Todos os humanos são musicais. Por que outro motivo o Senhor daria a vocês um coração pulsante?
- As Cordas Mágicas, Mitch AlbomPoucas coisas na vida podem ser tão reconfortantes quanto a sensação de dever cumprido, transformar um sonho em realidade era algo indescritível; como se todas as outras coisas fossem possíveis agora. Emma suspirou fundo, pondo as mãos no quadril, observando o trabalho de semanas com seus amigos, ou melhor, sua verdadeira família.
— Acho que isso merece uma comemoração, topam? — sugeriu, notando Shine e Louise num papo engraçado, envolvidos animadamente em uma amizade que começava aos poucos.
— Claro, tia Emma! Nosso esforço deve ser recompensado. Nem só de biscoitos vive os trabalhadores bibliotecários, não que eu esteja reclamando. Amamos seus biscoitos de mel. — Todos sorriem com a observação de Lou, repleta de um humor nunca visto por Emma desde que sua sobrinha chegara.
— Ótimo! Tenho um lugar perfeito para nossa comemoração. Finalmente acabamos, agora vem a parte mais difícil. Estou ansiosa para reabrir a biblioteca, mas precisamos do aval do prefeito. — Emma suspirou fundo, ajustando seu coque perfeitamente preso, por alguns segundos tivera medo que tudo fosse em vão.
— Não se preocupe, Emelaina. Estamos do seu lado para o que der e vier, se precisar que montemos uma biblioteca no seu quintal, faremos isso. — Chang sorriu, esboçando em seus lábios toda a sua sinceridade e carinho pela melhor amiga de sua mãe.
— Obrigada, Chang! Você é tão doce quanto os meus biscoitos de canela e chocolate. — respondera feliz, ignorando a sensação ruim que se formara em seu peito.
— Já disse que esse homem é incrível? Se você não o agarrar, eu mesmo farei isso, Lou. — Shine sussurrou enquanto Chang Jin fingira não ter escutado. Porém, não evitando olhar para Louise e sorrir.
Emma observou a limpeza do local, faltando apenas a organização dos livros. Alguns teriam conserto e outros não, porém, ela ainda estava decidindo o que faria. Fechando a biblioteca, sentira um amor incondicional pelas mesmas pessoas que alegravam sua tarde e sua vida todos os dias. Emelaina era feliz, muito mais do que seria seguindo a carreira de contadora, ou na construtora de seus pais. Por isso, o relacionamento com seu único irmão, Eduardo Thompson era tão corrosivo; ele odiava imperfeições e Emma adorava não ser perfeita. Todos caminhavam lado a lado na calçada espaçosa, entre sorrisos e conversas fiadas, não haveria nenhum outro lugar do mundo igual a Shell Valley.
[...]
Ao chegar na lanchonete, Louise sentira uma alegria quase infantil ao constatar que tinha um karaokê no estabelecimento, ao lado de Shine, eles foram animadamente verificar a lista de músicas, dando gritinhos eufóricos ao notar melodias pop dos anos 90. O lugar era bem simples, não tão cheio quanto as demais lanchonetes do centro da cidade, fazendo-a crer que era quase uma tradição de sua tia ser a clientela fiel de lá. Não tardou em ter certeza de sua dedução, pois Emelaina já estava debruçada pelo balcão, pedindo uma pizza com bastante queijo e molho, papeando com os funcionários. Formando uma mesa maior do que as comuns, os mais velhos começaram a falar sobre assuntos de sua adolescência, fazendo com que Shine, Louise e Chang não tivessem outra escolha além de partir em direção ao karaokê.
— Eu sempre cantava nos jantares em família e em festas de fim de ano, era a nossa tradição, nos eventos mais importantes. — Comentou ao tentar escolher as músicas para sua apresentação pessoal.
— Não lembro muito bem das minhas tradições em família, eu não tinha isso, somente quando Emma estendeu sua mão generosa, ser "adotado" aos 18 anos não foi fácil. Ela é como uma mãe para mim. — Shine agora estava com uma sombra rosa que combinava perfeitamente com a jaqueta de mesma tonalidade.
