Capítulo 16

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Sua presença me torna melhor,
E todos os dias quero teu sorriso.
Seus olhos amendoados nos meus,
Menina, não é segredo, de ti eu preciso.

Para: Yolanda Morgan

O sacolejar do carro bagunçava bem mais que as malas no banco de trás, meus miolos estavam sendo remoídos dentro da cabeça, o celular dançava em minhas mãos suadas, John olhou para o retrovisor e observou o automóvel de Derek, antes de me encarar ...

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O sacolejar do carro bagunçava bem mais que as malas no banco de trás, meus miolos estavam sendo remoídos dentro da cabeça, o celular dançava em minhas mãos suadas, John olhou para o retrovisor e observou o automóvel de Derek, antes de me encarar e perguntar:

— Esse rapaz é muito abusado — falou, com a face contraída.

— Eu acho que ele só está magoado, tio. E não tem com quem contar, só isso — respondi, olhando para o lado de fora.

— Era pra ele te convencer e não se oferecer pra vir junto.

— Tio, por favor. Tenta ser agradável. Ele 'tá passando por um momento difícil. Assim como você, ele perdeu um irmão. Não está doendo em você?

Ele respirou fundo, infeliz com meu questionamento.

— Então, é a mesma coisa. Eu não estou bem, você não está, e ele também não. Não sei o senhor, mas eu não quero ficar trancafiada naquela cabana com esse clima estranho.

— Tudo bem. Mas só porque está me pedindo. — Ele bufou e olhou novamente para o retrovisor. — Ele não se parece nada com o Dominic.

— Não? — Franzi o cenho. — Eles são quase idênticos, no rosto, nos olhos, nos traços do nariz, o sorriso...

— Parece que andou prestando bastante atenção na cara desse rapaz.

Sua voz expressava descontentamento e, na verdade, eu não compreendi aquele tom utilizado. O que ele estaria insinuando?

— Tio, meu pai e meu melhor amigo morreram não faz muito tempo. Minha mãe não está aqui e meu namorado também não. Eu estou ocupada demais sentindo saudade, não tenho tempo pra reparar em ninguém. Eu só sei porque me lembra o Dom, e fim — retruquei, já estava nervosa com tudo aquilo.

Quando saímos da cidade, meu tio mal olhou para o rosto de Derek, e eu detestava que as pessoas se tratassem daquela forma. Se podemos ser educados, por que tratamos os outros mal? Se temos noção do constrangimento que causamos nos outros, por que permitimos que nossas ações machuquem quem já está sofrendo? Isso não era do meu feitio, e ali eu decidi que faria de tudo que estivesse ao meu alcance pra que o irmão do meu melhor amigo ficasse bem. Mesmo que isso acabasse comigo por dentro.

— Tua mãe te ensinou a ser desbocada assim? — Tio John brincou e soltou uma risada.

Senti toda aquela sensação pesada deixar minhas costas, ele era bom nisso, em virar o jogo.

— Tenho que falar com ela. Dizer que está tudo bem.

— Quando chegar lá eu vejo se tem sinal de telefone. Se não tiver, eu mando ligarem o fixo hoje mesmo.

Percebi que já estávamos bem perto e, pela primeira vez, fiquei nervosa. Perderia minha privacidade em pouco tempo, não estaria mais no meu quarto escuro. Dividiria agora uma casa isolada, com Derek. Não sabia exatamente o que estava sentindo alem disso, mas com certeza não era bom.

O veículo foi parando devagar, e eu engoli seco.

— Menina, vai na frente, abre o portão e a porta. Eu vou estacionar e pegar as malas. Aproveito e ajudo o rapaz.

— Tio... — O encarei de soslaio. — Por favor, olha o que eu te ped...

— Fica na paz, Yolanda. Eu não vou tratá-lo mal, se é o que está pensando.

— Olha lá! Estou confiando em você — disse e senti que Derek havia parado bem atrás de nós.

Desci do carro, abri o portão para que eles estacionassem do lado de dentro, perto do jardim, e então fui com pressa até a porta.

Meu coração deu uma leve travada, lembrei do dia faxina e meu estômago revirou em pensar que não eram mais os dois ali comigo. Eram pessoas muito parecidas, mas não era meu pai, não era meu melhor amigo, não era a minha realidade.

— Yolanda — gritou John, quando percebeu que estagnei com a mão na maçaneta. — Tá tudo bem aí?

Assenti com a cabeça primeiro, antes de qualquer som deixar meus lábios, por reflexo.

— Sim, tio John. Eu só... Só tive um probleminha com a fechadura. — Levantei a chave e a balancei entre os dedos. — Mas já resolvi. — Dei um sorriso forçado.

Os dois voltaram a tirar as coisas do carro, e eu abri a porta. Senti cheiro de lavanda e madeira antiga, mas o que mais me incomodou foi o frio. Abracei meu próprio corpo e fui até uma das janelas. Precisava arejar a residência, mesmo que aquilo deixasse o ambiente mais propício a um resfriado.

— Yolanda. Onde eu posso deixar isso? — Derek me perguntou, eu ainda estava na janela, e ele subia os degraus da varanda.

Carregava duas malas grandes e uma bolsa. Eram minhas.

— Por favor, segundo quarto, no corredor, à direita.

Terminei de encaixar o vidro no suporte e o encarei, enquanto passava pela sala, com os braços fortes destacados ainda mais pelo peso que carregava.

— Quer ajuda? — ofereci.

— Não precisa. Acho que seu tio quer que você faça alguma coisa... Tem a ver com um balde, não sei. — Continuou andando até o outro cômodo e eu o segui.

— Deixa eu te dizer onde você vai ficar, de uma vez. Olha — Apontei para o quarto em frente ao meu. — Pode pôr suas coisas naquele armário

— Obrigado, Yolanda. Aliás, me deixa falar uma coisa, antes do seu tio entrar. — Ele se aproximou mais de mim.

— Não precisa se explicar.

— Eu quero pedir desculpas. Eu não deveria ter me intrometido. É que eu não quero ficar longe dos meus pais, e nem na mesma casa que eles. Quando seu tio falou desse lugar, parece que foi como uma explosão na minha cabeça. Eu nem pensei, só... Só desejei vir também.

— Isso foi muito rápido — falei. —Mas é necessário. Tragédias pedem medidas desesperadas, Derek. Essa é a nossa.

Ele calou.

Yolanda!

— Já vou, tio John! — gritei de volta, sem tirar meus olhos dos olhos de Derek.

Saí de sua presença, com os braços cruzados. Só nesse momento eu raciocinei e percebi que seria uma grande batalha contar a Kalel o que estava acontecendo em sua ausência. Principalmente sobre minha mudança e o novo hóspede. Eu realmente tinha muitos problemas a resolver, não tinha tempo para deitar e chorar, que era o que eu realmente queria. Havia dois corações, dois corações amargurados que eu precisava curar. Isso, tirando o meu da conta.

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