Intruso no quarto 408

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Hotel da Senhorita Byun,
Centro de Seul, Coreia do Sul.
Janeiro de 2019.


Tudo em sua vida parecia acontecer de forma rápida. Por vezes não conseguia assimilar o que estava acontecendo e precisava parar e pensar por qual caminho iria seguir. Mas, mentiria se dissesse que não estava acostumado. Embora isso gerasse alguma dor de cabeça, era bom porque não sentia que estava perdendo tempo de qualquer forma. Era com isso na cabeça que tinha descido do ônibus na estação do centro da cidade, mesmo com o clima horrendo de festas de fim de ano e com muita neve debaixo de seus sapatos, e pego um táxi para ir ao hotel que ficaria hospedado por um tempo. Ainda era início de noite e tinha planos de, pelo menos, traçar seus objetivos para o dia seguinte. Seu tempo naquele lugar seria precioso, principalmente porque só continuaria ali por um período suficiente para dar continuidade aos seus projetos da faculdade.

Não era lá a moradia mais atraente da cidade, mas era o que seu dinheiro, junto a bolsa que ganhou para o desenvolvimento da parte prática do projeto, poderia pagar. E, bem, não era como se ficasse incomodado com isso porque nunca foi de viver com muitas riquezas quando seus pais matavam um leão por dia para conseguir dar-lhe uma vida confortável. Se tivesse uma cama e uma escrivaninha já estava de bom tamanho.

Nada mais que sorte, ter encontrado uma vaga naquela época. Isso era surpreendente, principalmente quando desceu do táxi após pagar a corrida, puxou as malas consigo e ficou alguns minutos observando a fachada da moradia larga e com pelo menos uns três andares. Havia pisca-piscas pendurados nas grades de cada um dos cômodos que tinham uma pequena varanda de frente, para a movimentada avenida; mais alguns enfeites graciosos pelo portão de ferro e, pelo que dava para olhar ainda de fora do hotel, uma árvore grande e super iluminada mostrava que o Natal ainda estava muito vivo no lobby.

Tinha conseguido chegar um pouco mais cedo do que esperado, então, aproveitaria para comer algo, se possível quentinho e saboroso como a comida oferecida na estação definitivamente não era, e descansar a mente por algum tempo até colocar a mão na massa.

Cruzou a calçada um pouco escorregadia por causa da neve, limpando os sapatos ao cruzar os portões parcialmente abertos do hotel. Na entrada, havia bastante movimentação devido a quantidade de hóspedes, que segundo o website que usou para alugar um quarto, era muito alta. Precisou proferir vários "com licença" e "obrigado", e lutar contra seu dom de desastre para não esbarrar em alguém e criar uma tragédia logo no primeiro segundo como hóspede.

Ao se aproximar do balcão, teve de dar seu nome para que a senhora de meia-idade, que colocou os óculos na ponta do nariz, verificasse no caderno desgastado se o nome "Park Chanyeol" constava nas reservas. Teve de abafar um riso, e até desviou o olhar para outro ponto, porque, bem, era engraçado o fato de ter feito a reserva pela internet, mas o hotel aparentemente não ser tão adepto a isso.

Até que um rapaz meio afobado apareceu por trás no balcão, erguendo-se como se estivesse em uma guerra contra algo por trás do móvel de madeira — o que lhe resultou em cabelos bagunçados e suor pelo rosto. Ele deveria ter a idade do novo hóspede, mas com uma paciência até que invejável para com a senhora que ainda folheava o livro.

— Consegui! — exclamou o rapaz, virando-se para segurar no corpo do ventilador e mantê-lo de frente para seu rosto. Parecia ter trabalhado muito, quando nem o frio do inverno tinha sido o suficiente. Chanyeol pressionou os lábios para aguentar o sorriso no rosto. — Tudo bem, senhora Byun, já irei ligar o computador e podemos fazer o cadastro dele! — disse com certa pomposidade, como se o que tivesse feito fosse esplêndido.

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