Capítulo 6 - Quando tudo estiver perdido, sempre haverá uma mão para segurar ✎

137 28 10
                                    

“

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

“... Mas confesso que a mim nada disso me encanta. Prefiro infinitamente um livro...”
Orgulho e Preconceito - Jane Austen

    O chá da tarde era um dos momentos favoritos de Louise, pois sempre haveria um bom papo e  café quentinho para tomar; Tia Emma sorria e lhe dizia que hora do chá não incluía café, mas ressaltava que para sua sobrinha favorita — e única —, ela abriria uma exceção. A mesa estava decorada com um vaso de cristal e flores recém colhidas do jardim, dentre elas, um girassol que chamava bastante a atenção da morena.

— Você ainda não contou o que achou sobre o passeio, gostou do Vale dos Girassóis? — Emelaina pôs os lábios cheios na xícara favorita enquanto estudava a expressão de sua sobrinha.

— Está querendo saber sobre o Chang, não é? — Lou sorriu divertida ao observar a face misteriosa de sua tia se desfazer em uma gargalhada cuja sonoridade preencheu a cozinha. — Foi uma experiência única, daquelas que a gente não esquece de jeito nenhum. Quanto ao Chang, bem, até que ele é legal. Posso apreciar o meu café em paz, Sra. Thompson?

— Ele é tão legal que te deu um colar, já percebeu o que isso significa aqui, não é? Somos antigos e românticos, acho que é a identidade de Shell Valley, mas isso não significa que nossas mentes devem estacionar no tempo. — Elas sorriem com cumplicidade e ficam em silêncio depois de um tempo, apenas comendo biscoitos salgados de queijo.

— Tudo nessa cidade é tão peculiar, tão belo e único. Me sinto mais próxima da natureza e definitivamente, me sinto em casa, como nunca me senti antes. — Emma depositou a xícara em cima da mesa e seu olhar transmitia uma serenidade reconfortante.

— Ah, Loulou... Pode passar quanto tempo quiser, meu coração, meus gatos e minha casa sempre estarão aqui, mas cedo ou tarde, você terá que voltar e resolver sua vida. Seja para colocar uma vírgula ou um ponto final. Agora, temos que ir. Um longo dia de limpeza nos aguarda e dessa vez, eu pedi reforços.

[...]

   Ao adentrar na biblioteca, Louise fora surpreendida com novos integrantes para a antiga dupla da limpeza que agora se tornara uma equipe. Mei Ling e Chang conversavam animadamente enquanto Lou observava uma idosa de cabelos brancos e pele cor de chocolate, dois homens bastante afetuosos trocavam carícias e um rapaz com gosto inusitado para roupas fazia passos aleatórios de dança.

— Louise, quero que conheça meus amigos, pessoas essenciais na minha vida. Sei que você já conheceu a Mei e o Chang mas é sempre bom tê-los conosco. — Aquela é a Sra. Young, Fred e Lauro, que são casados há mais de dez anos — eu não sei como o Lauro aguentou por tanto tempo —, e este é o Shine. Claro que ele tem um nome, mas prefere o artístico.

  Todos se apresentaram de forma breve e Lou sorriu para os amigos de sua tia, feliz por saber que ela não estava tão sozinha quanto pensava. Porém, Emma não abriu espaço para mais conversas, cada um começou a desempenhar sua função: Lou ficou com organizar os livros e Chang tratou de remover as teias de aranha, Shine passava o esfregão no chão com um aroma cítrico dançando ao som de Alicia Keys e Emma se encarregara de trazer biscoitos e limonada. A sra. Young limpou os utensílios de decoração, Fred e Lauro cuidaram da mobília.

   Lou sempre que podia, se esquivava de quaisquer contato com Chang. Ela não gostava de fazer isso, mas sentia-se insegura perto dele, mesmo que Jin fosse diferente de todos os rapazes que conhecera. Talvez, seu medo seja exatamente esse: achar que ele poderia ser diferente. Chang percebera uma certa estranheza, mas havia dado o espaço que a morena aparentava querer. Será que ele havia feito alguma coisa errada? Levá-la no Vale dos Girassóis havia sido precipitado?

   Enquanto isso, Louise direcionava sua atenção para sua maior paixão nessa vida: livros. A estante de romances clássicos sempre fora sua favorita, por isso, não hesitou em folhear Orgulho e Preconceito, mas se deparou com algo inusitado caindo em seus pés, um papel amarelado e cheio de dizeres.

  Querida Bibliotecária,

Você está tão linda quanto o resplandecer do sol hoje pela manhã, quem dera eu não fosse  um covarde para entregar-te todas as juras de amor que sussurro aos quatro ventos assim que a vejo transitar entre esses corredores que parecem tão pequenos diante de sua grandiosa beleza. Eu fico aqui, à espreita de um sorriso teu, perguntando-me se quero mais cubos de açúcar no meu café que sempre parece tão amargo sem teus sorrisos e gentileza. Hoje será mais um dia que perdi a coragem de chamá-la para sair e conhecer meus talentos com piada. Por que um raio de sol fica triste quando chove? Eu não vou explicar aqui, mas quem sabe quando encontrar esse bilhete possa questionar-me e terei o maior prazer em explicar minhas insanidades poéticas.

                                                                                                           Secretamente, seu.


   A carta não tinha remetente nem data, porém, Louise sentia em seu coração que iria desvendar uma grande história de amor ou quem sabe, esse bilhete fosse apenas um rascunho. Tantas dúvidas surgiram, uma euforia tão contagiante tomara conta de seu sorriso. Quando ouviu uma voz chamando-a pelo corredor, apenas guardou a carta no bolso e se juntou aos outros no intervalo feito para apreciar a limonada e os biscoitos frescos, mas algo em seu dia mudara completamente e ela não desistiria até encontrar o desfecho dessa história.

Querida Bibliotecária | INCOMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora