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Não prestei atenção no homem que remava o pequeno bote a minha frente, não conseguia me localizar em que direção estávamos seguindo, ou para onde. Eu só queria acordar em minha cama, com minha mãe cantarolando pela manhã e me chamando para o café, dizendo o quão feliz está porque papai está em casa, assim como nesta manhã.

Se eu soubesse que aquela seria a última vez que a veria sorrir e sentiria suas mãos acariciando meus cabelos eu teria ficado mais ao seu lado. Se houvesse maneira de saber, eu teria aproveitado aquele último passeio ao lado de meu pai. Apesar da tristeza que me consome a cada minuto, não consigo chorar, não mais. É quase como se estivesse petrificada, congelada naquele instante, quase não consigo respirar.

— Você não vai desmaiar, vai? — Sua voz faz com que eu tire as minhas mãos do rosto, mas não tenho forças para encará-lo, a aba do chapéu que ele usa cobre parte de seu rosto de qualquer forma. Apenas nego com a cabeça, afirmando que estou bem e o ouço concordar.

O bote balança com as ondas conforme nos afastamos da terra firme e procuro me entreter com algo que não seja o homem a minha frente, só agora me recordo do papel amassado em minhas mãos e rezo para o que quer que esteja escrito ainda esteja legível.

Tiro o cabelo solto do rosto e respiro fundo, tentando encontrar algum pingo de coragem para ver o que meu pai havia escrito. Ignorando o olhar do pirata sobre mim eu trato de sanar minha curiosidade.

A princípio não era nada de mais, nada além de números sem nexo nenhum, mas logo abaixo havia uma localização e o nome de um galpão.

"Importante. Não esquecer de entregar ao Capitão Lee."

Provavelmente aquela era a localização da mercadoria que meu pai deve à eles, um dos muitos lembretes que ele fazia por ser muito esquecido. Decido manter isso comigo por enquanto, afinal eu conheço pouco do "Capitão Lee" e o que eu menos preciso agora é de ter que escolher depositar minha confiança ou não em alguém que provavelmente não tem boa índole.

— Senhorita Moon. — Ergo meus olhos em sua direção, consigo ver um mínimo sorriso em seus lábios. — Bem-vinda à bordo, Princesa.

Seu tom quase irônico me faz controlar o impulso de revirar os olhos. Me viro para ter a visão do navio, que mesmo na noite escura se destaca. As velas em um bege claro contrastam com o casco de madeira escura e detalhes em azul marinho, era de fato magnífico e enorme, pelo número de canhões que posso contar eu afirmo que tem um imenso poder de fogo, a serpente entalhada na proa só o torna intimidante e bonito aos meus olhos.

Ao homens no convés logo nos avistam e se preparam para nos ajudar a subir, em antemão os outros se apoiam na amurada para ver o que está acontecendo. E além de tudo que aconteceu eu ainda serei o centro das atenções, perfeito...

São em média vinte homens, todos em sua aparência pouco refinada e despojada, apenas no convés, que param de fazer o que quer que estão fazendo para dar atenção a nós dois, o cheiro de álcool embrulha meu estômago. Olhares confusos e perguntas soltas são tudo o que recebo.

"Onde está o Moon?"

"Quem é a gatinha?"

"Qual será a nossa carga?"

"Ela é uma recompensa?"

O barulho que eles fazem é tanto que o capitão precisou assoviar para pedir silêncio e conseguir falar.

Black Pearl » » Lee SeokminOnde histórias criam vida. Descubra agora