Capítulo • 03 •

207 15 66
                                    

Aidan volta algum tempo depois, ele está com os cabelos molhados, seu brinco e usando roupas com bastante estilo, camisa branca, uma jaqueta jeans e uma calça com rasgos, uma coisa eu podia admitir, ele sabia se vestir e isso é muito raro para pessoa como ele.
— Vamos? — ele me dá um sorriso maroto, eu concordo apenas e nós saímos dali.
Andamos em silêncio até estar fora do campus, Aidan indica a lanchonete que há na outra quadra, eu nunca havia ido lá, parecia ser um lugar que não servia muitas opções sem gordura. Mas mesmo assim eu concordo e nós vamos andando até lá.
O clima entre nós dois não é de muita conversa, quer dizer, o que duas pessoas como nós teríamos em comum além do ar que estamos respirando? Eu me perguntava constantemente como Julie parecia ter tanto assunto com ele, por que eu mesma buscando no fundo da minha mente não achava nada que pudéssemos conversar.
Na lanchonete, Aidan e eu nos sentamos em uma mesa alta, os bancos tinham um salto que eu fiquei com medo de cair daquela altura, então me movi menos possível. Uma garçonete ruiva veio nos atender, ela deu uma boa olhada em Aidan, e ele notou isso, mas pareceu não lhe dar muita bola.
— Boa noite, o que vão querer? — ela dá uma abaixada deixando seu decote vulgar quase explodir para fora da blusa, olho Aidan, ele está concentrado em mim.
— Vocês têm saladas?
— Não, somente lanches mesmo — ela sorri com falsidade, olho Aidan.
— Bom, eu quero um X-Tudo com muita maionese, uma porção de fritas com queijo e bacon e um qualquer refrigerante que tiver. — Eu tento mentalmente calcular a quantidade de calorias que ele iria ingerir em apenas uma refeição e fico assustada com o valor que vem a minha mente. — E acho que para a minha amiga aqui, apenas um X-Salada e um suco de laranja — apesar de aquilo já ser gorduroso equivalente a uma semana de refeições minhas, eu tinha muita fome, então deixei pra lá.
— Num instante — a ruiva saí rebolando como se o mundo girasse em torno da sua bunda.
— Você vai mesmo comer tudo isso? É tipo muita comida — Aidan sorri para mim.
— Bom, não se preocupe, eu como o que eu perco nos treinos e na academia, eu saí da dieta depois de ganhar massa, agora eu como o que eu quero, contanto que queime tudo depois. — Aquela era uma boa maneira de levar as coisas.
— Entendi, parece... eficaz
— E você só come salada?
— Acho que você sabe que eu faço ballet, não posso engordar mais. — Ele fica sério me encarando.
— Mais?
— Eu engordei dois quilos no fim de semana maluco que tive com Jess, me senti um peso de papel quando fui ensaiar na segunda feira. — Aidan dá um riso baixo.
— Acho que talvez você possa sofrer de algum transtorno de imagem, por que você é super magra, tem um corpo incrível — um elogio como aquele me fez sentir meu rosto esquentar de uma forma que não acontece há anos.
— Eu...eu não tenho nenhum transtorno, eu sei quando meu corpo muda ou não.
— Claro, claro — a garçonete volta com nossos pedidos, Aidan fica me olhando, até eu dar uma mordida no meu sanduíche. De repente sou transportada para um mundo de sabor e o prazer é quase orgástico. — Só pela sua cara de quem gozou, posso dizer que está muito bom — eu quase me engasgo com a sua frase. Eu não sabia que ele era tão explícito.
— Você não pode falar essas coisas assim!
— Falar o que? — ele pergunta depois de dar uma grande mordida na sua comida.
— Isso aí. Foi vulgar — ele ri
— Gozar? — eu pisco com sua ousadia.
— Sim
— Eu não tinha ideia que vocês da zona nobre poderiam ser tão inocentes. — Eu não era tão inocente assim, na verdade eu já tinha feito muita coisa, mas falar isso era diferente.
— Não é isso, estamos em público, falar isso em voz alta pode acabar ofendendo alguém.
— Só se esse alguém não tenha trepado ultimamente — eu volto a ficar em um tom escarlate, como ele pode dizer isso? Céus!
— Você é... — Eu estava exasperada e não tinha uma palavra para ele.
— Vulgar? — ele tenta. Sim, ele era!
