12 de dezembro de 1995

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As coisas aqui em casa seguem na mesma. Mas estamos esperançosos com uma oportunidade de trabalho que apareceu para o meu pai. Ele precisa fazer um curso antes de a empresa fechar o contrato com ele. A chance veio pelo meu padrinho, que já trabalha nesse lugar.

Tudo aconteceu no sábado passado. Estávamos nós quatro – eu, minha irmã, meu pai e minha mãe – em casa, cada um no seu canto. Eu estava no quarto, onde adoro ficar quando Luiza, minha irmã, não está lá. Ela estava na sala, vendo televisão. Meu pai, na cozinha, mexia em coisas de trabalho – ou tentava encontrar caminhos para um novo emprego, fazia contas, pensava... Minha mãe, no quarto deles. Foi quanto tocou o telefone. Era o convite da minha madrinha para que a gente fosse jantar na casa da irmã dela. Meu padrinho precisava falar com meu pai.

Não entendi muito bem. Apenas fiquei feliz. Encontrar meus padrinhos e os filhos dele, Juliana e Danilo, é sempre muito divertido. O que meu padrinho queria com o jantar era chamar meu pai para esse novo trabalho. Ouvi minha madrinha dizer que, quando surgiu a oportunidade na empresa, meu padrinho logo disse: "O Fernando seria perfeito."

Senti muito orgulho do meu pai.

Também ouvi minha mãe dizer que eles iriam investir o que restava da poupança da família no curso que meu pai precisa fazer, no Rio de Janeiro. Os últimos 2 mil reais. Viajar de avião de São Paulo para o Rio de Janeiro é caro. Mas ele foi hoje à noite. Passará uma semana estudando. Não sei o que será na volta.

Ao menos a escola segue garantida. A excelente aluna aqui terá bolsa de estudos também no ano que vem. Quase não contei para ninguém na escola sobre minha bolsa. Não tenho vergonha disso. Só não quero causar problemas para os meus pais. Já pensou se outro aluno descobre e resolve tirar satisfações com a diretoria?

Disse apenas para a Paula. Não por achar que deveria fazer essa confidência para ela. Eu conheço o meu lugar na nossa amizade. Tomei a atitude porque a Paula quer organizar um protesto contra a escola por causa do preço dos lanches na cantina. Tudo o que eu mais quero é entrar na sala da diretora e agradecer pela bolsa. E passar bem longe de um protesto qualquer contra um lugar que está sendo tão legal com a minha família.

A Paula se mostrou uma boa amiga. Mesmo com seu jeito de revoltada e dona de si, ela entendeu o que eu quis dizer. Não insistiu nem contou sobre minha bolsa para ninguém. Me senti menos usada. Mais feliz.

Uma conversa sobre Joana - O não diário de uma adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora