Desenhos e seus segredos.
Tara
Levei meu novo amigo até o único lugar da floricultura que alcanço paz, o único lugar em que meus pensamentos conseguem ficar em ordem enquanto novas sementes ganham a chance de conhecerem o poder da terra e do adubo, a estufa.
Meu corpo, agora limpo e cheiroso longe de toda aquela lama, veste uma jardineira jeans, o uniforme da loja, o avental e minhas botinas enquanto enfileiro os vasinhos de cerâmica coloridos e despejo a terra preparada enquanto aguardo o banho de Ryan terminar. Começo a decidir entre margaridas e peônias quando meu coração começa a se apertar.
Afasto-me devagar da bancada com dois passos para trás e olho para cima. Os raios de sol preguiçosos após uma manhã de chuva tentam passar pelas paredes de vidro, as mudinhas de folhas de chás e de ramos agradecem brilhando com suas gotas de orvalho que se acumularam após a rega, o cheiro de terra molhada é delicioso, mas ao invés de aquecerem o meu peito o faz se apertar cada vez mais. Pisco diversas vezes enquanto olho para os meus pés e para minhas mãos sujas de terra, fecho os olhos e começo a me lembrar da última vez que estive nesse lugar.
Era madrugada de sábado, o sol nem havia batido na janela de casa quando Gustavo havia me feito praticamente cair da cama e sair correndo em direção a floricultura ainda de camisola e pantufas quentinhas nos pés. A vizinhança ainda nem havia despertado, então ninguém corria o risco de ver o mausoléu que estava meus cabelos ou a barba por fazer do meu namorado que era tão charmosa, mas que insistia em tirá-la. Caminhamos nas pontas dos pés para que o vigilante, que a propósito nós contratamos, não nos visse abrir a porta que leva para os fundos da loja, pulamos a cerca porque não tínhamos trazido as chaves e entramos sorrateiros na estufa. Estava tudo escuro, as plantas ainda dormiam e o ar estava gélido.
Não me lembro exatamente qual foi a sua desculpa, mas às quatro da manhã estávamos procurando em todos os vasos de terra algo que Gustavo insistia em dizer que havia perdido e que precisava da minha ajuda para encontrar, mas eu estava irritada e cansada por não poder dormir. Consegui reunir forças para subir em uma escada e logo acima da prateleira mais alta, lá estava o pequeno objeto dourado. Uma fina e delicada aliança.
Quando me estiquei para pegá-la, meus pés se desiquilibraram e num rompante peguei a aliança e cai, Gustavo me segurou em seus braços seguros e tudo o que conseguimos fazer por minutos e minutos depois foi rirmos sem parar até nossas barrigas doerem.
Foi a maior surpresa da minha vida e valeu cada segundo de sono perdido, a final, quando o dia raiou, Gustavo já tinha uma resposta positiva para seu lindo pedido.
— O que achou? — A voz do meu amigo me faz virar em sua direção e afastar toda a melancolia pela lembrança. O analiso da cabeça aos pés notando seus cabelos molhados assim como os meus, a calça jeans, tênis brancos e o uniforme amarelo da loja em tamanho G que agora cobrem seus músculos trabalhados, eles parecem não serem frutos de aparelhos de musculação e sim trabalho árduo sobre a vida.
— Ficou lindo! Sabia que caberia perfeitamente em você. — Forço um sorriso voltando para meus afazeres. Coloco as sementes na terra, as rego e as coloco gentilmente na prateleira, um lugar privilegiado para que vejam o sol e o arco-íris no céu azul. Crescerão fortes e logo serão expostas na loja como todas as outras já preparadas na parte de baixo do lugar, tento não dar muita atenção para a joia que agora pesa sobre meu dedo anelar.
— Muito obrigado pelo convite de emprego, não sei nem como te agradecer. Está me ajudando muito.
— Não precisa, estamos ajudando um ao outro. — O entrego meu melhor sorriso e começo a me explicar. — Sei que pareço uma maluca o colocando em toda essa situação com o meu namorado. — Ryan desvia o olhar sem saber como reagir diante de tal. — Mas não sou sempre assim, pelo o menos trabalhando aqui comigo poderá tirar suas próprias conclusões e perceber que tenho muito mais a mostrar do que o meu lado ciumento e louco.
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A flor no meio do caminho
RomanceTara é uma jovem romântica que se vê diante da realização de sua maior conquista: a expansão de sua rede de floriculturas pelos ares paulistas, tamanha dedicação esta que construiu graças a amigos leais, uma paixão antiga por flores vinda de sua fal...