Hoje pela manhã fiquei olhando a lista de contatos do meu celular, procurando alguém para quem ligar, só para ouvir aquela velha conversa de que tudo vai dar certo, que as escolhas feitas pelo coração dão vida ao sonho e que as dificuldades aparecem se dissipam com as dores da alma. A vida é clichê: sorrir, chorar, refletir, desistir, sonhar, tentar, se desculpar... E ouvir sobre o clichê acalma os pensamentos de quem quer que seja.
Infelizmente, para chegar aonde quero, tive que largar mão de algumas coisas. Ou melhor: tive que rever minhas prioridades. Meu trabalho que me suga muito e, como consequência, acabo me distanciando dos meus amigos da minha família. Coisa que me dói muito, mas não há o que fazer. Perdi casamento de amigos, formaturas, aniversários e até algumas namoradas - e toda escolhas estavam repletas de razão. Mas encarei tudo isso com plena consciência de que eu havia feito uma escolha. E, por mais que eu me esforce para estar presente na vida de quem amo e dar a eles a devida - e merecida! - atenção, não dou conta de abraçar o mundo. Bem que eu queria!
Muitas pessoas não compreendem. Aí vem aquela chuva de opiniões (até mesmo de quem nem nos conhece) e de cobranças. É muito difícil pra alguém tão comum quanto uma banana de feira continuar sendo simples e leve diante de tanta demanda e pressão. Ouvir tanta crítica, proposta, opinião e mesmo assim continuar acreditando naquilo que a gente acha certo é coisa para poucos - espero um dia ter maturidade suficiente pra isso. Conseguir fazer o que se ama e ainda transformar isso em ganha pão - de uma forma que os ideias continue ali, não necessariamente intactus, mas sorridentes e esperançosos - é uma conquista e tanto.
Confesso que às vezes, depois de um dia de gravação ou de trabalho corrido, chego em casa de madrugada e fica quieto, sozinho. E, para eu me sentir menos só, abro a janels para ouvir os carros passarem ou ligo a televisão para que alguma voz preenche em um ambiente. Mesmo não sendo muito fã da rotina, acredito que ela tem uma função importante, nem que seja apaziguar o vazio impedir que coabitemos com a própria loucura. Para que a gente entre no automático, pense menos. É claro que pensar demais leva a postergação da realização dos sonhos. Mas, volta e meia, quando paramos para pensar na direção que estamos seguindo, as dúvidas nos invadem e nos fazem questionar se estamos no caminho certo. Mas só cada um sabe o mistério de ser quem é. De fazer suas escolhas de arcar com os desafetos que elas trazem. Não dá para ter completa certeza das decisões que tomamos nem responder as expectativas sem deixar uma ponta de frustração.
Espero um dia ler esse texto me dar conta de que conquistei tudo que imaginei que conquistaria. E que, caso isso não aconteça, eu não me arrependo das minhas escolhas. Que eu saiba sempre admitir minhas fraquezas e lembrar que elas não fazem de mim alguém pior. Elas fazem de mim quem sou e, com certeza, me farão companhia até o fim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Só a gente Sabe o que Sente
Non-Fiction"Hoje pela manhã fiquei olhando a lista de contatos do meu celular, procurando alguém para quem ligar, só pra ouvir aquela velha conversa de que tudo vai dar certo, que as escolhas feitas pelo coração dão vida aos sonhos e que as dificuldades aparec...