Mestiços

O Pior e o Melhor Aluno da Escola

I

A sala escura não o impediu de seguir em frente. E também não se interessou em procurar o interruptor e acender a luz, não achou que fosse certo, na verdade estar ali já parecia bastante errado. Mas também não passou pela sua cabeça recuar. Seguiu em frente, tocando os dedos pela superfície fria dos armários, confiando apenas na sua audição.

Ouviu algo se chocando contra os armários e caindo. Então ele apressou os passos. Mesmo com as luzes apagadas, havia claridade do lado de fora adentrando o local, por isso conseguiu vê-lo. Estava caído no chão, suando, arfante. Orgulhoso como era, jamais revelaria tal situação de fraqueza. No entanto não havia nenhuma força para orgulho ali.

Ajoelhou-se ao seu lado, tocando o ombro magro.

— Você vai querer sair daqui — disse ele, entredentes, assim que foi tocado.

Negou.

— Você vai se arrepender, Park Chanyeol — avisou outra vez, exibindo os caninos longos e pontiagudos.

Não se sabe de onde veio força, mas de repente ele se ergueu e agarrou o intruso pelos ombros, afundando os dentes em seu pescoço.

PARK

Acordou sobressaltado e com a maldita de uma ereção matinal. Quem é que fica ereto após sonhar que está sendo atacado por um vampiro? Aliás, estava sonhando demais com vampiros nos últimos dias. Culpa do seu maldito colega de classe Byun Metido Baekhyun. O cara se sentia a última bolacha do pacote, a última coca cola do deserto. E por quê? E daí se ele tinha as maiores notas de toda a escola? E daí se ele era bom nos esportes? E daí se era bonito e todas as garotas babavam por ele?

E DAÍ?

Mas o que Byun tinha a ver com seus recentes e frequentes sonhos com vampiros? Simples. O cara era um vampiro! Não havia outra explicação. Além de todas as melhores qualidades que um garoto de dezessete anos poderia ter, ele também tinha algumas habilidades sobrenaturais. Como super força! Afinal ninguém tão magro conseguiria levantar um armário escolar de três metros de comprimento e dois de altura com apenas uma mão. Mas ele conseguia. Flagrou-o fazendo isso depois da aula de educação física, três semanas atrás, para pegar uma caneta que rolou para baixo do móvel.

A partir daí Chanyeol começou a observar tudo sobre ele. A pele pálida, os caninos levemente pontiagudos e, também, os reflexos apurados. Uma vez, propositalmente, mirou em sua nuca e lançou uma bola de vôlei, mesmo de costas ele desviou sem nenhum esforço e depois olhou para trás, quase o assassinando com os olhos.

O ódio era recíproco, acreditava. Embora a verdade, dura e crua, é que Baekhyun não notava Chanyeol o suficiente para que pudesse odiá-lo. Era para ele como era para o resto da escola, o esquisitão nerd e otaku, melhor manter distância. Como era desastrado e pouco eloquente, não havia nada que pudesse tentar fazer para melhorar sua imagem. Por sorte tinha Do Kyungsoo.

Não tanta sorte assim, na verdade o cara também era esquisitão. Bem, esquisitão não era a melhor palavra para descrevê-lo, era necessário criar outra palavra, pois os dicionários atuais não incluíam nenhum adjetivo para alguém como o amigo.

O relógio despertou de repente, assustando-o. Chanyeol levantou-se para desligar o objeto, — deixava-o do outro lado do quarto só para garantir que não voltaria a dormir — porém outra pessoa o desligou naquele dia.

— Puta merda, o que você está fazendo aqui?

Todo vestido de preto, parado em frente a sua estante de livros e mangás, estava Kyungsoo.