― Ela não te quer, cara! Para de insistir, que ódio do caralho. Tenho certeza que se a Yura mandar escrever "vai tomar no cu" num outdoor em frente à casa desse imbecil, é capaz dele dizer que é charme. Aish, odeio macho burro!
― Desde que cheguei, você não para de reclamar um minuto da merda desse dorama. Por que continua assistindo isso mesmo?
Bem, aí é que está a questão...
Mais de duas semanas. Há exatos quinze dias, eu tenho me entupido de filmes, séries e livros. Uma válvula de escape para ignorar as quinhentas ligações de Taehyung e suas inúmeras mensagens que sequer li. Uma forma de esquecer que fui enganado e traído. Uma fuga da realidade. Uma saída vergonhosa. A certeza de que se minha vida tá um lixo, a ficção existe para me fazer esquecer dela.
― Chega! ― Jin desligou a televisão usando o controle remoto, que eu jurava ter perdido em algum canto. Meu apartamento estava uma zona. Meu estado emocional refletido nas embalagens de comida espalhadas pelos móveis, nas roupas entulhadas ao redor da máquina de lavar. Na ausência dos meus animaizinhos. ― Cadê Monet?
― Com omma. Acredita que ela ameaçou tirar a guarda dos meus filhos? ― Contei em tom choroso, esperando algum tipo de consolação que não veio.
― Fez certo. Olha isso! ― Estendeu uma das caixas de um restaurante chinê que estava tomada por formigas. Pelo visto, era recente, ainda estava na fase de "limpeza" da parte orgânica. Talvez fosse de ontem de tarde ou anteontem, não lembro ao certo. Ando meio perdido nas datas, parece que minha mente ainda não saiu do maldito trinta de dezembro. Jin voltou a falar, assim como minha atenção retornou a ele. ― Jimin, é sério, se eu não te amasse, já teria acionado a vigilância sanitária. Tem resto de comida e inseto por todo o canto. Sinceramente, isso tá um nojo.
Num surto de caretas exageradas, Seokjin jogou a embalagem no chão e bateu as mãos uma na outra. Melhor seria se tivesse deixado aquilo quieto. Agora tinha formiga andando desesperada por todo canto. Não que eu me importasse o suficiente para levantar e fazer algo, apenas encolhi minhas pernas no sofá e observei seus pés pisotearem os pobres bichinhos, enquanto sua boca praguejava coisas incompreensíveis. Provavelmente, estava sendo castigado com mordidas, beliscões, picadas, seja lá o que formigas fazem... Só sei que elas atacam, que não é nada gostoso e que depois coça pra caralho. Maldita alergia idiota!
Será que se eu engolir algumas, fico de coma por uns diazinhos? Assim, só até a dor do chifre sumir...
― Chega de sofrer por macho, já deu. Uma semana já era tempo mais que suficiente pra esquecer aquele cachorro.
― Cachorros são bonzinhos, aquilo é um demônio. ― Choraminguei fazendo beicinho. Eu estava no meu direito, afinal.
― Não tenho como discordar. Juro que se eu topar com aquele rostinho de modelo da Vogue, acabo com ele. ― Enquanto falava, suas mãos se retorciam em frente ao próprio corpo como se estivessem esganando Taehyung.
A ameaça não me pareceu ruim, até senti uma pontinha de satisfação ao imaginar a cena se concretizando. Se alguns sofrem de tristeza com o término, eu me transformei num poço de ódio profundo. Não há um dia que eu não dê pelo menos uns três berros com a cabeça pra fora da janela. Os vizinhos devem achar que enlouqueci de vez, mas quer saber? Foda-se, eu pago a merda desse condomínio antes do vencimento e tô sempre dentro do "horário de barulho". Eles que aguentem minha fossa amorosa assim como tenho que engolir uma caralhada de fumaça de cigarro do carinha do seiscentos e quatro entrando pela minha cozinha e os gemidos esganiçados de algum outro morador que prefiro nem saber de quem se trata.
YOU ARE READING
A cinta-liga nos uniu
RomanceSabe quando você decide fazer uma surpresa inusitada para o seu namorado? Tudo parece perfeito nos seus planos, mas a realidade nem sempre colabora. Depois do que houve, passei a odiar surpresas e amar ainda mais aquela bendita cinta-liga que nos un...