II

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A FORMA COMO Pitoca pula igual uma doida quando vou dá-la um bom dia, definitivamente não é normal. Acordei desanimada, mas ansiosa, eu precisava saber se Dabi estaria na minha sala de aula. E era lógico que eu acordei atrasada, e quase morri descendo as escadas.

Meu café da manhã era constituído de ovos, suco de limão e waffles quase todos os dias. Geralmente, a única coisa que mudava era o sabor da calda que eu colocaria nos waffles, que varia entre chocolate, limão e mel. Esses dias Bárbara, minha amiga mais próxima, me disse que havia um novo sabor: açaí. Mas já basta o waffle ser calórico: açaí só pioraria a situação.

Terminando o café, fiz uma rápida higiene, arrumei meu material voando e rapidamente fui em direção à garagem, para ir rumo à escola.
Abri a porta da sala e vi que ninguém se situava ali na garagem, então corri para o quarto do meu tio, e com todo o azar, ele estava no décimo terceiro sono, jogado, com a coberta no chão, e o cabelo bagunçado. Gritei alto para ele despertar, mas a demora foi grande até estarmos prontos para sair.

Fiz birra durante o caminho, só um milagre poderia me fazer chegar na primeira aula, e esse seria fazer meu tio andar a mais de 70 quilômetros por hora, pelo menos.

— Quero só ver o dia em que eu aprender a dirigir, numa corrida eu venceria até chapada! — eu sou uma deusa quando se trata de irritar pessoas, e eu tinha razão, onde já se viu acordar atrasado e ainda dirigir igual uma lesma com um dos anéis amputado? Eu mereço viu...

— Como é que é garotinha? — consegui ganhar uns minutinhos, mas isso não impediria a bronca que eu ia levar, nem a vergonha, nem a decepção, nem a humilhação de chegar atrasada no primeiro dia de aula.

Cheguei na escola depois de 10 minutos de carro, e 12 minutos de atraso.

— Nossa quanto exagero né, a turma nem entrou para o pátio ainda, olha lá! — ele falou como se estivesse mais aliviado que eu.

Revirei os olhos, e subi as escadas da entrada correndo, sem nem dar tchau para meu tio, dentro de um estiloso Astra azul marinho e com o braço apoiado na abertura da porta segurando um cigarro na mão. Pude até ouvir baixinho um "tchau tchau garotinha" em meus ouvidos, mas talvez tenha sido na minha mente, já que ele sempre diz isso de qualquer forma.

— Adoro como seu tio te chama de garotinha, digo, você tem 1,70 e 16 anos, sinceramente se isso é ser uma garotinha... — é, definitivamente não tinha sido apenas na minha mente.

— Acredite, me pergunto isso todos os dias...

Rimos bastante, e nos abraçamos de saudade. Não nos vimos muito nas férias porque senão não teria graça conviver com um ser desses todo santo dia nos anos letivos. Mas a saudade que eu sentia parecia muito menor do que quando fui capaz de ver seu sorriso de novo.

Adentrei mais uma vez aquele grande pátio do teto de catedral, apelido dado pelos próprios alunos! Não posso mentir, é bonito de se ver. O pátio é dividido em 4 corredores e uma área central. Cada corredor tinha cerca de 5 salas, e nas passarelas era possível ver os mesmos bancos e as mesmas plantas que eu sentava e cheirava há anos - eu cheiro plantas, porque ajuda a aguçar sentidos, facilita a leitura celestial. O layout é parecido com o de um shopping, mas garanto que não há nada de dinâmico nem de moderno aqui.

Assim que o sinal bateu, eu e a Bárbara tentamos não sucumbir à multidão que se formava em frente às salas do corredor C (terceiro corredor, contendo as salas do 2o ano do médio e as salas dos nonos). O desespero era imenso, estávamos tremendo para saber quem ia cair em nossas salas, e os papéis com a lista de alunos de cada sala eram uma só folha A4 colada ao lado das portas! Pode isso? Perdemos ao menos 15 minutos para acharmos nossa sala, mas algo me intrigou bastante: ele não estava lá.

Daniel, Douglas, Dália... eram os únicos nomes que eu conseguia ver, e eu não queria acreditar, não sei quantos minutos passei encarando aquela maldita lista, mas só saí do transe quando o sinal bateu e me assustou. Meu coração estava acelerado, eu mal ouvia a multidão, só era capaz de ouvir minha própria respiração e os batimentos aumentando. Qualquer toque me incomodava, mas isso era óbvio já que eu estava no meio de uma multidão faminta por nomes de uma lista. Só sabia de uma coisa: eu precisava sair dali.

Mal dei 5 passos e esbarrei em alguém, concentrando um perfume nostálgico e calmante sobre as minhas narinas, era ele!

— Você podia ser um pouco menos desajeitada né? Quase derrubei minha garrafa na sua fuça!

— Mas quanta educação ein? — falei conseguindo respirar mais, fingindo não querer chorar.

— Puxei de quem? — ri querendo desabar. — Não é o fim do mundo bobo (bubu)! Mas confesso que vou sentir falta de passar as respostas das provas de inglês para você. — ele queria me fazer chorar, eu conheço ele!

Abracei ele com todas as minhas forças, eu queria aproveitar mais o tempo com ele, mas mesmo assim sou grata por ao menos tê-lo comigo.

Caminhei em direção à última sala do corredor C, e vi que Bárbara e Luísa me esperavam na porta. Meus olhos lacrimejavam, mas não sou de chorar. Ao menos, não na frente dos outros.

— Okay. Não precisa explicar que vai passar os intervalos com Dabi e fazer de conta que não existimos, só entra logo antes que a Dona Gracie te esmague com aquela reguazinha desgraçada? — eu já falei que amo o deboche da Luísa?

Ela é uma amiga mais recente que a Bárbara, mas conseguiu conquistar nossos corações com seu humor. Nos conhecemos fora, em um evento celestial, lembro-me de rir por ser tão tímida! Quem imaginaria que ela fosse se tornar uma grande estrela do deboche e da ironia tão plenamente?

Ela tem olhos escuros e cabelos longos platinados. Sim! Ela pinta os cabelos, é uma tradição da família dela: os Cavendish, visto ter uma linhagem forte e sensitiva. Dizem que a profecia da família dela conta que assim que uma grande sensibilidade for atingida e o Sol (maior estrela do sistema solar) puder alguma vez ser lido por alguém da família dela, uma criança nascerá com o cabelo prateado.

Eu sinceramente acho incrível, e tenho certeza que essa criança será a de Luísa! Ela é muito dedicada à leitura, e acho que vai ter um futuro baseado nisso.

Já eu acredito que nunca serei capaz de ler uma sequer estrela, quem dirá o Sol?! Aqueles que sabem qual caminho seguir, terão mais sucesso.

Mas eu acredito que aqueles que não sabem qual caminho seguir, terão mais experiência, e portanto, serão mais sábios!

***

Galera do meu coração, eu voltei! Eu sei que demorei para escrever o próximo capítulo, mas todos temos umas crises existenciais de vez em quando né?

Eu espero continuar escrevendo, e espero que vocês continuem gostando. Não garanto capítulos semanais, mas eu quero mesmo desenvolver esta história, e quero que vocês tenham a mesma vontade ao ler!
Garanto que não vão se arrepender.

Até o próximo capítulo!



A Garota que Morava nas EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora