Capitulo I
Uma vitrine vermelha em formato de retângulo nos bairros badalados de uma Amsterdã noturna e sombria foi onde eu me descobri, mas vamos voltar ao início de tudo.
A lembrança que tenho é de uma infância feliz, aos 5 anos de idade quando acordava com o som dos pássaros ao lado da janela, o cheiro de café quentinho vindo da cozinha onde mamãe cantava, era dia de domingo, mamãe gritava com tom de voz mais doce possível, dizendo que o café estava na mesa, eu me levantava correndo e ia direto me sentar a mesa, ela vinha com um sorriso doce e dava-me um beijo na testa, papai chegava logo atrás depositava um beijo doce na mamãe e em seguida dizia: bom dia pequena Made Dosson, meu nome era Madeline, mas papai só me chamava assim quando estava zangado, pegava minha mão e a beijava em fazendo reverência como se fosse a uma princesa, e tudo bem por que era assim que eu me sentia naquela época, terminava o dejejum e saía para a varanda onde minha bicicleta rosa sempre ficava, as vezes papai deixava que eu brincasse com ela na rua, a levava para o quintal e começava a andar, logo Gregory mais conhecido como Greg aparecia, Greg tinha os olhos castanhos claros e espertos cabelos pretos bem lisinhos, ele era o filho do vizinho que quase nunca víamos por que morava na linda mansão em frente a nossa pequena casa , sempre vinha acompanhado de uma babá, Penina era seu nome, ela ficava nos observando de longe, algumas vezes ria de nossas brincadeiras, mas sempre de olho no relógio como se algo a perturbasse, nos divertíamos muito durante um tempo, cantávamos e dançávamos juntos utilizando um pedaço de galho de árvore como microfone, nossa música favorita era Hakuna matata, imitávamos os personagens do filme o rei leão, mas ele não ficava muito, logo se despedia e dizia que eu precisava ir embora, ele tinha muitos brinquedos, sempre pedíamos para ir a casa dele, mas papai nunca deixava, por eu era muito pequena para sair de casa sozinha, mais tarde naquele mesmo dia íamos a missa, depois voltávamos para o almoço, as vezes mamãe trazia visita para casa, outras vezes almoçávamos só nós três, durante a tarde ela se sentava com as visitas para conversar e bordar e eu ia brincar com minhas bonecas.
Mamãe já não estava mais tão bem quanto antes, se cansava facilmente e ficava de cama o tempo todo, algo estava acontecendo, eu sabia, papai tinha que deixar de ir trabalhar para ficar em casa cuidando da mamãe, muitas vezes a vi vomitar sangue, sim, só podia estar muito doente, meu coração ficava apertado.
Um dia mamãe começou a tossir muito e junto com a tosse saia muito sangue, corri para ver o que estava acontecendo, já estava com 8 anos, poderia ajudar a mamãe, naquele dia o papai havia saído para trabalhar, ver se conseguia vender alguma coisa pra comprar alguns remédios pra mamãe e comida, desde que mamãe ficara doente nenhum empregador queria contratar meu pai em empregos permanentes pois eles precisava sempre faltar e estar em casa, naquele dia liguei para o papai chorando, mamãe não estava bem, estava com olheiras enormes a boca pálida, o corpo franzino agora, então enquanto esperávamos o papai, mamãe me chamou com a voz fraca, pediu para que eu me aproximasse, segurou minha mão, eu estava com medo, algo muito ruim estava prestes a acontecer, mamãe pediu que eu a olhasse nos olhos, enxugou uma lágrima que começava a rolar do canto do meu olho, e disse: __Minha doce Made, mamãe não pode mais ficar por aqui, preciso partir, já fiz muito nessa vida, gostaria de viver um pouquinho mais para ver você crescer e se formar, mas cada um tem seu tempo aqui na terra e o meu já está acabando, preciso que você seja forte Made, cuide de seu pai para mim, não deixe que o mundo te diga o que fazer e como você deve ser, não deixe que o medo te impeça de conquistar o que quer, lute Made, lute como uma garota, sempre tive orgulho de você.
Tentei impedi-la de falar e dizer que ela não poderia me abandonar mas ela colocou seu dedo indicador sobre minha boca e fez sinal de silêncio e continuou, __ Não tenha medo Made, eu sempre vou estar com você aqui no seu coração...colocou a mão no meu coração, senti ele se aquecer, então mamãe me puxou para mais perto, eu deitei ao seu lado na cama, enquanto ela sussurrava: __Eu te amo Made, nunca se esqueça disso, e eu respondia , eu também mamãe, papai chegou logo em seguida e me pediu para ir para o quarto, acho que mamãe também queria se despedir dele, fiquei espiando pela fresta da porta, eles sussurravam, enquanto meu pai dizia que ia dar um jeito, que ela não podia ousar deixa-lo, vi quando ele a beijou, e ela fechou seus olhos, vi quando papai caiu por cima do corpo da mamãe e chorou, chorou como um garoto, dizendo, __Não Isadora, você não pode me deixar, não! Então eu entendi que havia acontecido o que temíamos, mamãe se foi, vi meu pai se levantar e ligar para o hospital tremendo, logo ouvi o som das sirenes pararem em frente a nossa casa, então alguns homens desceram pegaram a mamãe colocaram na ambulância, meu pai me pegou no colo com lágrimas nos olhos e também entramos na ambulância, os enfermeiros tentavam reanima-la mas pela cara que faziam não iria ter resultado, chegamos ao hospital, levaram ela pra dentro e não deixaram que passássemos da recepção, pediu para que aguardássemos, papai se sentou na cadeira de espera, me colocou ao seu lado, colocava a cabeça entre as mãos, passava a mão no cabelo, levantava-se, andava de um lado para o outro, de repente veio o médico, meu pai pediu para que eu não saísse do lugar, que esperasse ali, vi quando o médico balançou a cabeça triste em sinal de negação, vi quando meu pai caiu de joelhos chorando, mas o Doutor que era um senhor de idade um pouco calvo já , talvez pelos anos de profissão desgastante, pegou meu pai com calma, levantou e apontou para mim, e disse, olhe, você precisa ser forte, tem uma linda menina a sua espera, você precisa ser forte por ela, meu pai agradeceu a Dr. e veio até mim, me abraçou ia dizer algo, mas eu não deixei, me lembrei das palavras da mamãe, pedindo para que eu cuidasse dele, então eu disse a ele que já sabia o que havia acontecido e que ia ficar tudo bem, meu pai me abraçou mais apertado ainda e disse que precisávamos ir para casa, aqueles dias foram muito tristes e vazios, mamãe não cantava mais, e não sentia mais o cheirinho de café de manhã nem o doce canto dos pássaros, parece que tudo tinha se acabado, papai cuidou do velório, choramos quando tocou GO I PICE, então fomos para casa, naquela noite papai se trancou no quarto eu o ouvi chorar baixinho, aqueles dias se seguiram assim, papai não conversava mais, as coisas estavam indo de mal a pior, meu único momento bom era quando Greg vinha me ver me acalmava, eu não me sentia mais tão sozinha.
Uma das minhas lembranças favoritas daquela época era aos 11 anos, naquela época os pais de Greg haviam descoberto que a Penina levava Greg escondido as vezes para brincarmos, então a proibiu de fazer isso, mas Greg logo arrumou um jeito, se aproveitava do tempo em que seus pais precisavam viajar a negócios e fugia de casa, vinha a minha casa, jogava pedrinhas na janela e eu saía correndo ao seu encontro, tínhamos construído um pequeno forte com pedaços de madeira velha ao pé de um pinheiro atrás da casa, perto de uma cerca viva de hibiscos, ficávamos horas lá, ele levava biscoitos que Penina fazia, eu saboreava como se nunca tivesse comido antes, depois que mamãe faleceu, papai tinha ficado muito endividado por causa da doença da mamãe por isso trabalhava muito pra pagar o que tinha pegado emprestado, mas ainda assim, o que consegui mal dava pra comermos, por isso eu ficava tão gulosa toda vez que ele trazia algo pra comer.
