Círio de Nazaré da Vigia

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Como disse, histórias como estas encantavam Sarah.

Já em casa, a menina tinha um grande desejo. Por mais que a vigilenga tivesse ao alcance, não somente dos olhos, mas também das mãos, Sarah queria ter o pássaro bate-bate. Uma engenhoca feita em madeira. Vou explicar melhor: este brinquedo era uma relíquia de seu avô. Ele o ganhou da avó Lucila no Círio de Nazaré. Nesta procissão, com mais de trezentos anos, muitas coisas eram próprias do lugar da procissão, como, por exemplo, a carroça puxada por um boi à frente da procissão, soltando foguetes. Toda essa história ficaria sem sentido se eu não explicar a origem de tudo isso. Conta a lenda que um ribeirinho encontrou a imagem da Virgem Maria com o menino Jesus no colo. Ao levá-la para casa, ficou feliz com o achado. Para o seu espanto, pela manhã, percebeu que a imagem não se encontrava mais ali, mas sim no local onde a encontrou da primeira vez. Deste episódio em diante, de lá para cá, são inúmeras histórias que se contam sobre esta imagem. O importante é que deste feito começou o hábito de se andar com a imagem pelas ruas históricas de Vigia, que faz parte da infância de Germano.

Nas particularidades de Vigia e nas características do Círio, é comum você ver a carroça puxada pelo boi, com um fogueteiro, pessoa que ascende os foguetes. Em determinadas partes da cidade, ele lança alto o fogo de artifício, que mais parece um foguete, com um assovio muito forte. Logo depois, se ouve um estampido de doer os ouvidos. Existe também uma figura muito conhecida nesta procissão, o "Anjo do Brasil": um menino ou menina, de pele e cabelos claros, vestido numa túnica azul muito brilhante, parecida com cetim, em cima de um cavalo levando a bandeira de nossa nação. Um outro carro vem cheio de crianças travestidas de anjos, com asas feitas em isopor, cobertas de plumas e brilhos. Esse carro impressiona as pessoas e enche de orgulho os pais.

Nas ruas estreitas de Vigia, os romeiros, aqueles que acompanham a procissão, se estreitam dentro da corda. A corda envolve a berlinda, uma espécie de carro de madeira pintado em dourado, muito bem trabalhado, com detalhes nas laterais e anjos esculpidos, com arranjos das mais diversas flores.

Meio sem saber o porquê de sempre estar assistindo tudo aquilo, Germano estava interessado em três coisas: as guloseimas, os brinquedos e o parque.

Das guloseimas, Germano lembra-se de um bombom que ardia na boca. Este doce levava gengibre, o Rebuçado. Além dele, tinha o delicioso "beijo de moça", em que até hoje o velho se farta. Um doce crocante que derrete na boca. Sem falar na rosquinha amarela, que nunca soube do que era feita, mas que também era crocante, porém, salgada e colava no céu da boca.

Do parque, mais conhecido como "arraial", haviam os brinquedos tradicionais: carrossel, roda gigante e tiro ao alvo. Mas o que Germano gostava mesmo era a roleta onde se apostava dinheiro. Foi difícil entender o "bozó", jogo com dados em que cada face dos dados havia o emblema de um time e a mesa de aposta era coberta por escudos deles. Era preciso depositar dinheiro sobre um escudo da mesa e lançar os dados, aparecendo o escudo que você depositou o dinheiro você ganhava. Da mesma forma funcionava o jogo da bola, escolhia-se um time e jogava-se uma bola dentro de uma cerca, onde na base havia o escudo de vários times. Se a bola parasse no escudo que você apostou, você ganhava.

Germano como toda criança tinha um medo aterrorizante: "Monga, a Mulher Gorila". A tenda da Monga era toda fechada e havia um alto-falante no alto, de onde saia uma narração em meio a grunhidos. Da narração, o velho lembra-se da frase: "Desde quando Drácula andava pelo mundo e foi extraído um pouco de seu sangue...". Conta a lenda que a mulher foi mordida por um macaco nas florestas da África e, por vezes, se transformava num terrível macaco. Já adolescente, Germano descobriu que não passava de um jogo de espelho e, junto com os primos, assistia a exibição para poder ver a mulher de biquíni e dar uns bons socos e pontapés no homem fantasiado de gorila. Após a apresentação, o homem procurava em meio a multidão no parque, obsessivamente, por seus algozes.

Dos brinquedos que ganhara na época do círio, Germano guardava dois. Um deles era o esquecido macaquinho na bicicleta, feito de um material grosseiro e arames. Quando o movia, suas pernas locomoviam-se nos pedais da bicicleta. Este brinquedo ficava sempre no fundo de um saco, que era pendurado na parede na parte de trás de um quarto onde ficavam outras quinquilharias. O outro brinquedo era o pássaro bate-bate, que ficava em cima do guarda-roupa, bem protegido e embrulhado,quase inacessível. O pássaro, como dito, era feito em madeira, pintado todo em amarelo e com detalhes nas asas. Nas pontas delas havia uma fichinha de refrigerante, uma de cada lado, é claro. No lugar da cauda, havia um cabo para você empurrar o pássaro, aí as asas batiam, chocando as tampinhas, num som metálico.

CONTINUA...

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⏰ Última atualização: Feb 15, 2020 ⏰

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