Desde que me conheço por gente moro em Amsterdã, em um dos bairros mais ricos de Amsterdã, Oud Zuid, famílias perfeitas moram nesse bairro, porém nunca fomos uma família perfeita, somos completamente disfuncionais, a mulher que se diz ser minha mãe, como eu fui gerado? Bom sou fruto de um estupro, minha mãe foi traficada pelo sócio do meu pai, meu pai a quis, a estuprou, quando soube que estava grávida de mim quis me abortar, mas meu pai não deixou porque precisava de um herdeiro, algo fez com que ela se conformasse com essa vida, talvez nutrisse algum sentimento por seu abusador, no caso meu pai, o fato com certeza não foi por mim, devido a gravidez meu pai a tirou do bordel, mas ela não nutria nenhum sentimento por mim, assim que deu a luz não quis me ver, talvez porque eu lembrava como ela tinha sido abusada, desde então era uma mulher amarga, fazia o papel de boa esposa para a vizinhança, mas se entregou de vez aos negócios sujos de meu pai, se tornou a madame Deuvax, a cafetina, acabou ficando do lado dele em tudo, era treinadora das novas aliciadas, cresci em meio a isso, no local onde morávamos eles eram muito discretos, até fingiam ser uma família de verdade, as vezes quando percebiam estar sendo observados pelos vizinhos, desde cedo foram muito sinceros comigo, não escondiam nada do que faziam, quando eu tinha 8 anos fui levado pela primeira vez ao bordel, seguia meu pai, ele dizia que eu precisava conhecer desde cedo os negócios da família, me fez saber sobre o que conversavam toda noite no jantar.
As garotas na vitrine vermelha que dançavam seminuas, disse que elas eram a segunda maior fonte de lucro da boate, pois chamavam a atenção dos melhores clientes por serem bonitas, mostrou as garotas que ficavam dentro da boate e dançava por dinheiro e podiam ser escolhidas por pessoas desde grandes chefões do crime, a políticos ou até crianças de doze anos de idade, desde que pagassem, a boate ficava no distrito da luz vermelha em Amsterdã, era chamado assim devido os vários bordeis com vitrines de luz vermelha expondo garotas para venderem sexo e luxúria.
Meu pai estava me ensinando tudo sobre seu negócio, me levou mais para dentro, em um corredor, que era seguido por portas semiabertas onde meninas de várias idades eram usadas de todas as formas possíveis, por quem pagasse por isso, as cenas eram traumatizantes para qualquer criança, mas meu pai me tranquilizava dizendo que eram apenas negócios, fomos mais fundo, ele me levou ao local que chamavam zoológico, era onde as traficadas novatas ficavam, assim que eram trazidas eram jogadas em jaulas como animais em um canil, depois seu destino era decidido, senti pena, meu pai percebeu, por isso disse que eu precisava conhecer saber como lidar com essa situação então ficou no centro do salão e pediu pra que colocassem uma das novatas que tentou fugir sentada e amordaçada e amarrada em uma cadeira, meu coração acelerava, então ele retirou a cinta e me entregou, eu não entendia o que ele queria que eu fizesse, então ele disse:_ faça, vamos, você tem que mostrar a ela quem manda e o que acontece com garotas que tentam fugir, vamos bata nela, a princípio seu tom de voz era de encorajamento, mas quando viu que eu titubeava, engrossou o tom de voz, _ vamos não criei um filho para ser um frouxo de merda, você escolhe, ou bate nela ou eu a mato. Os olhos da garota se arregalaram juntamente com as lágrimas que rolavam de seu rosto, meu coração estava partido, mais eu não tinha escolha, ou batia nela, ou ela a matava, com certeza a morte era a pior escolha, para um garoto de oito anos, mais uma vez meu pai gritou, _vamos Damon, a escolha é sua, a vida dela está em suas mãos. Tomei um susto com o grito e pelo impulso comecei a bater nela, tentava não bater em partes que a machucasse tanto e não estava colocando tanta força, apesar da minha idade eu era bem forte, meu pai percebeu então gritou: _vamos Damon, não pense nela como uma garota e sim como uma mercadoria que poderia ter nos dado grande prejuízo, olhe pra ela, é uma vagabunda, não é digna de pena, essas palavras me convenceram, eu já não sentia mais pena, quanto mais eu batia mais prazer eu sentia, quando enfim minhas forças se acabaram, eu cai de joelhos no chão satisfeito, a garota estava imóvel apenas chorava, não lutou por um momento que fosse, seu rosto e corpo agora estavam marcados por vergões vermelhos, só então me veio a culpa, quando seu olhar cruzou com o meu e era como se dissesse, era melhor que tivesse me matado, soltei a cinta, o sentimento de prazer e culpa se misturavam em minha cabeça, eu era muito novo para processar tudo aquilo, então meu pai veio até mim, pegou em minha mão e me levantou, _esse é meu garoto! Estava feliz por conseguir sua aprovação, pela primeira vez, mas o custo era um tanto alto, ele foi me levando para fora dando tampinhas no ombro como se eu tivesse conquistado algo, mas meus olhos se voltaram para a garota e seu sofrimento, meu pai pediu que um de seus seguranças me levasse para casa, Dom Costello andava sempre bem escoltado, segui seu segurança entrei no carro, começou a chover, no caminho o rosto da garota e seu sofrimento não me saía da cabeça, via a chuva caindo lá fora do carro, o tempo tão escuro, representava exatamente como eu me sentia naquele momento, um turbilhão de sentimentos rondavam minha cabeça, cheguei em casa passei pela salão de festas rapidamente, madame Deuvax treinava algumas garotas, me senti enojado de mim mesmo , de minha família, subi as escadas e fui para o quarto, tentava esquecer o que tinha acontecido, mas meu pensamento voltava a todo momento a garota que espanquei, então fui até o corredor onde havia uma mesa de drinques, havia uma garrafa de whisky, Bourbon, meu primeiro copo na vida, virei de uma vez, o líquido desceu queimando por minha garganta, tossi um pouco, mas terminei de ingerir o líquido todo do copo, sempre ouvia os adultos dizerem que fazia esquecer os problemas, pela quantidade de álcool ingerida, nem era muito, mas para uma criança, no caminho mesmo já fiquei tonto, então me deitei na cama, e apaguei do jeito que estava mesmo, dormi, sonhei com uma garota, parecia um anjo, cabelos longos e pretos, sorria, seu rosto estava iluminado como se fosse uma luz que iluminava todo o ambiente, ela corria de costas e sorria pra mim, seu vestido branco se esvoaçava, mas de repente já estávamos na boate, seu vestido estava manchado com sangue e ela olhava pra mim como se eu fosse culpado, então eu acordei com o sol queimando meu rosto, vindo da grande janela que ficava no meu quarto, meu coração estava acelerado, o sonho devia ter sido resultado da noite anterior, minha culpa me consumia, naquele mesmo dia a tarde meu pai disse que me levaria novamente a boate, eu não queria voltar lá, mas essa era a minha chance, precisava achar a garota, ajuda-la, me desculpar, mas tinha que ser escondido, corri na cozinha peguei, alguns doces, e frutas coloquei na minha mochila, era assim que eu imaginava que poderia me desculpar com ela, Dom Costello e madame Deuvax sempre me compravam com essas coisas quando me faziam algo ruim.
Mais tarde fomos a boate, passei pelas garotas na vitrine, eram convidativas, mas meu pensamento ia ao que elas precisaram passar para estarem ali, disse ao meu pai que eu mesmo iria até as garotas do zoológico, para mostrar a elas quem mandava ali, Dom Costello ficou feliz, por ver como eu estava me saindo, então me encorajou, _vai lá meu garoto! Essa era minha chance de me redimir, fui até a garota, não sabia o que dizer, naquele dia três estavam trancafiadas em jaulas, quando ela me viu se encolheu no canto, como ela podia estar sentindo tanto medo de mim, eu só tinha oito anos, mas as marcas em seu corpo vieram em resposta a esse pensamento, não soube o que dizer apenas retirei as coisas que havia trazido de casa da bolsa e as depositei ali no chão, próximo a jaula, e saí em disparada, esperando que ela tivesse compreendido meu pedido de desculpas, o que acontece é que as coisas não acabaram ali, fui me tornado cada vez mais parte daquele negócio tão sujo, vez ou outra precisava disciplinar uma das garotas, na hora sentia prazer em fazê-lo depois a culpa me consumia, meu instinto era ser mal, como meu pai Dom Costello e Madame Deuvax a mãe, e todas as vezes ia para casa, acabava bebendo pra esquecer, e sonhava o mesmo sonho, aquela garota que parecia um anjo, mas o fim do sonho sempre era trágico.
Eu estava com 18 completo, quando precisei ir a boate, meu pai disse que havia chegado uma nova mercadoria, que precisava estar a par dela, era uma oportunidade para me desculpar com as garotas feridas da vez e me livrar da culpa, quando cheguei lá assim que entrei no zoológico, logo na primeira jaula eu a vi, a garota que rondava meus sonhos desde que era um menino, eu paralisei, como ela poderia ser real, devia ser resultado de minha bebedeira na noite passada, ela levantou seu rosto para mim, ainda molhados e amedrontados, além do fato de ela ser a garota dos meus sonhos, era linda exatamente como no sonho, tinha cabelos negros compridos que caim por sobre seu ombro e braços encolhidos que seguravam os joelhos, apesar da situação em que se encontrava, ela continuava linda como um anjo, algo nela me desafiava, eu despertei do transe e voltei a lucidez, ela não mudaria em nada em minha vida, repeti o mantra de meu pai mentalmente, "todas elas são apenas mercadoria", queria dizer o quanto ela era linda e o fiz, mas o contrário disso veio a ameaça, sua beleza a traria problemas, deixei os alimentos que havia trazido ali, fui ver as outras garotas, algumas eu conhecia desde a infância, de certa forma eram as únicas pessoas com quem eu realmente conversava, mas nunca nos aprofundávamos em nenhum assunto além de suas feridas e que ficariam bem, terminei com elas, peguei minha mochila e dessa vez pedi para que o segurança não me levasse, precisava caminhar, arejar a cabeça, como isso estava acontecendo? Aquilo não podia ser real, a caminhada de horas pareceu minutos, meus pensamentos não saiam daqueles olhos negros, eu sorria, mas ao mesmo tempo sentia ódio pelo que ela causava em mim, tentava afugentar o pensamento novamente, repetindo o mantra de meu pai mentalmente, mas eles sempre voltavam a ela, a garota dos meus sonhos, já era noite quando cheguei em casa, subi as escadas, tomei um banho e me deitei na cama, pela primeira vez não precisei de bebida para dormir, o cansaço tomou conta de mim, eu só pensava nela, aqueles lindos olhos, então adormeci com sua imagem real em minha mente.
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Aprisionada
RomancePrólogo Princesa Made, como dizia seu pai, aos doze anos perdeu a mãe aos 8 para o câncer, desde então tinha que lidar com um pai calado e depressivo, que quase nunca estava em casa, que trabalhava demais para pagar as dívidas que havia adquirido c...