Eu abri os olhos, sentindo as pálpebras pesarem uma tonelada, e dei-me conta de que estava em um imundo banheiro público. Meus braços ainda abraçavam a privada fétida onde minha cabeça repousava.
Levantei-me, sentindo uma lancinante dor de cabeça que parecia pulsar em minha testa. Inalei aquele odor pútrido e cambaleei pela porta quebrada, minha visão estava turva, me sentia muito desorientado, como quem acorda depois de uma noitada épica com muito álcool.
Cambaleei como um maldito zumbi que acabou de sair da cova até a pia e encarei meu reflexo naquele espelho despedaçado cuja parede de azulejos encardida estava cheia de pichações e frases obscenas.
Meu rosto velho me encarou de volta, minha careca brilhava sob a luz pálida que jorrava do teto e profundas olheiras me davam um ar doentio. Então, forçando a visão na esperança de enxergar melhor, vi que um filete de sangue vermelho-brilhante escorria de uma ferida em minha testa, onde a maldita dor pulsava.
Com cuidado, toquei a ferida e senti algo duro sob meu dedo, tateei melhor e enterrei minha unha na ferida e sufoquei um grito de dor quando comecei a retirar um pedaço de ferro da minha testa.
Extraí com calma, puxando e sentindo o ferro raspar o meu crânio à medida que eu o retirava com certa força.
Por fim, retirei aquele corpo estranho da minha cabeça e o examinei enquanto sentia o sangue descer avidamente pelo meu rosto. Era um grande prego! Mas como um prego veio parar em minha testa? Pelo tamanho de quase dez centímetros era para ele ter causado grandes danos ao meu cérebro, mas eu continuava respirando, inalando aquele fedor de urina com álcool.
Eu joguei o prego sobre a pia, estava pensativo, tentando entender toda aquela merda. Então reparei que eu estava usando roupas de couro pretas muito apertadas, por isso sentia aquela dor nos pulmões à medida que respirava, as vestimentas comprimiam meu tórax de forma absurda.
-AHHHHHH!!!- o grito explodiu de minha garganta quando aquela dor intensa, hedionda e extrema, invadiu toda minha cabeça, fazendo flashes de imagens distorcidas e desconexas de criaturas inumanas surgirem em minha mente, dilacerando-a.
-Você está pronto? – indagou uma voz que parecia distante, mas pela presença hostil e sombria que encheu minha nuca de calafrios, soube que aquele ser, cuja voz tinha um timbre feminino, porém estranho e cavernoso, vinha bem de trás de mim.
Eu abri os olhos, minha visão turva estava vermelha pelo sangue que descia por meu rosto, e olhei para trás, onde um grupo de três seres estranhos, trajando vestes negras e com os rostos mutilados, me encararam solenemente. Havia dor em seus olhos sombrios, mas também havia fascínio.
-ARRRGGHHH!!!- mais um grito, este ainda mais animalesco que o primeiro, escapou de meus lábios quando senti mais pregos eclodirem por minha face.
-Aguardemos mais um instante! – falou outra voz, com timbre masculino e gutural, que me pareceu muito distante devido a minha aflição.
Meus gritos pareciam o de um animal sendo torturado, os pedaços de dor eram intensos, e atingiram, por fim, um ponto sem retorno, como um orgasmo que está próximo e então tudo explode.
Um misto de loucura, dor e fascínio tomou conta de minha mente, fazendo-me sentir a dor dilacerante em minha carne. Os pregos brotavam de minha face e uma escuridão fria, suja, profunda, pareceu roubar minha alma à medida que me envolvia.
Então não mais um grito, mas sim um gemido escapou de minha boca quando todo meu corpo se estremeceu em um calafrio que me fez sentir os nervos serem destroçados.
Eu suspirei, abrindo os olhos, entregando-me à sórdida escuridão dentro de mim, e soube que eu estava pronto. A dor agora tinha um novo significado, tinha um propósito, e eu era parte dela.
Virei-me, ainda me regozijando naquela sensação além da simples compreensão humana e encarei meus irmãos, os Cenobitas, e dei um passo para acompanhá-los na nova jornada que se iniciará com aqueles que buscam alcançar um nível acima dos limites dos prazeres da carne.
-Esperem! – falei com minha voz grossa e imponente. -Está faltando algo...
Voltei-me para a pia e peguei aquele prego grande, sujo de sangue, e o coloquei no seu devido lugar, enterrando-o no centro de minha testa, sentindo-o alfinetar meu cérebro.
Eu dei uma última olhada naquele espelho quebrado. Meu reflexo expressava o que eu me tornei, uma criatura renascida do fogo maldito.
Eu me voltei para meus irmãos e partimos para outro reino, onde eu podia sentir alguém tentando desvendar os mistérios da caixa de Lemarchand.
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UM PEDAÇO DE DOR
TerrorCambaleei como um maldito zumbi que acabou de sair da cova até a pia e encarei meu reflexo naquele espelho despedaçado cuja parede de azulejos encardida estava cheia de pichações e frases obscenas. Meu rosto velho me encarou de volta, minha carec...