No outro dia eu estava novamente acordando com a culpa, mas, desta vez, eu podia olhar para Aidan com a mesma raiva que eu sentia por mim mesma. No campus nós não tínhamos qualquer contato, a não ser pela entrega de trabalhos, ou algumas apresentações em que ele estava no meu grupo.
Mesmo assim o meu repúdio por ele só aumentava, na mesa fração que os meus desejos carnais por aquele montante de músculos. Meu namoro com Brad estava indo de mal a pior, eu não aguentava mais suas reclamações sobre a minha falta de tempo para ele. E ao meu ver, ele tinha mesmo razão, eu não tinha tempo para um namoro agora, e não era Brad que eu queria, então fiz a coisa mais sensata, terminei com ele.
Brad não ficou tão arrasado quanto eu imaginei, tanto que na semana seguinte eu já o via flertar com as líderes de torcida e ouvia muitas fofocas sobre suas façanhas sexuais por aí. Aquilo não me chateou nem um pouco, e isso se derivava da minha total falta de qualquer sentimento por ele.
O ano já se aproxima da metade, os ensaios para o Royale Ballet estão cada vez mais puxados, Srta. Margot estava quase arrancando o nosso couro e isso que nós já tínhamos toda uma coreografia pronta. Com a apresentação para as crianças quase chegando, eu estava exaurida pelos ensaios, e mais exausta ainda pelo stress que estava ocorrendo na minha volta.
Todos os dias eram um novo jeito que minha cabeça criava para poder evitar minhas amigas e Aidan, eu só queria que ele simplesmente sumisse, mas ele estuda na minha sala, ele namora a minha melhor amiga e está em todo lugar que eu estou.
E tudo parecia querer nos deixar sempre muito perto um do outro, eu me sentia como uma pequena chama, mas toda vez que aquele loiro chegava muito perto, o fogo era tão intenso que o sobrenome de Aidan devia ser gasolina em vez de Carter.
Hoje, mais uma vez eu estava na academia, meus pés me matavam pela dor e meu corpo pedia pelo menos um pouco de descanso, mas eu não me dava esse luxo, eu tinha que conseguir entrar para o Royale Ballet, aquilo não era uma opção.
Depois disso eu recebo uma mensagem de Jess, me pedindo para ir dormir na sua casa junto com Julie, fazer uma noite de meninas, a justificativa dela era por que andávamos muito afastadas. Para ser bem sincera eu não ligava nem um pouco para aquilo, desde que minhas amigas tinham se envolvido com suas determinadas pessoas, eu me sentia totalmente jogada para escanteio e não fazia mais tanta questão da companhia delas.
A verdade era que eu estava cada vez mais sozinha e não exatamente porque eu queria, era algo não intencional e totalmente instintivo. Suspirando, eu respondo a mensagem concordando com a ideia, afinal uma noite não iria me matar, e também deveria ter muitas coisas das quais falar que não fosse sobre todo e qualquer tipo de relacionamento.
Eu termino a passagem da música e finalmente tomo rumo ao meu vestiário, porém, quando estou chegando lá, é claro que a “coincidência” me faz trombar com Carter no meio do caminho, aquela era a primeira vez que ele me via pós um ensaio antes de um bom banho. Estava suada e com os cabelos bagunçados.
Eu passo por ele, mas nunca o deixo de o olhar. Quando chego ao meu armário, fico surpresa ao ver um girassol pequeno colado nele e dobrado entre as pétalas está um pequeno bilhete.
“É isso que você quer? O pior? Eu sei o que você quer, sem ter perguntado. Eu a consegui uma vez, tenho que tê-la de novo, consegui duas vezes, isso se tornou um vício... Uma última vez?”
A mensagem me deixa totalmente arrepiada e eu consigo sentir aquele calor irradiando pelo meu corpo. Volto rápido para poder cobrar explicações de Aidan, mas ele não está mais ali, eu resolvo entrar no seu jogo. Agora era a minha vez...
Fui para a casa de Jess, mas aquele bilhete foi muito bem guardado para amanhã. Quando chego posso ouvir a música alta, eu sabia que ela não estava dando uma festa.
Entro em sua casa e tenho uma cena muito típica, Jess e Julie estavam em cima do sofá, as duas cantando loucamente uma música da Taylor Swift, eu fico um tempo contemplando sem elas me notarem. Eu deixo um sorriso escapar, sentia muita falta das minhas amigas e as olhando ali, eu sabia que as levaria para sempre.
Deixo minhas coisas, no chão subo no sofá e continuamos a cantar, nós três como as loucas que sempre fomos, desde o jardim de infância.
Baby, I'm just gonna shake, shake, shake, shake, shake
I shake it off, I shake it off (whoo, whoo, whoo)
— Ah, amiga! - nós três nos abraçamos - pensei que você nem vinha mais hoje, vive ocupada agora – disse Julie, eu dou um meio sorriso quando nos sentamos no sofá
—Vocês sabem que os testes do Royal Ballet estão quase aí, todos no estúdio não poderiam estar mais nervosos, é uma loucura geral.
—Sabemos que você vai entrar pra companhia, a única coisa que não me deixa feliz nessa história é que depois você vai embora para Paris junto com eles – Jess diz com um certo pesar na voz, eu não posso culpa-la, aquilo era verdade
— Mas não será pra sempre, eu vou passar um tempinho lá e depois volto, aliás, o Royal Ballet é para eu poder ter renome e poder abrir a minha própria companhia, vocês sabem que esse sempre foi o meu sonho de verdade. - As duas concordam – certo, vamos a assuntos mais interessantes.
—Ah, isso temos de sobra – comenta Julie, eu sabia que ela ia começar a falar de Aidan, então apenas preparei meus ouvidos. - Aidan chamou nós três para ir em um lugar no sábado. - Eu estranho.
—Nós três? Mas você que é a única interessada nele aqui
— Eu também fiquei confusa, mas ele disse que como vocês são minhas melhores amigas, deveria compartilhar com todas o segredo. - Eu sinto um arrepio em minha espinha. Claro que Aidan tinha muitos segredos, uma paranoia veio a minha mente, sobre nós dois, mas logo dispenso, ele não faria isso, tinha muita consideração por Julie.
— Tudo bem, eu posso levar a Luiza – tanto eu quanto Julie fazemos a mesma expressão para Jess
— Se dissermos que não, você vai levar da mesma forma – digo de uma vez, ela ri
— Aliás, como estão as coisas entre vocês? - Jess sorri como uma boba, céus, ela estava tão apaixonada que me deixava entediada.
— Eu não posso reclamar, mesmo que o Sr. Crawford e meu pai voltem amanhã, estou feliz.
— O conto de fadas está prestes a acabar – Jess me dá um soco no braço
— Cara, você sabe que as coisas não são bem assim, ela não está comigo pelo tédio, ela gosta de mim, talvez até mais do que isso.
— Espera ai, Jess, vamos com calma com toda essa sua expectativa, sabemos que ela gosta sim de ti, mas ela ainda é casada e com todo o respeito que tenho por você, junto com a minha consideração, acha que isso terá um futuro? - minha amiga encara meus olhos, havia muita dúvida nela, mas Jess era durona, nunca admitiria.
— Acho - não disse?
— Se a Jess não tem futuro, eu com certeza tenho com o Aidan – eu seguro a revirada de olho. Julie apaixonada era pior do que Jess.
— E como estão as coisas? - eu pergunto quando estamos indo para a cozinha, lá tiramos um sorvete do congelador e abrimos, cada uma com uma colher na mão, encostadas no balcão.
— Ah, ele é muito atencioso, esses dias me deu uma flor com um bombom, eu fiquei tão emocionada. Acho que ele é o cara certo – tento o máximo não me engasgar, mas falho. Tossindo feito louca, Julie e Jess me olham.
— Como assim o “cara certo”? - Julie dá de ombros
— Vocês sabem que eu sou muito romântica e Aidan tem sido muito bom comigo, não tenho dúvida que ele vai me pedir em namoro e o resto não preciso falar – ela fica corada. De nós, Julie era a única virgem, ela tinha um sonho de achar seu príncipe encantado e agora parecia nas nuvens com Aidan.
— Olha, Julie...- eu começo, mas me interrompi ao notar o sentimento que estava em mim agora. Eu não tinha nada com Aidan, mas o pensamento dele na cama com minha melhor amiga me deixou desconfortável.
— O que? - ela me olha, eu suspiro largando minha colher.
— Acho que ele serve sim pra você, eu tinha um opinião sobre ele, mas depois de ver como ele te trata, deve ser o cara certo mesmo – eu não acreditava em uma palavra que saia da minha boca, mas eu tinha que apoiar a minha amiga, mesmo que aquilo significasse mais distanciamento de Aidan.
