02. Pretty little thing, silly little nit, poor thing

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Depois de ter me permitido fazer uma lambança nojenta de catarro e lágrimas – misturados ao suor dele – no seu peito, o moreno havia me guiado até seu apartamento. Doando o ombro e o braço como uma fonte de apoio para que eu não depositasse muito peso no tornozelo machucado, ele caminhou ao meu lado até estarmos de frente a porta que ficava no centro do corredor social. E, mesmo com a visão embaçada pelo acúmulo de desgosto por ter sido feito de otário durante vários anos, não pude deixar de perceber que o chaveiro do Jeon era uma miniatura fofa do homem de ferro segurando o capacete embaixo do braço.

Coisa típica de adolescentes...

Assim que entrou na sala, o fã boy de Tony Stark bagunçou os cabelos suados e deu um meio sorriso na minha direção. "Quer beber algo?", perguntou enquanto caminhava até a cozinha e coçava a barriga de forma preguiçosa. A mão do braço livre deslizava em movimentos lentos por dentro da blusa de tecido mole.

Instintivamente, deixei meu único salto ao lado dos seus tênis surrados e recém tirados, soltei um grunhido abafado e segui ainda grudado ao garoto, sem saber em que lugar específico deveria ficar. E, o mais importante, se eu deveria ficar...

Não desejava abusar da sua educação, mas também não queria ser indelicado, então decidi aceitar um copo de água. Meu plano consistia em agradecer sua bondade e, logo em seguida, correr ao encontro dos meus travesseiros para sofrer com o cheiro de Kim – Porco Traidor – Taehyung ainda impregnado neles.

— Isso aqui deve servir pro seu tornozelo.

Um pacote de alguma coisa verde congelada – talvez ervilhas – foi entregue nas minhas mãos. Mas, antes que eu pudesse levá-lo ao pequeno inchaço no meu pé, meu estômago embrulhou, protestando contra o mar de suco gástrico que o devorava. Péssimo timing, órgão de merda! Para piorar – porque é óbvio que sempre tem como –, o cheese buldak ficara no forno do meu querido ex, e a vontade de ir lá buscar meu jantar era tão nula quanto a existência de comida na minha barriguinha.

― Hmmm... Não tem muita coisa na geladeira já que amanhã é o dia em que geralmente faço as compras, mas podemos pedir algo pelo celular. Eu como de tudo, então fique à vontade para escolher o que quiser. ― O garoto me ofereceu outro sorriso, e o cantinho dos seus olhos enrugaram no processo.

― Jeon...

― Jungkook... ― Uma pausa. Os lábios finos entortaram quando ele fungou. ― ...pode me chamar pelo meu nome, Jimin-ssi.

― Jungkook... ― "Consertei." ― ...não precisa se preocupar. Eu já vou indo... Olha, muito obrigado, nem sei como te agradecer. Você nem me conhece direito e...

― Fique... ― Ele me interrompeu, fechando a porta do refrigerador. ― ...só até você se acalmar um pouco. Jante comigo, é tudo o que peço em troca. Meu appa trabalha viajando, então é difícil comermos juntos. E, por mais que eu esteja acostumado a ficar sozinho, prefiro ter alguém por perto.

Ao mesmo tempo em que desejava chorar a noite toda enfiado debaixo das minhas cobertas, remoendo toda a minha idiotice por ter confiado cegamente no pilantra do meu ex-namorado, não queria ir para casa e me afundar em tristeza – e fome –, assistindo todos os vídeos que já gravamos. Muito menos, tinha vontade de organizar todas as suas coisas esquecidas pelo meu banheiro e guarda-roupas. Naquele instante, não possuía forças para montar uma fogueira, nem para exorcizar o diabo da minha vida.

Infelizmente, tudo o que me restava era a certeza impiedosa de que se me isolasse, pularia de vez naquele abismo emocional que me fazia ter vontade de chorar a cada minuto. Mergulharia nos momentos bons apenas para me torturar com o presente desastroso. É como quando temos uma ferida e sentimos a necessidade de arrancar a casquinha dela, mesmo sabendo que vamos nos arrepender com a ardência que vem depois.

A cinta-liga nos uniuWhere stories live. Discover now