Nascido e criado à sombra do impiedoso parâmetro moral e religioso do pai, Harry Styles aprendeu que todo ser humano estava fadado ao pecado, e que em determinado momento de suas vidas acabariam cometendo algum erro que os roubaria a ascensão ao céu...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
No momento em que a última nota musical soou pela vitrola, as sobrancelhas escuras se retorceram como se amarradas em um nó, o pequeno vinco trazido pela idade sobressaindo em sua testa. Esperou por mais alguns segundos, o som do silêncio invadindo o quarto, antes de pular da cama e retirar o vinil do prato giratório, guardando-o cuidadosamente na caixa.
Esticou o torso apressadamente, tentando alcançar a prateleira mais alta e encaixar o disco de volta ao lugar. Gemidos impacientes escaparam por seus lábios enquanto lutava para abrir espaço entre as pilhas tumultuadas de discos. Voltou para a cama tão rápido quanto saiu, jogando as pernas para debaixo dos lençóis ao sentir o chão gélido congelar-lhe os pés. As palmas das mãos mantinham-se abraçadas contra seu torso, o vinco em sua testa aprofundando-se, refletindo sua crescente introspecção.
Devia ter escutado aquele disco pelas últimas duas horas, uma coletânea das melhores músicas da década de vinte. Apenas cento e vinte minutos depois percebeu o quanto as canções soavam semelhantes umas às outras. Pura monotonia. O fundo era agravado por um instrumental alto, com a bateria sempre marcando o ponto alto do ritmo, o contrabaixo sobressaindo-se junto ao trompete e ao saxofone. O piano, sutil, aparecia em algumas canções, mas não alterava o fato de todas serem iguais.
Comparou, por um breve instante, a similaridade entre sua vida e aquelas canções antigas. Seus dias não eram tão diferentes uns dos outros: podia apontar alguns afazeres extras pela parte da tarde, mas que no final das contas não alteravam em nada, assim como o piano nas músicas. Girou os olhos em torno do quarto, sentindo os dentes superiores e inferiores se chocarem devido ao frio, esforçando-se para lembrar qual fora a última vez que Renton, uma cidadezinha no Condado de King, em Washington, havia atingido uma temperatura tão baixa.
Decidiu ocupar-se ciciando algumas orações, os lábios produzindo um ruído fraco e contínuo, os olhos fechados como um protocolo imposto. Não demorou para perceber que o tom fraco de sua voz o faria dormir em breve. Lembrando-se de como as aulas do Sr. Beasley pareciam se estender mais do que qualquer outra, e como os últimos minutos sempre o deixavam com sono, decidiu que dormir era a melhor alternativa.
Ciente de que o pai já havia repousado, desistiu da ideia de deixar o quarto para desejá-lo boa noite. Antes de fechar os olhos para se entregar ao sono, uniu as mãos sobre o peito e encarou o teto. Pediu por proteção a todos que amava, agradeceu por mais um dia de vida e, por último, rogou a seu Deus que o abençoasse com atividades agradáveis e espirituais, que diferenciassem sua vida daquelas músicas antigas, monótonas e repetitivas.
— Pai, perdoa-me por todos os pecados cometidos hoje. Purifica o meu coração e enche a minha alma com a tua santidade e perdão. Amém.
Mergulhado em suas reflexões e orações, os dias da semana se sucediam sem grandes alterações, como uma repetição quase perfeita das semanas anteriores. O ponto alto de sua rotina foi um breve diálogo com Bernadette Vacchiano durante a aula de física, algo que, embora incomum, não chegou a modificar seus hábitos.