Capítulo 4: Donum

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Maximiz adorava se reunir com Hilla e muitas outras Belfa-Lías na fonte de águas azuis ao lado do Alcácer para aprender sobre sua cultura e ouvir as histórias dos conflitos passados, e eternos, que uma vez assolaram nosso mundo com a promessa certa de um retorno.

Eu era o Mago e Maximiz a majestade. Ela, a rainha, usava das mais simples conversas e sinceros sorrisos para conhecer a vontade e satisfação do povo. Em nosso mundo não havia morte, fazendo dela o símbolo da magia negra. Com isso, nossa majestade verificou que os habitantes de Agdora já não se sentiam tão seguros e consideravam necessários preparos de batalha, e para mim, soou evidente que eu era nossa única defesa.

A primeira a aprender magia foi a rainha. Por conseguinte, os Lucos que se candidataram, e depois os recém-chegados, os Calcados, gnomos hórridos por fora, mas com um coração bom... Não puro, mas bom. Praticamente qualquer ser de alma vivente e falante poderia aprender feitiços, a diferença é que eles necessitavam dos elementos naturais para concluí-las, eu não.

Para preservar ainda mais nossa cidade, lancei um poderoso feitiço sobre a ilha, de forma que não era mais vista pelos humanos, apenas pelos seres de nosso mundo. Assim estaríamos ainda mais seguros, além de preparados.

***

Vivemos de maneira harmoniosa por três décadas, mas o universo ainda nos privava de estabelecer uma descendência para nós. Trackov, Gazald, Quamino, Feriox e Sincta-Ze nos foram levados da mesma maneira que Prímius, e a cada uma das perdas, parecia nossa primeira. A grandiosidade do universo parecia querer nos proibir de multiplicar nossa espécie, pelos fatos, mas não era o que eu sentia. Não havia desistido de ter nossos filhos, mas a esperança não convive em um coração duvidoso para sempre. Eu era eterno, mas minha rainha não. Seu quinquagésimo segundo aniversário já era próximo, e ela ainda aguardava o presente divino de um filho sobrevivente. Foi neste ano, mil setecentos e trinta e cinco que tivemos a dádiva de receber nossa primeira menina, e o sacrilégio de perder a rainha. Senti literalmente que o amor me escapava por entre as mãos, mas encontrava-o novamente em meus braços. A perca de Maximiz não foi sentida apenas por mim, mas por todas as vidas presentes na ilha, fossem animais ou vegetais. Os Lucos esculpiram habilidosamente uma bela estátua da rainha ao lado da fonte do chafariz de água azul, as Belfa-Lías criaram a lápide flutuante com os dizeres: "Donum, o milagre da vida e a maldição da morte. Seja a dádiva das Belfa-Lías a certeza da eternização do seu sangue". Enquanto lia os dizeres, tendo em meus braços a mais bela criança, o mais agradável aroma florense invadiu o ambiente, e posto à frente do corpo da majestade o pequeno Calcado Urin, tocava uma melodia em sua flauta de Pan, digna da paz que a rainha nos proporcionou enquanto esteve conosco.

Maximiz jamais havia pensado em algum nome feminino, pois sempre imaginou ter um garoto forte e valente. Ao olhar para a feição daquela pequenina, sentia uma forte conexão entre nós e um nome me veio à mente.

— Seu nome será Impérea.

Agdora de Hierofante: A Ilha Flutuante de Fogo do Círculo Polar ÁrticoWhere stories live. Discover now