você?

— Olha, eu não quero que...

Só quero saber como você está — me interrompeu. — Você e o bebê — completou.

— Estamos ótimos. Obrigada, tenho que desligar.

Não, não, não, espera! — pediu. — Yolanda. — Fez uma pausa. — Tem certeza de que não é meu?

— Absoluta, Derek.

Precisa de alguma coisa? Fiquei sabendo que o Kalel está namorando.

— Não. Não preciso. O relacionamento dele é problema dele. Ele vai ser o pai que nosso filho precisa, não importa com quem ele esteja — menti, eu sabia que aquilo não era possível. — Era só isso?

Não, eu... Esquece. — Desistiu de falar o que quer que fosse. — Que bom que estão bem. Me liga.

Desliguei o telefone sem mesmo dizer "tchau". Sempre questionei o motivo de as pessoas fazerem isso nos filmes, e eu estava entendendo. Nem sempre uma despedida soa bem aos nossos ouvidos, certas vezes essa despedida nem sai, porque ela não cabe no momento. Pus o celular sobre o colo e olhei novamente para as nuvens, pela janela, mas o senti vibrar novamente. Atendi sem ver quem chamava, estava sem paciência.

— Olha, eu não...

Alô. Yolanda?

— Sou eu — respondi.

Era uma voz feminina do outro lado.

Aqui é Rose... Rosemary.

— Perdão, quem?

Rosemary. Eu sou... — Ela pensou antes de falar, como se escolhesse minuciosamente as palavras. — Você é a ex-namorada do Kalel, não é?

— Ah! — Revirei os olhos. — Entendi. Você é a mocinha, não é? A que está com ele agora.

Ela demorou um pouco antes de dizer:

Sim. Olha, e-eu juro que não quero nenhuma confusão ou satisfação. Só quero conversar contigo. Eu prometo que se você me pedir para ir embora, seja qual for o momento, eu vou.

— Não sei se isso é uma boa ideia – retorqui.

Por favor, Yolanda. Eu vou até aí...

— Tudo bem. — Cedi. — Pode vir. Só me avisa a hora, ultimamente eu tenho dormido pelos cantos.

— Agora mesmo. Eu acabei de sair de uma entrevista de emprego, vim para casa e decidi que preciso te ver.

— Está bem — falei. — Pode vir.

Até mais, Yolanda.

— Até mais, Rosemary.

Virei o pescoço para os lados e fechei os olhos, esperando que aquela sensação ruim passasse, mas ela não passou. Foram alguns minutos em uma luta contínua, interna.

— Hey! — Minha mãe apareceu na porta. — Acabei de passar um café. Quer?

— Não, mãe, obrigada. Mas se puder fazer um chá. Daqui a pouco vou receber uma visita.

Ela ergueu as sobrancelhas.

— Rosemary — falei. — A namorada do... — Abaixei o olhar. — Você sabe.

— E o que ela vem fazer aqui?

— Não sei. — Me levantei. — Mas está tudo bem. Eu vou recebê-la.

— Vou preparar o chá. — Minha mãe caminhou até mim e me abraçou. — Eu amo vocês. — Pôs as mãos em minha barriga.

— JUSTINE! — Meu tio chamou.

— Vou lá ver o que ele precisa. Descansa. — Ela ficou na ponta dos pés e deu um beijo em minha testa.

Descansar... Como se eu pudesse. Não tirei os olhos do telefone e da janela. Dava para ver uma parte da outra rua, e eu esperava que Rosemary aparecesse de lá. Não foi assim. Estava imersa no meu próprio nervosismo quando ouvi a campainha.

— Eu atendo! — falei.

Caminhei devagar até a porta da frente e respirei fundo. Girei a maçaneta e a puxei com calma. Revelando, aos poucos, a figura doce do outro lado.

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