NO INFERNO

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"- Bora, desgraçado filho da puta! Quanto mais rir, mais vai levar pau!

- Hmmm! Pau??? Cuidado, eu posso gamar! - grunho com a sua resposta quando joga minha cabeça contra a grade da cela. Vejo estrelas. Dói pra diabo e morro por alguns segundos. - Eita! Que pegada gostosa!!!

- Maldito! Vou te matar!!! - sua sombra se avança contra mim, então travo o maxilar instintivamente.

- Aê, jão!!! Ele disse... tu sabe... só um carinho! Tem aquela doutora, ele não pode desaparecer aqui dentro. - o marmanjo metido á pau mandado do diretor da Casa de Detenção, tinha bom senso. Respiro pela boca.

Vacilão. Eu teria matado. Odeio acatar ordens, fossem elas de quem fosse.

Dá um de malandrão, mas é um fraco! Fracote!

- Veja aí... foi salvo, hein brow!? Amanhã eu volto, seu merdinha. - pisco por causa do sangue que escorria e me cegava.

- E-eu não vejo a hora. Já tô com saudade! - murmuro com a companhia da falta de ar mais o chão frio, e levo uma cuspida na bochecha.

- É aí o teu lugar, não se esqueça disso. Mexeu com peixe grande e eu estou amando esse meu novo trabalho! Continua rindo!

- Chorar é que eu não vou, não é, machão!? - murmuro só quando eles saem e recebo ajuda quando tento me levantar sem sucesso algum.

- É verdade o que dizem, você é difícil de matar! - a silhueta diz, esfrega um pano podre nos meus olhos e então posso vê-lo.

Brutamontes, alto, pele brilhante tão negra quanto a noite... uma montanha musculosa. Estava literalmente fodido. Era muito homem junto naquela porra, eu precisava sair fora daquele inferno.

- Oi, super-homem, você demorou!

- Não meta o engraçadinho comigo. - ergue o queixo ainda me auxiliando a se sentar no que devia ser uma cama. - Vim por um pedido da doutora. Por ela, e só por ela, tu vai entrar pro meu grupinho pra parar de apanhar feito um maldito! Já ultrapassou a cota de curativos lá do consultório, tem que deixar um pouco para os outros detentos! Chegou a cavalaria, comemore, mas vê se tira uma comigo!

- Tá, mas está atrasado, eu não queria saideira, por que não interrompeu a nossa reuniãozinha antes da parte onde minha cabeça se encontra com a grade???

- Porque é verdade o que dizem, tão de marcação contigo, mas você merece a atenção!

- Eu sou um amorzinho! - não resisto e me encolho mentalmente com o suspiro que ele dá. - Foi mal, são os chutes na cabeça...

- Vou te ensinar umas coisas a respeito desse lugar. - se apoia nos joelhos me fazendo engolir seu bafo de pasta de dente. - A primeira delas é sobre como cometer suicídio: continue com as gracinhas.

- Sem gracinhas. - beijo os dedos como posso. - Zero gracinhas, serei um homem sério. - estendo a mão suja. - Zé! - ignora minha mão suja.

- Fique vivo até amanhã.

- Eu vou tentar, amigo.

- É Áries. E eu não sou seu amigo."

JOSÉ - Disponível até 21/11/20Onde histórias criam vida. Descubra agora