(***)
Me encontrava na piscina da casa de Julie, hoje é sábado, está um sol de rachar e Julie resolveu fazer uma social. Então lá por volta das onze horas, já havia muitos conhecidos nossos se juntando a nós na piscina.
Claro que Aidan também foi chamado, assim que ele chega Julie não consegue mais desgrudar, quando vou falar com Jess, ela está aos beijos com Luiza, eu reviro meus olhos, aquilo tinha que ser brincadeira.
— Oi - ouço alguém falar atrás de mim, quando me viro dou de cara com um garoto, ele não devia ter mais do que uns dezessete anos, tinha cabelos mais compridos, a pele bronzeada e olhos castanhos claros, assim como suas madeixas.
— Olá - digo, ele é bonito, não tinha nenhum porte atlético, mas realmente tinha uma graça quase feminina.
— Eu sou Luke, você é Jasmine, não é? - assenti, meu “gaydar” estava apitando para aquele ser, mas eu tinha de ir devagar. - Legal, eu sou muito seu fã, você é tipo a melhor bailarina que eu já vi. - Aquilo enche o meu peito, eu dou um grande sorriso e minha simpatia por Luke só aumenta.
— Obrigada. Você também dança?
— Sim, eu moro a umas quatro ruas daqui
— E a onde você estuda ballet?
— Na mesma academia que você, porém de manhã, eu saio mais cedo, por isso a gente nunca se viu – eu fico chocada, mas sorrio
— Vai tentar uma vaga no Royale Ballet?
— Vou, mas não acho que dê certo, é tipo um sonho inalcançável - eu nego
— Ah que besteira, se você for com determinação, conseguirá - ele sorri, céus, ele é tão gracioso.
— Olha, não querendo mudar de assunto tão rápido, mas tem um cara, muito bonito por sinal – ele ri – que está nos encarando como se fosse atirar a qualquer momento. - Eu olho de um modo direto para Aidan, ele tinha uma expressão séria, segurava uma cerveja e tinha Julie agarrada a ele.
— Luke, se eu te pedir um favor, você faz?
— Claro, é só me dizer – chego perto do seu ouvido e cochicho o que eu quero que ele faça.
— Olha, eu não sou muito chegado na sua fruta, mas sei bancar um hétero. - Eu dou risada
— Perfeito – Luke é mais alto que eu, então ele segura a minha cintura com uma pegada macho alfa, eu abraço seu pescoço, então nos beijamos.
Claro, aquilo era só uma farsa, mas o garoto era bom, nos beijamos de um modo lento, ele era delicado e com certeza passivo, ao me deixar controlar a situação toda. Quando nos separamos, ambos estávamos constrangidos, mas rimos baixinho.
Cumprindo a segunda parte do acordo, andamos até onde estava Julie, ela tinha visto nossa ceninha, então sorriu ao me ver. Eu olho para Aidan que está ao seu lado, ele tem a expressão neutra, mas eu leio seus olhos, nunca os vi com tanta raiva, aquilo me excita de mais.
Começamos a conversar, eu faço as apresentações entre eles e Luke, o garoto se enturma rápido e tenta o máximo bancar um hétero durão, eu serei grata e ele eternamente.
Jess e Luiza se aproximaram de nós, e nos engajamos em uma conversa. Logo depois disso todos decidimos ir para a piscina, eu já estava desfilando em um biquíni de renda, na cor preta e era um número menor.
Como Luke era o novato entre nós, houve vários assuntos relacionados a ele. Eu estava ao lado de Aidan perto da borda, Julie com as costas encostadas no peito dele. Tentava ao máximo ignorar sua presença, porém ele estava dificultando isso.
Por baixo da água, eu sinto sua mão em mim, e com todo mundo distraído com a conversa, não dá para notar que ele está fazendo alguma coisa. Porém eu sentia, estava tocando minha lateral com a ponta dos dedos, até chegar nas amarras da parte de baixo do biquíni, eu vi de relance ele segurar a corda. Aquele filho da puta estava zoando comigo.
— Eu já volto, gente – saio da água o mais rápido possível, não olho mais para Aidan, apenas sigo para dentro da casa, subo as escadas e vou para a suíte dos pais de Jess. Ali ninguém me acharia.
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Differences
RomanceTodos já ouvimos histórias sobre opostos que se atraem, pois bem, essa é mais uma. Mas não pense você que é apenas mais uma. Ao contrário do que se pode pensar, nessa não há uma mocinha legal e não temos um badboy cafajeste que só pensa em si mesmo...