— Isso mesmo, você é vulgar com as palavras — ele limpa sua boca e sorri, me deixando arrepiada na nuca.
— Isso não excita você? — Aidan me dá uma expressão maliciosa. Eu não tinha ideia de como responder aquela pergunta.
— Cla-claro que não! Como você é convencido.
— Se sou é porquê tenho certeza do que posso fazer a outra pessoa, sei o que eu posso causar — ele volta a comer. Eu respiro fundo e faço o mesmo, ele só está enchendo a minha cabeça. — A Julie está muito mal?
— Está de cama e com febre, acho que amanhã ela não vai a aula.
— Bom, você pode me dizer a onde ela mora? Queria visita-la — ele era tão prestativo e gentil que me deixava um pouco chocada. Eu nunca tinha visto um homem daquele jeito.
— Claro, tenho certeza que ela vai adorar te ver — do jeito que ela estava louca por ele eu não duvidava que cairia ainda mais de amores por Aidan.
— Eu gosto dela, é uma ótima garota — ele diz de um modo distraído.
— Ela é sim — dou de ombros.
Nós paramos de falar e comemos o resto em silêncio. Quando termino de comer e pego minha carteira, Aidan me olha como se fosse um insulto, ele chama a garçonete ruiva e dá o dinheiro para pagar, mesmo que não tenha saído caro, eu não gosto como ele é tão machista.
— Você devia ter me deixado pagar o que eu consumi — digo quando estamos na rua voltando ao colégio.
— E uma coisa do orgulho masculino, nós pagamos — reviro meus olhos
— Isso é retrógrado e machista. — Ouço ele rir
— Certo, mas comigo é assim.
— Como se você tivesse muito dinheiro não é mesmo? — aquilo escapa sem querer de mim, eu me dou um chute mentalmente por ser tão grossa. — Quer dizer...
— Ah entendi, você me julga porque não tenho milhões na minha conta e porque não sou como os esnobes daquele campus, é por isso que não gosta de mim. — Ele deduz e do jeito que ele diz me faz parecer uma classista.
— Não! Eu...
— Olha garota, você pode ter todo o dinheiro do mundo, mas se não souber viver de verdade nada disso vai te satisfazer. Eu posso não viver em uma mansão, mas eu tenho certeza que tenho mais história do que você com a sua vidinha de socialite.
— Você nem me conhece pra falar isso!
— Se quer saber, acho que nem você conhece a si mesma. Quando quiser saber o que é viver de verdade me procura — ele saiu andando me deixando na frente do campus e acaba por sumir na escuridão da noite.
Ele era a segunda pessoa naquele mesmo dia que me dizia a mesma coisa e eu não estava sabendo lidar com isso, eu era assim uma pessoa tão pouco vivida? Mesmo sentindo que algumas das melhores épocas da minha vida já passaram? Eu sentia como se tivesse diversas histórias para contar, mas o jeito que Aidan falou agora as faz parecer cada vez mais bobas.
Minha cabeça estava pra lá de tão confusa e eu não tinha ideia do quanto eu tinha curiosidade para saber exatamente do que Aidan estava falando, ele realmente conhecia a vida como falava? Ou era tudo um blefe para eu poder correr atrás dele?
Céus, chega disso! Vou para o meu carro, quando sou partida vou direto para casa. Quando chego tenho a surpresa de ver meus pais em casa, eles estavam na sala como se fossem um casal normal. Olhando os dois antes mesmo de entrar, fico pensando na história.
Eles se conheceram na faculdade, meu pai era um gênio dos números e a minha mãe da moda, todo mundo via muito futuro em ambos, mas dizem que quando se juntaram se tornaram totalmente imbatíveis. O amor dos meus pais era único e verdadeiro, mesmo que eles não passassem muito tempo juntos, todo o tempo de folga era dedicado a família a ao amor deles.
Eu me perguntava se por acaso eu viveria aquilo também, por em quanto eu estava curtindo com Brad, ele é um cara muito legal, mas não é o amor da minha vida, na verdade, analisando agora, eu sentia um extremo carinho por Brad, mas não chegava nem perto de ser uma paixão ardente, aquilo me frustrava, porque com ele eu teria um futuro como os dos meus pais.
Entrando em casa os dois me olham com um sorriso, eu sento entre eles e lhes dou um abraço. Minha mãe me pergunta como foi meu dia e meu pai me cobra sobre a faculdade, eu fico mais do que feliz em responder, geralmente não tenho muito a atenção dos dois, não porque eles não tentam, mas sim o trabalho é o vilão sempre.
Quando vou para o meu quarto, minha cabeça está cheia, as palavras das minhas amigas e as de Aidan me deixam distraída a todo momento. Como eu poderia viver de um jeito mais aventurado se eu já achava que me arriscava até demais com o ballet? Eu tinha muita coisa para analisar na minha vida.
Descendo para jantar, eu me sento junto com meus pais na mesa, ambos me olham com uma cara sorridente, eles estavam escondendo alguma coisa, eu não tinha ideia do que era, mas tinha uma certa sensação de que não iria gostar muito.
— Querida, eu e seu pai temos uma notícia ótima pra você — diz minha mãe
— Então digam de uma vez!
— Nós vamos sair para uma segunda lua de mel — eu fico surpresa na hora, não sabia que meus pais estavam planejando tal coisa.
— Sério? Mas e as empresas?
— Ah não se preocupe, vamos estar de olho mesmo longe, mas para poder fortalecer o nosso casamento achamos melhor — eu apoio totalmente meus pais, então eu dou um sorriso
— Aproveitem muito, eu vou cuidar bem das coisas por aqui, eu prometo — sorrio para eles.
— Que bom que você aceitou isso tão bem, Jasmine, só nos prova o quanto você amadurece mais a cada dia — eu tinha certo orgulho disso.
— Obrigada, papai. — Depois daquela conversa, finalmente nós jantamos e eu dei boa noite para os meus pais e fui para o meu quarto.
Aquele dia havia sido cheio de muitas palavras que me fizeram pensar boa parte da noite, como eu poderia me arriscar mais? Viver em vez de apenas sobreviver? Como eu daria um novo passo para ser uma garota mais selvagem e menos certinha?
Eu penso em Aidan, no que ele me disse mais cedo, penso em tudo o que ele já deve ter feito, em todas as coisas que ele viveu morando na Vila Dor, aquele era um dos bairros mais barra pesada de Nova York, você tinha que ter sangue de barata pra ir lá e pior ainda para morar.
Talvez fosse isso que estava me faltando, uma boa dose de perigo, como eu poderia fazer para me arriscar mais? Olhando a vida das minhas melhores amigas eu via o quanto elas estavam se colocando em riscos. Jess tinha um romance proibido e Julie uma paixão avassaladora meio que a dama e o vagabundo.
Eu tinha apenas a minha vida perfeita e segura, um namorado lindo, amigas maravilhosas, bons pais, um conta bancária que me deixava rica por mais umas cinco vidas, então o que eu poderia fazer para mudar um pouco isso? Sair de toda essa rotina pacífica e monótona?
Como uma luz se acendendo na minha cabeça, eu tive uma ideia. Já que meus pais iriam passar um bom tempo fora, apenas para se reconectar com eles mesmos, eu poderia fazer o mesmo, porém aqui. Como dar uma grande festa ao estilo Jasmine Underwood e me tornar uma lenda viva. Isso faria todos verem como eu posso ser uma rebelde.
Depois de pensar nisso, finalmente eu peguei no sono...

                                (•••)
Ao acordar no outro dia, eu fico feliz ao ver meus pais arrumando suas coisas para poderem ir viajar, até onde eu sei ambos estão indo para uma super viagem romântica na Espanha. Eu me despedi antes de sair para a aula e com um sorriso travesso eu chego no campus e encontro Jess, Julie, Brad e claro, Aidan.
— Nossa, você parece de ótimo humor, aconteceu alguma coisa? — pergunta Brad depois de me dar um beijo.
— Meus pais foram viajar para uma segunda lua de mel — dou de ombros e sorrio
— E você está feliz com isso? — Jess pergunta com desconfiança.
— Eu estou feliz pela grande festa que vou dar lá em casa esse final de semana — todos eles ficam surpresos e eu gosto da sensação.
— Você vai dar uma festa na sua casa sem o conhecimento dos seus pais? — Julie questiona e eu apenas assenti.
— Com toda a certeza! — olho para Aidan de relance, ele me olha de um jeito sério e nada amigável. — E estão todos convidados — sorrio.
— Sendo assim eu acho que precisamos espalhar essa notícia — disse Brad quando me abraça e eu sorrio para ele.

DifferencesOnde histórias criam vida. Descubra agora