01. A surpresa, o otário e a criança que lembrava um coelho

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Eu estava acabado, com sono, dor de cabeça, me sentindo um caco. Contudo, nada disso realmente importava porque hoje era o dia de aproveitar toda a recompensa da vergonha que passei dentro daquela loja. Acredite, o rosto da senhora simpática do caixa ainda flutuava nos meus pensamentos. E se algum dia eu a encontrasse no supermercado? Na fila do pão? Se por algum infortúnio do destino, eu cruzasse com ela onde quer que fosse? Talvez, a mulher nem lembrasse de mim; eu era apenas mais um cliente na sua semana monótona. Mas talvez, ela me reconhecesse e pensasse; "Olha o garoto pervertido que gosta de vestir calcinhas!". E, misteriosamente, todo mundo saberia disso.

Sempre tive essa paranoia de achar que se alguém – não completamente confiável – sabe de um segredo meu, todos vão automaticamente descobrir só de olhar para a cara dessa pessoa, sem que ela precise falar nada. Por causa dessa teoria maluca, que fazia total sentido na minha cabeça, demorei "muito" para perder minha virgindade. Isto é, com dezesseis anos, Seokjin já dava aulas de sexo para qualquer garoto bonito, enquanto eu ainda engatinhava tentando não bater com os dentes sempre que beijava algum boy lixo escondido.

Como eu poderia confiar em adolescentes que possuíam mais hormônios do que cérebro e que adoravam se vangloriar até de coisas que nunca haviam feito? Não que eu quisesse um amor para a vida toda naquela época, mas também não seria nada confortável ter minha primeira experiência sexual exposta para o colégio inteiro, sendo que eu já era motivo de olhares tortos e risadinhas por conta de boatos sobre a minha fruta preferida não ser a maçã, e sim a banana.

Como disse, adolescentes são um poço de maturidade...

Eu acreditava que assim que transasse com algum daqueles guris remelentos que estudavam comigo – publicamente heterossexuais convictos, mas que adoravam deslizar as mãos safadas pela minha bunda, coberta pela calça apertada do fardamento, quando estávamos protegidos de olhares curiosos –, seria pior que andar no colégio com a testa escrita em letras garrafais, "gosto de sentar gostoso num pau".

E, infelizmente, sou daqueles que se importam demais com a opinião alheia. Não no sentido de achar que tenham razão, mas no fato de me magoar fácil por conta de julgamentos cruéis. Assim, mesmo morrendo de vontade de avançar além de beijos e carícias, me mantive puro até os meus dezoito, quando acabei ultrapassando os limites com um homem americano maravilhoso.

Que deus o tenha, e Taehyung me perdoe, porém Tony era tudo isso e muito mais.

Se você quer transar com alguém e não quer que ninguém descubra, escolha uma pessoa que more do outro lado do planeta e fale uma língua que nem você compreenda cem por cento.

Porra, Jimin, no que está pensando?

Hoje é o dia... o d-i-a!

Afastei os pensamentos estranhos, que ao menos sei de onde surgiram exatamente, e voltei a me imaginar vestindo aquelas peças fofas maravilhosas, melhor dizendo, voltei a pensar no presente que faria meu namorado feliz. Isso! Eu não estaria me submetendo a nada daquilo se não fosse por insistência de Taehyung, claro!

Algumas vezes precisamos nos sacrificar pelas pessoas que amamos. Embora admita que, algumas raras vezes, esses sacrifícios não são tão ruins assim. Eu faria algo que sempre tive vontade e ainda agradaria o meu namorado, matando dois coelhos numa cajadada só! No sentido figurado, é óbvio. Esses pequenos animais adoráveis jamais deveriam sofrer nem com um mísero resfriado.

Depois de surtar mais um pouco em silêncio, montando os cenários da minha noite perfeita, decidi acordar Seokjin que babava despreocupado no meu travesseiro, como se não tivesse que estar no emprego daqui a poucas horas. Pelo menos, ele não roncava mais.

A cinta-liga nos uniuWhere stories live. Discover now