— Ela me falou poucas vezes sobre você, nossos horários não se batiam, sempre fiquei ocupada demais com o trabalho e a faculdade. — a morena suspirou fundo, observando Shine se posicionar e ligar o microfone. — E quanto a você, Jin? Fazia grandes coisas no natal?
— Nada especial, nosso primeiro natal foi quando meu pai sumiu de casa. Emma fez questão de nos levar uma torta de maçã e seus famosos biscoitos. Eu chorei embaixo das cobertas perguntando ao "Papai Noel" se tinha sido um menino mau para que o meu pai fosse embora. — Ele sorriu, feliz por Louise iniciar uma conversa depois de semanas o evitando. — Ah, isso é bobagem, meu pai ter saído de casa foi o ato mais empático que fez por nós. Agora sempre passamos o natal em família: eu, Emma e a mamãe.
— Desculpem interromper o papo sentimental, mas o Shine aqui precisa brilhar mais, se isso for possível. — todos gargalharam na mesa ao longe, Louise pôs uma mecha de seu cabelo cacheado atrás da orelha, tímida ao observar o olhar intenso do asiático. — A próxima é de vocês.
Quando o playback de "I Wanna Dance With Somebody" da Whitney Houston começou a tocar, Shine exibia todo seu talento vocal, impressionando não só Louise, mas os poucos clientes ficaram extasiados com a afinação do garoto. Seus olhos escuros transpareciam alegria, um brilho que somente alguém como ele poderia ter; ela sorriu e o parabenizou, gritando de excitação com a cantoria impecável. Quando a música acabou, palmas tímidas foram distribuídas para o talentoso cantor amador.
— Eu sei, eu sei. O Shine aqui deixou a plateia ensandecida. Obrigado, obrigado. — de forma convencida, ele deixou o pequeno palco, porém, antes de ir resolvera escolher uma música para Louise. — Essa música é especial, Loulou. Mas está em dueto, boa sorte, Chang.
Deixando os dois sem entender nada, Shine entregara um microfone para Louise e outro para Chang, quando a música começara, Lou sentia um rubor em suas bochechas. Mas, fora surpreendida por Chang a incentivando a cantar. Um dueto romântico de "It Must Have Been Love" da banda Roxette numa cidade do interior, ao lado de um galanteador barato. Nesse momento, a dona do estabelecimento brincou com as luzes do ambiente, deixando tudo mais romântico e acolhedor.
Louise seguia a letra da música, mesmo que já a conhecesse, porém, evitar a intensidade do olhar de Chang Jin era difícil demais e ele estava surpreendendo ao cantar a música tão bem, claro que desafinava várias vezes e nenhum dos dois tinha o talento de Shine. No entanto, um brilho diferente os embalou ao som daquela música romântica. Quando a melodia acabara, ambos ainda trocavam um olhar intenso e os olhos do rapaz buscara o colar de girassol que Lou usava todos os dias. Houve um momento, que durou apenas alguns segundos. Shine os parabenizou e todos voltaram para a mesa, estavam ansiosos para comer pizza e beber refrigerante, exceto Emma que escolhera suco de laranja. Naquela noite em especial, Jin sentira a esperança de ser correspondido por Louise iluminar seu coração, implorando para que ele tentasse novamente.
Se houvesse alguma possibilidade de seu coração bater ainda mais por Louise, Chang não desistiria tão fácil... Mas Lou tinha outros problemas que deixariam o romance em segundo plano por enquanto...
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Querida Bibliotecária | INCOMPLETA
RomanceLouise decide aproveitar as férias da faculdade para visitar sua tia que vive em uma cidade interiorana, distante do caos da capital. Apreciando a orla marítima, o cheiro de fruta fresca e os sorvetes nas tardes quentes, ela resolve usar seu tempo l...