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— O que faz aqui?

— O mesmo que você. — Ele se aproxima com água e ataduras e se abaixa perto da minha perna. — Fugindo.

Assinto sem forças para falar e deixo que cuide do ferimento em minha perna. Seungcheol era a ultima pessoa que esperava encontrar aqui, não esperava vê-lo nunca mais.

A família Choi.

Nos conhecemos desde criança, Choi Minki, pai do homem que me salvou sempre fora amigo do meu pai. Ele sempre quis unir nossas famílias, acredito eu, que para ter uma relação mais sólida que a amizade e um meio de não quebrar acordos comerciais entre os dois. Seungcheol cresceu comigo, o filho do meio dos Choi, éramos amigos quando crianças e acabamos por nos distanciar enquanto crescíamos. Minha única certeza era que quando Seungcheol aparecesse em nossa casa como um pretendente, meu pai estaria tão desesperado que aceitara a oferta do senhor Choi.

Mas isso nunca aconteceu.

Seungcheol havia deixado sua casa e sua família há uns dois anos, sem explicação ou motivo aparente, ele foi embora sem olhar para trás. Seu pai ficou possesso na época e nunca mais tocou no assunto, não ouvi o nome de Seungcheol desde então. No entanto aqui está ele, depois de anos, cuidando da minha perna machucada e me salvando no último minuto.

Desta você se superou, universo, parabéns.

— Como soube que era eu na rua? — A pergunta sai antes mesmo que possa pensar sobre a situação, talvez eu esteja muito esgotada para raciocinar agora.

— Não sabia, mas estava de olho no quartel. Você causou uma bela bagunça, então percebi que precisaria de ajuda quando se atirou no mar e ele praticamente te engoliu.

Um sorriso é tudo o que ganho quando ele se levanta, estava tão diferente do que me lembrava, mas leve de alguma forma.

— E resolveu me ajudar sem nem saber quem eu era?

— Qualquer pessoa que esteja contra a marinha, e o reino, é um grande aliado em potencial. Tenho certeza que nada disso aconteceu por acaso. — Ele estende a mão para que eu segure e me levante. E assim o faço. — Mas talvez esse seja um assunto para outra hora. Tenho um quarto vago lá em cima e posso conseguir algumas roupas e comida para você.

Juntos subimos as escadas e em silêncio ele me leva até o quarto. Estava limpo e organizado, apesar de parecer que ninguém entra aqui a um tempo, uma janela ao lado da cama dá vista para o céu e outras construções que escondem o lugar em que estamos.

Tenho uma ótima visão do farol que agora está aceso. Eu não sabia em quem confiar agora ou como sairia desta situação. Claramente, Seungcheol não confia em mim, ele está sendo muito vago e misterioso, muito diferente do garoto sorridente de que me recordo. Muito se passou desde então e muito deve ter acontecido.

Logo ele volta, trazendo roupas novas, que não eram diferentes das que eu estava usando, e um pouco de comida em uma pequena tigela. Há muito tempo não comia comida de verdade, quando vi os hashis em sua mão eu apenas os peguei sem nem esperar que ele diga algo. Arranco um sorriso seu que pede espaço para se sentar na ponta da cama.

— Quer me contar o que aconteceu? — a voz do Seungcheol sempre teve este mesmo tom, calma e forte. Ele sempre estava lá para fazer a mesma pergunta quando me via mal por algum motivo. —  Quer contar como chegou até aqui?

— Não sei se estou em condições, Seungcheol. Não hoje. — Apesar de tudo eu confiava nele, mas depois de tudo o que houve hoje, contar minha história é a última coisa que desejo. — Muito aconteceu e tudo o que eu quero é descansar.

Black Pearl » » Lee SeokminOnde histórias criam vida. Descubra agora