Capítulo 3

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— Então, a sua tia está bem? — Joana perguntou pela terceira vez.

— Sim.

Minha resposta foi automática. Eu estava com o modo Charles Chaplin em Tempos Modernos ativado, ou seja, carimbava papéis como se estivesse em uma linha de produção. Sem nem ao menos dar uma segunda olhada nas palavras ali impressas. Afinal, não era a minha obrigação e eu tinha que repor as horas fora ou precisaria levar trabalho para casa de novo.

— E por que você está com essa cara de enterro? — insistiu.

— O que seria uma cara de enterro?

— Olhos abatidos, rosto avermelhado de quem chorou ou vai chorar, uma aura de tristeza que consegue deixar esse ambiente chato ainda mais depressivo... — Começou a pontuar. Ela se sentou na cadeira em frente à minha e pegou um segundo carimbo para me ajudar. — É muito grave o que a dona Dulce teve?

Suspirei, não fazia ideia que estava emanando uma aura deprimida, Joana era muito perceptiva e ficava difícil esconder coisas dela. A mulher me conhecia demais para acreditar que eu não tinha nenhum problema.

— Ela já está em casa...

— Ah, ainda bem! Então, por que...

Não deixei que ela terminasse.

— Com Matheus — complementei. — Tia Dulce foi para casa com Matheus.

Joana balançou a cabeça e me olhou, tentando entender o que tinha de mais naquela informação. Ao invés de explicar, esperei que compreendesse sozinha. O que não demorou muito. Logo os seus olhos se arregalaram e a mão congelou no ar, segurando o carimbo parado.

— Não! — exclamou atônita.

— Sim.

Não acredito!

Dei de ombros.

— É isso aí...

— O Matheus?

— Uh-hum... — Acenei para que ela voltasse ao trabalho.

O silêncio, interrompido apenas pelo barulho do carimbo batendo contra o papel, durou exatos quarenta segundos.

— Matheus... Matheus? — questionou. — Tipo, O Matheus? Aquele Matheus.

Cocei o espaço entre as minhas sobrancelhas. Eu evitava falar sobre o meu ex-melhor amigo, mas, uma vez durante uma bebedeira, contei mais do que devia para Joana. Podia ver que havia sido um grande erro.

— Quer parar de falar o nome dele? — Implorei.

— Ok, ok... Desculpa. — Levantou as mãos em sinal de redenção. — E você, pode me falar sobre ele?

Não... De jeito nenhum. Não tinha mais quinze anos, não podia me permitir que os meus pensamentos voltassem a ser dominados por Matheus.

— Está de volta por uns dias, nada mais do que isso.

Meu ex-melhor amigo (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora