Capítulo 1 - 9 Meses

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Tem dias que a gente acorda e não sabe exatamente como agir, os sons parecem distantes e as músicas que a gente escolhe nos fones de ouvido parecem mais altas, talvez elas estejam tentando conversar com a parte da minha mente que não está funcionando direito, aquela que deveria produzir algum tipo de substância que deveria me deixar feliz. Ou com alguma sensação de prazer, a mesma que só desperta quando eu me masturbo assistindo inúmeras abas de vídeos pornô diário. Mas que não são suficiente pra me deixar bem, ou satisfeito de algum modo.

Acordar tem sido difícil, todo dia é uma luta pra levantar e iniciar as atividades diárias que são mais fadigantes do que deveriam. As vezes espero que chegue um homem na sala do meu trabalho informando que é secretário do diabo e veio negociar meu sucesso, não que minha alma fosse uma grande aquisição para o inferno, mas o mínimo de retorno acho que eu poderia dar. Tenho um bom humor e poderia acalentar aquele hospício eterno. Sádico, mórbido e muito convencional, esse sou eu.

Só neste ano, que ainda está em seu terceiro mês, me prometi que acordaria cedo, tomaria café da manhã e iria para a academia antes do trabalho, contudo, eu pulo várias etapas e acabo somente acordando e indo pro trabalho, tem dia até que só escovo os dentes lá de tão atrasado que eu sou. Não tenho orgulho nenhum sobre essa série de fatos, mas minha programação interna basicamente me faz evitar uma boa noite de sono e um despertar matinal tranquilo e leve.

Hoje é terça, véspera do meu pior dia na semana, eu odeio as quartas e por algum motivo por muito tempo esse sempre foi o meu pior dia da semana, desde a época da escola onde eu tinha as piores aulas do ano letivo, ou na faculdade quando eu tinha as piores atividades acadêmicas e hoje em dia, quando é meu dia mais estressante no trabalho. Parece que esse dia me persegue, e considero que as terças deveriam ser meu pior dia, porque eu nasci numa terça e o pior dia da minha vida foi quando eu nasci.

Nascimento, está aí uma coisa que ninguém nunca concordou, mas sempre fizeram questão de nos obrigar a fazer. Eu não pedi pra nascer e principalmente nesse meu cenário de vida, eu queria ser o filho da Beyoncé, ou de algum monge que me oferecia paz eterna. São nove meses de transformação dentro da barriga de alguém, e nove meses que você se prepara para alguma coisa acontecer e nada vai acontecer, afinal você tem toda uma vida de surpresas pela frente.

Vivi 24 anos na expectativa de grandes feitos e eu tenho talvez grandes momentos registrados que foram o ápice do meu sucesso pessoal que hoje em dia me parece mais uma farsa. E, cansado disto tudo, decidi que em nove meses eu vou partir. Morrer. E acabar com essa tortura diária de como eu deveria viver a vida maravilhosamente, perfeitamente até o fim dos meus dias,  não, decidi que em nove meses, ao completar vinte e cinco anos, eu vou partir dessa para a melhor.

Está feito.

Meu nome é Alexander Brookfield, e este é um modo nada convencional de acabar com tudo.

Tá F*daOnde histórias criam vida. Descubra agora