NA CASA AMARELA

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Respira.

Inspira devagar por dez segundos. Segura dez segundos, expira por mais dez, mantenha os pulmões vazios por dez segundos. Inspira dez segundos, e repete. Até isso passar. Até a dor cessar. Até o medo ir embora.

Ninguém te odeia. Você não é um problema. Você não está incomodando. Você não é um estorvo, e não, não está morrendo. Não está enfartando. A dor no peito, o braço formigando, os batimentos acelerados, a sensação de morte iminente, o desespero e a agonia que parecem sentimentos personificados ali aparentemente tentando te enforcar, não querem dizer que você está morrendo.

Respire fundo. Pense em outra coisa. Relembre um momento feliz. Se lembre de quem você é.

Até isso passar. Até a dor cessar. Até o medo ir embora.

— Respira, amor!

Inspira devagar por dez segundos. Segura dez segundos, expira por mais dez, mantenha os pulmões vazios por dez segundos. Inspira dez segundos, e repete. Até isso passar. Até a dor cessar. Até o medo ir embora.

— Até o medo ir embora... até o medo ir embora...

— May...

— Eu tô enfartando! Merda, eu não quero morrer agora!

— Você não está morrendo, May!

— Me leva pro hospital.

— Você namora um doutor em psicologia, eu estou aqui, e sei como se sente! Você está bem, não está enfartando. Você está tendo uma crise, teve um dia extremamente difícil hoje, e nos últimos dias tem ficado ansiosa. Está tudo bem, você está bem. Respira, isso, dez segundos, só dez segundos, isso... tudo bem, amor, tudo bem...

— Se eu morrer aqui será culpa sua! — ouço quando ri.

— Você é a mulher mais foda que já conheci, não vai morrer fácil, nem de velhice. Você será eterna! Não chore, você está bem. Vai passar, eu prometo. Quer tomar meio comprimido?

— Vai passar a falta de ar???

— Sempre passa, você sabe! — ele se estica, coloca um pouco de água no copo que descansava na mesa de cabeceira, e me oferece junto com o anti-alérgico que me fazia dormir. — Pronto... agora deite-se, e descanse, continue respirando...

— Não consigo. Deixe-me levantar, preciso andar. Preciso... fazer alguma coisa.

— Vida, eu tô muito cansado hoje. Você sabe que basta fazer aquele exercício que eu te ensinei, e você vai ficar bem. Você sempre fica bem. Isso acontece toda semana, e sempre passa, vai passar agora, basta relaxar um pouco.

— Você pode ficar aí, descanse. Eu só preciso de um momento! — me sento na cama e tento recuperar novamente o fôlego, mas não consigo.

Eu nunca conseguia. Respirar nunca era fácil como respirar.

— Já tomou o remédio, vai acabar adormecendo no sofá de novo. Fique aqui, May, isso já vai passar, amor... — murmura de olhos fechados, com um braço na nuca, dá uma longa expirada, a mão que acarinhava meu antebraço cai na cama, e então apaga.

Ele sempre apagava, e era compreensível. Gustavo tinha atendimento no hospital que duravam horas, mais ainda quando faltava médico. Não sabia como ele atuava exatamente, mas ele sempre chegava exausto por também ter uma clínica. Ele sempre apagava. Sempre. E eu infelizmente nunca apagava.

JOSÉ - Disponível até 21/11/20Onde histórias criam vida. Descubra agora