Sabe, eu não costumava ficar quieto. Não normalmente.
Acho que não gostava de conversar com as demais pessoas por isso. Sempre que o assunto tinha um fim, eu não sabia como continuar. Desviava o olhar e fingia estar confortável. Não sei se todas as conversas deveriam ser assim. Não sei se as demais pessoas passavam por isso. Não parecia ser um problema para mais ninguém. Talvez fossem quietos demais para reclamar.
Mas mais do que nunca, naquele instante, o silêncio nunca havia sido tão alto.
Conseguia ouvir o som do próprio batimento cardíaco. A respiração, e o som do vento batendo nas janelas. Alguém sussurrava alguma coisa.
ーCulpa dele.
ーQuem?ーperguntei, olhando em volta.
Eu estava no quintal, o clima propício à chuva deixava um ar tenso. Me senti ameaçado por algo.
Algo grande.
ーMãe!
Gritei para o nada. Não sei o porquê.
Fazia tempo que eu não havia visto minha mãe. Acho que precisava do conforto de tê-la novamente. Não precisa vê-la, mas senti-la. Tenho certeza que iria chorar. Talvez por saudade, não tenho certeza. Não sei se posso sentir falta de algo que quase nunca tive.
Foi quando algo segurou minha mão.
ー
Olhei para o lado e avistei Dominic.
ーVocê gritou enquanto dormia. E está suando.
ーContinuo melhor que você.
Ele sorriu, aliviado. Franzi o cenho em resposta.
ーNão se preocupe, vou sobreviver.
ーVocê gosta de repetir isso, não?
ーGosto?
ーSim. Acho que você não percebe. Você é muito corajoso.
Não entendi o porque ele disse aquilo, mas dei de ombros. Corajoso era um adjetivo que eu com certeza não possuía.
ーSe você acha.
Fez, então, três dias desde o desaparecimento de Katie. O quarto ficava em silêncio.
ーSilêncio.ーrepeti as palavras de minha mente.
ーCostuma ficar de manhã.
ーVocê acha?
ーAcho.
ーEu não.ーfechei os olhos, ele não fez nada. Então me mantive assim por alguns segundos.ーPosso ouvir o som do riacho daqui, mas só se eu me concentrar.
Respirei fundo. Fiquei ali por alguns instantes, mas quando abri os olhos, Dominic fazia a mesma coisa que eu.
ーQue estranho.ーquebrei o silêncio, ele abriu os olhos um pouco assustado.
ーO que?
ーVocê é ainda mais feio de olhos fechados.
Rimos, e então olhei para fora. O dia já iluminava boa parte do meu quarto. Me levantei.
ーVou fazer meu leite.
ーJá tomei.
ーDesde quando você acorda cedo?
ーDesde que começaram a gritar do quarto ao lado.
Revirei os olhos, saindo do quarto.
Não demorou muito para que eu já tivesse pronto. Aproveitei e passei no banheiro. Lavei o rosto com água, não costumava pentear o cabelo, pra ser sincero. Era ondulado e curto. Acabava por ficar como sempre... Sempre.
Quase saí do banheiro tranquilamente, até que ouvi um estrondo. Por algum motivo, a parte que não gostava do silêncio sentiu um alívio. Talvez eu gostasse de problemas, principalmente quando me metia em um. Corri em direção ao ruído, me impressionando quando vi que vinha do meu quarto. O alívio desapareceu quando me deparei com Dominic próximo ao globo de neve, que se encontrava em pedaços, estirado no chão.
Ele parecia tão assustado quanto eu, e de quebra, talvez culpado. Pude notar suas bochechas ficarem rosadas involuntariamente.
E como se fosse a ação mais correta no momento, puxei a gola de sua blusa com os punhos, próximo a mim. Sibilei, vagarosamente:
ーSai. Do meu. Quarto.
Foi o que ele fez, sem ao menos hesitar. Com a cabeça baixa, pude jurar que o vi olhando para o buraco de Katie novamente.
Verifiquei que ele havia saído, e fechei com força a porta atrás de si. Respirei com mais calma, mas meu cérebro ainda tentava identificar o que havia acontecido.
O globo de neve estava quebrado. Essa era a única certeza que martelava minha mente. Senti vontade de chorar, mas era insensível demais para isso. Logo tudo que pensava tomava lugar de raiva. Se Dominic, havia quebrado, de proprósito ou não, haveria consequências.
Ri de meu próprio pensamento. Tipo, o que eu faria? Além de sentar ali mesmo e chorar, eu estava completamente indefeso.
Enfim meus olhos marejaram.
ー
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• See You Next Summer •
Romance"Não lutes uma vida inteira por obter chaves onde não há portas." Havia lido isto em um livro, com oito anos. Hoje ele morava em minha escrivaninha, como meu porto seguro. Nunca havia entendido aquela frase. Mas até aí, eu não havia entendido coisa...