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O sol já havia se posto há algum tempo e, assim como ele, me pus a admirar as estrelas.

Sentada perto da grade que cercava a varanda, eu tentava imaginar desenhos com os milhares de pontinhos brilhantes do céu escuro. Com os desenhos, figuras surgiam em minha mente e histórias eram criadas e contadas com entusiasmo às estrelas e à lua.

De repente me ocorreu que talvez eu quisesse alguém ali, mais perto que os astros do céu, para ouvir e criar histórias comigo. Alguém que me entendesse pelo menos um pouquinho ou que fosse tão sozinho quanto eu. Alguém que mesmo que as palavras cessassem e só houvesse o silêncio, e mesmo depois que a felicidade acabasse ainda escolhesse ficar.

Perdida em pensamentos, não percebi quando entrou e se escorou na parede ao lado da porta que dava pra dentro do cômodo escuro. Assim como tênue fora sua chegada, não percebi quando soube que estava ali, tampouco sabia se podia confiar na minha intuição.

Arrastando os pés pelo piso de madeira, sentou-se perto e, involuntariamente, o observei. Com a postura relaxada ele olhava pra cima, pro céu que sempre ouvia o que eu tivesse a dizer. A brisa noturna bagunçava levemente seus seus cabelos, o rosto ainda sem expressão.

Durante algum tempo permanecemos assim. Quando seus olhos encontraram os meus um arrepio percorreu minha pele. Seus olhos, diferente de seu rosto inexpressivo, estavam tristes e brilhavam como se uma galáxia inteira existisse ali.

Sentindo coisas que pareciam complexas demais a primeira lágrima caiu e depois outra até que estivessem adornando continuamente a pele macia. Surpreendentemente o choro silencioso vinha de mim. Ele sorriu e acariciou minhas bochechas tentando se livrar das lágrimas enquanto de seus lábios saía uma doce melodia.

A familiaridade me acertou como um soco e não sei ao certo quando o abracei e, mesmo surpreso, continuou cantando e me aninhou em seus braços até que eu caísse em um sono leve e livre de sonhos.

Eu estava em casa afinal.

sunset • sonhos de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora