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+Lee Seokmin+

Meus dedos se apertam em volta do copo de cerveja. Queria me distrair dos meus pensamentos não muito claros, no entanto, a bebida não me traria nenhuma vantagem. A música que deveria tirar meu foco, só me irrita e por consequência, traz lembranças as quais só mexem mais comigo e me confundem.

Era a mesma música que tocava quando dancei com Soo Yun em seu quarto e quase a beijei.

A mesma melodia que ouvi enquanto me perdia em seus olhos.
Eu estou completamente perdido, essa é a verdade.

— O que aflige esse seu coração sofredor, meu amigo? — Reconheço o cheiro do cachimbo antes da voz de Jeonghan. Ele se senta ao meu lado esperando por uma resposta e me avaliando ele fuma o tabaco de seu cachimbo.

Eu quero contar, apenas não sei por onde começar e meu silêncio não passa despercebido pelo mais velho que apenas sorri e afaga minhas costas como se me consolasse.

— Eu tentei, tentei esquecê-la, mas nenhuma moça me interessa e prende minha atenção da mesma forma que ela e para onde olho, lembro que sou um idiota que se apaixonou por quem não deveria. Jeonghan, por que as coisas não podem ser mais fáceis?

— O amor nunca é fácil, Seokmin. — Ele nega depois de soltar um longo suspiro. — Está precisando desabafar. Me conte mais sobre ela.

— Ah ela é tão bela, mesmo quando não está arrumada, é inteligente e eu poderia ouvi-la falar das coisas que sabe por horas e horas, ela tem um olhar frio e um sorriso afiado que mexem comigo. — Apenas o sorriso do meu amigo serviu para descobrir o quão bobo eu estava sendo. — Embora eu queira muito ter ela do meu lado, eu não posso. Não posso a querer porque somos de mundos diferentes, não posso arrasta-la para a confusão em que vivo e pedir que desista de tudo por minha causa, ela tem o irmão, talvez o pai. Eu nunca serei o seu final.

Quando notei, as palavras já me escapavam e talvez eu esteja mais alterado do que o esperado. Muito embora eu esteja tão lúcido a ponto de conseguir vislumbrar perfeitamente seu sorriso.

— Essa é a coisa mais absurda que já ouvi. — Ele solta a fumaça e sem pedir permissão, bebe o resto da minha cerveja.

— Absurda?

— Olha, você está dizendo que não pode ficar com ela, mas não porque não quer e sim porque não pode. Quando na verdade está com medo de viver algo e sair machucado. — Jeonghan acertou em um ponto importante e não pude fazer muito além de ouvi-lo. — Se quer meu conselho eu te digo. Se puder escolher viver algo com a mulher por quem se apaixonou, viva e pare de pensar no que virá depois. Se o destino resolver separar vocês, então vocês dão um jeito e se resolvem. Sem arrependimentos.

Destino... Essa palavra me persegue por anos e pela primeira vez eu quis fugir dele ao invés de o aceitar de braços abertos.

— Sem arrependimentos... — Repito suas palavras, como um lembrete para mim mesmo. Tenho a impressão de que ele me diria mais alguma coisa, mas Mingyu o chama e aponta para as bebidas na mesa e Jeonghan só me pergunta se quero me juntar a eles, porém nego seu convite para sair da taverna e fugir de todo barulho.

Não foi muito efetivo, havia tanta coisa acontecendo do lado de fora quanto no de dentro. O mundo pareceu desacelerar por um minuto e recebendo o vento frio da noite no rosto eu recupero minha consciência.

Vejo Jihoon ao longe, caminhando com calma e chutando as pedras em seu caminho. Saber quem ele foi para Soo Yun me despertou esse medo, o medo de ter o mesmo destino que ele. Não quero ser algo momentâneo para ela, um mero amor de verão que ela teve que abandonar por causa da vida que escolhemos levar.

Esperava vê-los juntos, contudo, ele está sozinho. Fiquei triste a uns dias atrás quando os encontrei se reconciliando, nem tive coragem de devolver seu casaco e agradecer por ter me acalmado durante a noite, não porque estava com ciúmes, ela mesma me disse que não sentia mais nada naquela noite em que nos embriagamos, mas porque ele foi mais corajoso que eu e arriscou se machucar para viver algo ao lado dela um dia. É algo como uma inveja branca, mas que é tão ruim quanto qualquer tipo de inveja.

— Onde ela está? — Pergunto antes que possa medir minhas palavras.

— Ela quis ficar no navio. — É a única coisa que diz ao passar por mim, mas ouço seus passos cessarem. — Capitão Lee, não sei o que há entre vocês dois, mas se tem algo a resolver com ela deveria ir logo. Soo Yun não é o tipo de mulher que espera para sempre.

E então ele seguiu para dentro da taverna sem esperar por uma resposta. Foi como um balde de água no rosto para me acordar e respiro fundo vendo sua figura sumir através das portas que se fecham atrás dele.

— Sem arrependimentos... — Foi o que bastou para eu começar a correr.

A taverna fica no final do porto e o Noite eterna está atracado no começo, as pessoas me encaram quando passo correndo e desviando delas. O vento sopra a minha volta e trás o cheiro do mar, levando também meu chapéu, muito embora eu não me importe, só ganho mais lucidez quando sinto o frio no rosto.

Não sei o que vou dizer, muito menos fazer, só preciso vê-la.

Como se ela fosse uma miragem de um marujo louco que desapareceria antes que eu perceba. Cada passo me faz tremer, mas sigo em frente.

Ouço o grito de Jisoo me chamado pela rua quando passo por ele, contudo, o ignoro e continuo a correr sob a noite estrelada naquele extenso porto.

Meus pés doem e pela primeira vez não é por causa de uma mera indecisão. Estou tão certo disso que vou tentar minha sorte e seguir até encontrá-la, meu coração pula contra meu peito a cada passo como se eu estivesse me preparando para ouvir os canhões estourarem em um confronto. As pessoas me xingam quando passo correndo quase esbarrando nelas, mas mal tenho cabeça para pedir desculpas, nem ligo muito para isso.

Tudo está escuro, exceto pelo céu repleto de estrelas.

Não me preocupo em fazer pouco barulho quando subo a bordo do meu navio, estava ofegante, mas não importava quando sua imagem era a única coisa que consegui focar. Ela estava lá, debruçada sobre a balaustrada, concentrada nas estrelas que tomavam o céu e segurando o chapéu em mãos ela desvia a atenção do céu para o mar.

— Soo Yun...

— Achei que estaria com os outros, capitão.

Tento recuperar o folego, muito embora tudo nela me tirava o ar. 

Agradeço aos céus quando meus pés não vacilam e consigo andar até ela.

— Eu precisava... Precisava te ver. — Suas sobrancelhas se juntam em confusão. — Eu tenho andado distante e...

— Vá direto ao ponto, Seokmin.

Já estava perto o suficiente para poder observar o céu através dos seus olhos e ver os fios de seu cabelo que se moviam com o vento. Soo Yun não recua quando me aproximo mais e invado seu espaço, ela nunca se intimidou ou demostrou medo de mim, nem mesmo quando nos conhecemos, pelo contrário, sempre me encarou como se mostrasse que não recuaria.

— Seokmin?

— Não posso mais.

— Não pode mais o quê? — Seus olhos passeiam pelo meu rosto, sua voz soa baixa como um feitiço e perdendo as estribeiras eu a respondo.

— Ficar longe de você.

Foi a minha deixa para fechar o espaço que restava entre nós e lhe roubar um beijo.

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Black Pearl » » Lee SeokminOnde histórias criam vida. Descubra agora