Uma vez a mãe de Greg ficou o mês inteiro em casa, e não nos vemos nenhum dia, meu coração ficava pequenininho, eu ficava sozinha em casa até pai chegar porque ele não podia pagar ninguém pra ficar comigo, cada barulho que fazia lá fora eu corria até a janela pra olhar e ver se era Greg, mas voltava decepcionada, me questionava o porquê de a mãe dele não deixá-lo me ver mas no fundo eu sabia que era por causa da diferença social que tínhamos, éramos a única família do bairro a morar em uma casa com apenas 7 metros quadrados, as outras casas eram todas mansões, isso se dava porque havíamos herdado aquela casa do vovô, ele foi um dos fundadores daquele bairro, tinha muitos bens , mas perdeu tudo pra bebida, o que nos restou foi só aquela casinha de madeira com a pintura gasta e um balanço na varanda, mas antes de mamãe morrer fomos muito felizes ali, fiquei esperando a semana toda o mês inteiro e nada de Greg aparecer, em uma segunda-feira à tarde Greg apareceu, quando ouvi o barulho das pedrinhas sendo jogadas na janela, meu coração acelerou, saí aos pulos pela casa corri para abraçá-lo pulei em seu colo e dei um beijo em seu rosto, havia sentido tanta falta dele, de seu cheiro, não entendia naquela época o que estava acontecendo mas estava apaixonada por ele, o coração acelerado, a falta que ele me fazia, tudo me indicava isso, ele cheirou meu cabelo se afastou e segurou meu rosto sorrindo e disse que estava com muitas saudades também, como sempre, estava todo penteadinho, como um verdadeiro riquinho, mas isso não me importava, porque o achava perfeito daquele jeito, então me puxou para dentro do nosso forte de mentira.
Assim que nos sentamos Greg tirou do bolso uma caixinha vermelha com um laço dourado, disparou a falar, disse que não podia mais ficar tanto tempo longe de mim, mas que já tinha a solução para nossos problemas, precisávamos nos casar, durante o tempo que havíamos ficado longe, Greg pensou em várias formas de fazer com que nós pudéssemos nos ver novamente e ficarmos juntinhos de novo, porém, nunca conseguia, ele era mais esperto que eu, já sabia que o que sentia por mim não era mais só coisa de amiguinhos, tinha algo mais, foi então que perguntou a sua mãe, o que duas pessoas faziam quando se gostavam muito e não conseguissem viver um longe do outro, a mãe dele achou que ele estivesse falando de Caroline uma de suas amigas da escola, suas famílias eram amigas e sempre faziam festas e jantares juntos, Caroline era loira dos olhos verdes o cabelo estava sempre arrumado com um laço rosa e as roupas sempre passadinhas e combinando, as mães dos dois sempre dizia que eles iriam se casar quando crescessem, por isso respondeu que quando duas pessoas se gostavam tanto assim tinham que se casar quando crescessem, isso deu a Greg a ideia mirabolante que planejara e colocaria em prática agora, pegou um anel que havia ganhado em suas muitas festas de aniversários, colocou dentro de uma caixinha, ia se casar comigo assim poderíamos ficar juntinhos pra sempre, seria uma ideia genial se não fossem os fatos, ele tinha apenas 14 anos e eu 12 agora, era apenas dois anos mais velho que eu, peguei a caixinha, desembrulhei o laço e vi um lindo anel dourado, devia ser de ouro porque brilhava muito a luz do sol, se parecia com a aliança da mamãe mas era mais masculino grosso, com uma pedrinha preta no meio, colocou no meu dedo anelar, mas ficou folgado por o dedo dele era mais grosso que o meu, ficou decepcionado, mas logo deu um jeito de colocar no dedo do meio, ficou um pouco frouxo mais não caia, então disse, pronto Maddy agora somos marido e mulher, estamos casados, ninguém pode nos separar agora, Eu fiquei um pouco perdida, mas entendi o que ele queria dizer, na nossa inocência pensamos que era uma ótima ideia, Greg segurou meu rosto e me deu um beijo singelo e rápido, nunca havia sido beijada, fui pega de surpresa a principio arregalei os olhos em sinal de susto, mas acabei amolecendo quando percebi o que estava acontecendo, ele se afastou e eu fiquei sem reação, imóvel, ele com um sorriso no rosto se deitou no chão, olhando para o teto, eu deitei ao contrário dele e ficamos com as cabeças encostadas uma na outra, um com os pés para o norte e outro para o sul, olhando para o teto, como se o mundo fosse só aquele momento, eu ali pensado em como havia sido beijada, e como tinha sido bom, as meninas da minhas escola sempre se gabavam de como já haviam sido beijadas e eu nunca havia passado por isso porque nunca achei que fosse tão bom assim, tão especial, o mundo podia acabar ali, mas como tudo que é bom dura pouco, esse momento não foi diferente...

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Aprisionada
RomancePrólogo Princesa Made, como dizia seu pai, aos doze anos perdeu a mãe aos 8 para o câncer, desde então tinha que lidar com um pai calado e depressivo, que quase nunca estava em casa, que trabalhava demais para pagar as dívidas que havia adquirido c...