Capítulo 6

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- Isso é nojento Simon! - falei após ver um zumbi tendo a cabeça esmagada em The Walking Dead.

- Por isso que é legal Josh! - disse ele sem tirar os olhos da TV.

Simon era viciado em The Walkind Dead e, nesse momento, após termos chegado do hospital e já termos comido algumas besteiras que encomendamos, estávamos maratonando uma das temporadas. Seu personagem favorito era o Daryl Dixon e eu ria toda vez que Simon imitava ele.

Os ponteiros do relógio já seguiam em direção às onze horas e eu acabei decidindo, após o final de mais um episódio, ir dormir. Me despedi de Simon, que provavelmente iria ficar até altas da madrugada, e segui em direção às escadas. As vezes eu me perguntava como Simon conseguia ter tanta energia, mas acabava me lembrando que eu é que tinha pouco delas.

Antes de virar e ir em direção ao meu quarto, olhei uma última vez para ele lá de cima e meu coração apertou de felicidade, ao vê-lo ali são e salvo. Me lembrei de papai na cama do hospital e senti meus olhos começarem a marejar. Me virei e fui em direção a porta, já sabendo que eu iria chorar litros antes de conseguir dormir e confirmar que eu merecia meu título no Guinness Book de 'pessoa que mais chora no mundo'.

Vesti meu pijama depois de escovar os dentes e segui em direção à cama, me deitando e soltando um leve gemido de satisfação ao sentir a textura do lençol e dos cobertores tão aconchegantes. Respirei fundo e, aos poucos, comecei a acalmar minha respiração, iniciando um dos exercícios meditativos que Dra. Natália havia me ensinado para ajudar na assimilação de acontecimentos diários e semanais.

Fechei meus olhos e imaginei uma peneira balançando periódica e calmamente, ao mesmo tempo em que, sobre ela, caíam grãos de areia de diversos tamanhos. Alguns passavam facilmente, outros não. Assim que vi que era o suficiente, parei a correnteza de areia e, um a um, comecei a martelar os grãos maiores que não foram assimilados.

O acidente de papai foi um dos primeiros a aparecer. Continuei controlando minha respiração e fui aos poucos revivendo todo o acontecido, tentando ao máximo não acelerar a respiração. Assim que terminei e percebi ter assimilado, segui para o próximo.

Uma grande pedra vermelha se materializou em minha frente e, aos poucos, ela foi derretendo e se transformando em algo viscoso da mesma cor: sangue. As lembranças do acontecido com Violet vieram a tona e junto com elas, a notícia que recebi ao descobrir que não tinha o mesmo sangue de meus pais. Minha respiração começou a oscilar intensamente e com muita dificuldade dessa vez, controlei ela após várias tentativas. Segui em frente.

Fui atingido dessa vez pelo rosto de Kaleb e meu coração acelerou. Logo em seguida, o olhar de Lucien me penetrou e perdi o resto do controle que me restava, enquanto minha respiração se tornava ofegante e eu começava a ouvir o som de teclas sendo apertadas.

Abri meus olhos bem a tempo de ver meu notebook ligado e algo sendo digitado na aba de pesquisa do Google. Um endereço apareceu: Rua do Fim do Mundo, 666, e eu comecei a tremer de medo ao ver aquilo. Me levantei e reparei que o local realmente existia e que ficava no final de Lake of Lights. Anotei o endereço e desliguei a máquina me certificando de que ela não ligaria mais e voltei correndo para a cama, na tentativa de esquecer o que tinha acabado de ocorrer e, como sempre, fingir que nada de bizarro tinha acontecido.

Com muita dificuldade, o sono foi se apropriando de mim e, aos poucos, senti minhas pálpebras ficarem pesadas e se fecharem.


As sete horas da manhã eu já tinha preparado o café e assim que terminei de lavar algumas louças, Simon apontou descendo as escadas.

- Bom dia Kannenberg! - anunciou ele bocejando.

Entre o Bem e o MalOnde histórias criam vida. Descubra agora