Capítulo • 09 •

137 5 0
                                    

Me encarando naquele espelho, de repente não estava mais me reconhecendo, quem me encarava de volta naquele reflexo era uma mulher linda, mas perdida, com as bochechas coradas, um calor latente sobre a pele, e uma grande mentirosa.
Eu pensava em Julie agora, totalmente apaixonada, Aidan era o cara perfeito, um verdadeiro príncipe com ela, eu sei que ele gosta dela, de verdade, se não fosse eu, as coisas estariam ainda melhores entre eles. Os dois praticamente já estavam namorando, só lhes faltava o pedido oficial que Aidan adiava.
Não sei quanto tempo fico ali, mas ao sair, tomo um susto com Luiza ali, ela está sentada perto da varanda, tinha uma pose elegante e quando me viu, deu um pequeno sorriso compreensivo.
— Oi, o que faz aqui?
— Vim falar com você, sente-se – eu vou até ela, me sento na sua frente. - Eu não gosto do que está rolando aqui, Jasmine – meu coração acelera, ela sabia
— Como assim?
— Não precisa dessa cena, sei que tem alguma coisa entre você e aquele jogador - não conseguindo ficar parada, eu volto a me levantar e andar pelo quarto.
— Se você veio me chantagear, vá em frente, as coisas não podem ficar piores.
— Você sabe que pode. É incrível como ninguém notou que vocês dois estão em um frenesi de provocações. - Eu estava com agonia, Luiza havia me cercado.
— Eu não sei o que fazer, tá bom? - há lagrimas saindo dos meus olhos, uma atrás da outra sem parar em quanto eu falo – eu não gosto dele, na verdade eu odeio aquele loiro, mas quando ele está perto, não sei o que acontece, não consigo nega-lo.
— Você não gosta dele, ou não pode gostar dele? - olho para ela, confusa - há uma diferença grande nisso. Na sua cabeça você não gosta do jogador porque Julie está com ele, mas e se não estivesse? - meu coração dá um salto, eu tento analisar o ponto de vista novo, se Aidan não estivesse comprometido desde o começo com Julie, talvez nós...
O pensamento me traz dor, porque agora eu me dava conta, poderia ser nós dois juntos. No começo eu julgava Aidan por sua posição social, mas depois de tudo isso, eu não ligava mais, eu só o queria por perto, queria ele o tempo todo.
— Eu não sei... eu nunca pensei nisso.
— Jasmine, sei que você não escolheu estar nessa situação, assim como Aidan também não, eu vejo que ele sente culpa quando olha para Julie, mas não podemos desrespeitar a ordem natural das coisas.
— O que isso quer dizer?
— Sei que não vão conseguir ficar longe um do outro, então ao menos sejam honestos com vocês mesmos e com a Julie – aquilo sim iria ser difícil, mas ela estava certa.
— Obrigada, Luiza – ela sorri e se levanta, me dá um abraço reconfortante.
— Você é uma mulher maravilhosa, Jas, nunca se esqueça disso – com isso, ela saiu do quarto me deixando sozinha.
                           (***)
Eu vou para casa mais tarde, tinha que me arrumar para a “grande surpresa” que Aidan havia preparado para Julie, que incluía Jess e eu. Tomo um banho, escolho um vestido salmão simples, com alças finas e a saia curta. Ele era colado ao meu corpo e demarcava bem minhas curvas.
Arrumo meus cabelos em um coque desfiado e elegante, coloco saltos nos pés e pego uma carteira apenas para colocar o essencial. Julie passa na minha casa por volta das oito horas.
— Sou só eu que estou muito curiosa? - comenta Jess, eu e Julie negamos
— Claro que não, eu quase nem dormi a noite passada por causa disso
— Ou por que você estava lá em casa e fomos dormir a cinco da manhã - dou risada da expressão que Julie faz para Jess.
— Tem isso também
— Enfim, deve ser algo bem importante, pra ele chamar a gente – comento, nós três assentimos.
Algum tempo depois nós chegamos no endereço que Aidan deu a Julie, eu fico um pouco surpresa ao notar uma boate, obviamente, não uma boate qualquer, era uma das mais mal faladas de Nova York, sem contar que ali era um ponto de drogas e prostituição.
Seja lá o que Aidan tem para contar, não deveria ser algo muito bom. Nós entramos na boate, um cara grande, negro, careca, vestido com uma regata branca larga, tinha um dos braços fechados de tatuagens, veio até nós, ele deu um sorriso lindo e brilhante ao nos ver.
— Garotas, muito prazer. Eu sou Connor, amigo de Aidan – ele sorri novamente – preciso que venham comigo
— Espera aí, pra onde? - eu pergunto
— Não se preocupe, comigo estão seguras – eu tinha todos os motivos para não acreditar, mas eu sempre poderia contar com o meu treinamento pessoal se acaso algo desse muito errado.
— Certo – eu olho para minhas amigas, começamos a andar atrás do cara. Atravessamos a boate inteira, vendo mulheres tirarem a roupa e homens gritando pelo prazer.
Entramos por uma porta, de repente todo o barulho da boate foi abafado, descemos um lance de escadas de ferro e então outro barulho começou, gritos femininos e masculinos, em volta de um...ringue.
Sim, aquilo era um ringue, em cima dele havia dois brutamontes brigando loucamente, arrancando sangue um do outro em quanto todos gritavam loucamente querendo mais.
— Bem-vindas ao Círculo – Connor diz com um sorriso malicioso nos lábios
— Tá brincando comigo – diz Jess com um sorriso de puro divertimento em seu rosto, eu olho para Julie, ela tinha paralisado nas escadas. Eu tomo sua mão e continuo seguindo Connor, ele nos leva para lugares privilegiados, onde não há empurrões e nem muita gritaria.
— Por que estamos aqui? - Julie pergunta com o terror em sua voz
— Não querendo ser obvio com você, loirinha - começa Connor – eu sei que Aidan nunca comentou no que ele trabalha, porque isso aqui é um segredo, ficamos longe de todo e qualquer radar.
— Está dizendo que esse é o “emprego” de Aidan?
— Sim – ele dá de ombros. Algumas coisas fazem tanto sentido depois de serem explicadas. O fato de Aidan nunca nem ter mencionado uma coisa dessas, apenas que trabalhava.
— Eu quero ir para casa – diz Julie de repente, todos nós a olhamos
— Por que? - Jess pergunta – qual é Julie, vai amarelar?
— Jess! - repreendo – O que foi, amiga?
— Eu não estou afim de ficar aqui vendo o cara que eu mais... não quero ver Aidan apanhar - ouço a rida de Connor
— Você devia confiar mais no seu homem, gatinha, Aidan é o melhor do Círculo, eu garanto que ninguém o tocará em quanto ele não quiser. - Eu estreito meus olhos, Aidan era um arrogante até para isso!
— E por falar nele – disse Jess, todos nós olhamos para o ringue. Aidan estava ali, ele usava uma bermuda jeans escura, estava descamisado e descalço, assim como o seu oponente, que era um cara mais alto e mais musculoso que o loiro.
Respirando fundo, a adrenalina me subiu, eu sentia todo o medo que aquele homem parecia não sentir, juntamente com o desejo de subir lá e pular em seu colo.
“Você não gosta dele, ou não pode gostar dele?”
Balanço minha cabeça afastando as palavras de Luiza da minha cabeça, agora não era hora e nem lugar para tentar analisar meus sentimentos por Aidan.
— Boa noite Nova York, vocês estão prontos para o melhor show de pancadaria desta noite? - um cara vestido de um modo mais formal falou, eu reviro meus olhos – o nosso campeão invicto, Aidan Demolidor Carter hoje disputará seu título com Simon Triturador de Ossos! - o grito das pessoas perante aquilo era o que mais me causava arrepios. - Estão prontos rapazes? - os dois não paravam de se encarar, sem piscar, apenas se aproximaram mais um do outro, se peitando. - O clima está quente aqui, tudo bem, garotos, vamos começar essa merda de uma vez – os dois se afastam um pouco, o locutor fica entre eles e de repente grita – LUTEM!
Começando a se rodearem como dois lobos raivosos, eu vi quando Simon atacou primeiro, tentando desferir o golpe contra o rosto de Carter, mas o oiro desvia rapidamente. Um dos dois estava com muito mais raivoso do que o outro, e eu sabia que era o grandalhão.
Aidan era um posso de autocontrole, uma coisa que eu não reconheço nele, não quando se trata de nós dois. Eu vejo Jess e Julie se juntarem a Connor e gritarem em torcida ao loiro. Meu coração estava na minha boca, eu não conseguia fazer mais nada a não ser olhar.
Quando Aidan atacou, parecia mais um felino de tão rápido e certeiro, ele desferiu um soco e então empurrou o outro para as grades do ringue, segurou-o pelo pescoço e encheu de soco seguidos.
Mesmo que o tal Simon tentasse, estava preso a Aidan, suas investidas contra o loiro eram todas falhas, Carter sabia muito bem desviar de todas elas e então revidar com mais raiva. O locutor que também parecia ser juiz da luta, tirou Aidan de cima do brutamontes, era fim do round.
Durante a pequena pausa, eu vi o loiro recuperar o fôlego e tomar um pouco de água, sua pele bronzeada brilhava sobre as luzes incandescentes amareladas. A luta foi retomada, dessa vez Simon, todo ensanguentado, parecia com mais ódio ainda, então voou para cima de Aidan, que lhe deu um sorriso, então, desviou dos socos e chutes do brutamontes e revidou deixando o valentão no chão do ringue.
Em algum momento daquela luta, eu não sei dizer qual, talvez quando Carter estivesse montado em cima daquele cara, lhe dando uma mata leão. Ele deu uma olhada para fora das grades, Julie gritou seu nome mais alto que a multidão, então seus olhos vieram para nós, e então apenas pararam em mim.
Me senti em um daqueles momentos clichê dos filmes, quando tudo a sua volta vira câmera lenta e você só foca na pessoa do outro lado da sala, querendo ou não, meu fôlego sumiu e meu coração trovejou em meu peito.
E mesmo naquela situação inusitada, meu desejo e... sentimentos por Aidan estavam aflorados, eu sei que ele podia me ler, assim como eu poderia fazer o mesmo com ele. Um sorriso lento cresceu em meu rosto, um que ele retribuiu, na mesma intensidade de malicia que eu esboçava.
Aidan acabou com a raça de Simon, e como Connor havia prometido, o brutamente nem encostou no loiro. Ao final da luta, o braço de Aidan foi erguido e aquele mar de pessoas vibrou tão forte que eu achei por um momento que o prédio desabaria.
Connor fez um sinal para nós seguirmos ele pela multidão, e depois de ser muito empurrada e até apalpada uma vez durante o trajeto, chegamos até uma saleta, ali estava Aidan, ele descansava sobre uma cadeira estofada em couro, estava vermelho e suado.
Julie nem esperou entrarmos direito, pulou no loiro como se o mesmo fosse fugir, Aidan riu e deu um beijo na testa de Julie, logo a tirando de cima dele, de pé, ele deu um “abraço” em Connor, ou aquela coisa que homens fazem para se cumprimentar.
— Você quase matou a loirinha de susto – Aidan dá um riso baixo e olha para Julie, eu via o evidente carinho que ele tinha com ela, aquilo me aquecia o coração de alguma maneira.
— Ela quase deu pra trás - comenta Jess se jogando no sofá que havia ali – Aidan me olha um momento, me esperando falar algo, mas eu apenas me sento ao lado de Jess
— Você tem muito o que explicar, parceiro – Connor olha para Jess e eu – querem subir para a boate? Beber alguma coisa? - aquela era uma ótima deixa para os pombinhos ficarem a sós.
— Relaxa, cara, eu tenho que falar com todas, pode ir lá, já chegamos – Connor assente e saí da sala.
— Eu não tenho sido honesto com Julie, ou com qualquer pessoa a minha volta, pedi para vocês virem hoje com ela porque sei que são melhores amigas e ela não poderia esconder coisas de vocês.
Aidan começou a explicar o porquê de tanto segredo e porque resolveu contar tudo agora. Ele precisava de grana para ajudar em casa e conseguir manter a faculdade, ele tinha a bolsa, mas precisava dos livros e tudo mais.
Em geral a história foi curta e objetiva.
— Eu só peço que nunca contem isso para ninguém, não vou me manter aqui pra sempre, assim que acabar a faculdade e ir para algum time de futebol, isso será passado, por isso é importante a discrição. - Ele estava certo, se alguém soubesse que ele estava envolvido com atividades ilegais poderia perder tudo o que tinha construído até agora.
— Seu segredo está seguro comigo, meu amor – diz Julie sorrindo para ele
— Ninguém nunca vai saber de nada por mim – Jess concorda, todos me olham, mas eu me concentro em Aidan, antes o que eu mais queria era acabar com aquele loiro, mas agora, eu só queria que ele me tomasse, ali e agora.
— Certo – dou de ombros, fingindo não me importar.
— Obrigada, garotas. - Ele sorri.
No domingo de manhã eu acordei e estava no quarto de hóspedes da casa de Julie, sabia que ela e Aidan tinham dormido juntos aquela noite e aquilo me incomodou, mas ignoro, desço as escadas, tomo um susto ao encontrar Aidan adormecido no sofá.
Reparo em como suas feições são serenas quando ele dorme e de como é tentador me juntar a ele, mas precisava do meu foco, tinha de falar com ele sobre aquele bilhete.
—Aidan, acorde! - ele acorda devagar, ao me ver se senta no sofá, eu faço o mesmo ao seu lado, ficamos um momento em silêncio em quanto ele desperta melhor.
— O que foi? - diz me olhando
— Temos que conversar – eu abro minha carteira e tiro o bilhete – sobre isso
— O que tem?
— Era a última vez, nós prometemos
— Sempre prometemos- ele encosta no sofá olhando pra cima
— Isso é errado, você e eu sabemos disso – ambos nos olhamos
— Quer dar o fora daqui? - ele pergunta de repente
— Como é?
— Quer?
— Não podemos, elas ficariam desconfiadas. - Ele pega seu celular, escreve alguma coisa e me mostra, era uma mensagem para Julie.
— Mande alguma coisa para Jess, nunca vão ligar os pontos – eu respiro fundo com a emoção de estar fazendo algo muito errado. Mas eu faço.
— Para onde vamos?
— E isso importa? - nego com a cabeça, rindo, ambos levantamos do sofá e saímos porta a fora.

DifferencesOnde histórias criam vida. Descubra agora