2-1 - Olhe para mim!

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Eu me sentia intrigada, como aquela sensação de quando saímos de casa e achamos que esquecemos algo. Eu sentia a minha respiração se intercalar entre as expiradas mais profundas e as mais suaves enquanto eu negava com a cabeça de tempos em tempos.

Quando sai da detenção e entrei no meu quarto a sensação ainda não passou, e ao piscar a imagem daqueles olhos não me deixava tranquila. Eu não acredito em amor a primeira vista mas... céus eu nem acredito que cheguei a considerar isso! 

Foi um dia estressante, com certeza é apenas isso.

Me deito na cama encarando o teto branco, na verdade a tinta estava bastante descascada e tinha uma marquinha de umidade aqui e outras ali porém não me incomodava, respirei fundo e então fechei os olhos obrigando meu corpo a acalmar os impulsos e a limpar a mente.

-Irene! - Sou bruscamente interrompida.

Lory era uma garota comum, tinha uma aparência agradável aos olhos mesmo que ela dissesse que seu nariz era grande demais, a nossa relação era baseada em respeito, não em amizade.

Abro a porta e olho paciente seu pijama cheio de coelhinhos.

-Pois não? - Espero ela falar.

-Algumas meninas querem fazer uma noite das panquecas!

-Isso nem se quer existe - Passo a mão na testa encostando o corpo no batente da porta.

-Nós inventamos então agora existe! - Ela diz animada.

-Lory... estou cansada - Digo calma - Na próxima, está bem? 

Sua expressão fica entristecida mas ela assente e logo volta a saltitar para o andar de baixo, suspiro fechando a porta.

Depois de tomar um banho curto, já que todas aqui queremos água quente, me sento sobre a cadeira na frente da escrivaninha olhando para a máquina de escrever, eu achei que me sentiria mais inspirada a escrever algo antigo usando coisas antigas, algumas noites realmente funciona.

Observo o papel em branco e depois o monte de papéis preenchidos ao lado da máquina, inclino a cabeça respirando fundo mais algumas vezes até me levantar desistindo por enquanto do capítulo 23 e me deito na cama me cobrindo, apago a luz amarelada do abajur e fecho os olhos tentando dormir.

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Perto das 9h da manhã de quinta-feira decidi sair pra correr, então prendi o cabelo em um rabo alto e coloquei a minha playlist com algumas músicas que gostava independente se eram felizes ou tristes e sai da república, olhei para o relógio e então comecei devagar apenas caminhando até o corpo esquentar para correr.

O dia estava estranho, as nuvens estavam cinzas e carregadas, não havia azul algum no céu, era triste. Eu não gostava de dias chuvosos, não gostava de chuva e nem do clima úmido, o barulho da chuva não me parecia relaxante, ele me deixava alerta, não era medo exatamente era só um desgosto e eu definitivamente não gostava do escuro quando ainda estava de dia!

De preferencia minha escolho umas ruas mais vazias pra correr, aquelas que não são perigosas mas que ao mesmo tempo não tem nenhum outro corredor que te pare pra analisar seu porte físico e discuta sobre shakes de melancia.

Felizmente pra mim só haviam alguns gatinhos pela calçada mas que saiam correndo com a proximidade, as casas desse bairro eram lindas e rústicas, algumas tinham até jardins com tipos diferentes de flores ou hortas mas a minha parte favorita eram as árvores altas e antigas, não posso negar eu achava lindo. A folhagem tinha um tom bem escuro mas ao mesmo tempo os raios de sol iluminavam algumas folhas deixando-as mais claras, claro que esse cenário não era possível com as nuvens de chuva mas não deixava de ser inspirador.

Mesmo com os fones ouço um barulho alto de queda ou pelo que me parece de batida e me viro pra trás arrancando os fones da orelha mas não vejo nada, procuro com os olhos alguma coisa diferente ou fora do lugar mas não... está tudo exatamente igual, volto a me virar pra frente e demoro uns segundos pra sair do lugar até voltar a caminhar, respiro fundo guardando os fones no bolso da calça e voltando a correr.

Aquela sensação de intrigamento estava de volta e não era agradável.

Passo em uma cafeteria depois de mais uns 20 minutos correndo e me sento em um dos bancos pedindo uma água, pego o copo cheio de gelo e respiro fundo tomando um gole de olhos fechados.

Quando os abro parece intencional virar a cabeça para a porta e ver um homem de quase um metro e oitenta saindo por ela com um sobre-tudo preto, aperto os olhos curiosa me virando mais pra vê-lo até que ele também se vira pra trás olhando na minha direção. Sinto o baque do seu olhar escuro sobre o meu e me levanto saindo da cafeteria e andando na sua direção.

Ele não se move do lugar quando me aproximo e não tira os olhos dos meus.

-Oi... é... eu sou...

-Irene - Ele completa, abro a boca pra falar curvando uma das sobrancelhas e limpo a garganta.

-Irene - Afirmo devagar com a minha cabeça.

-Eu sei - Ele diz calmo tirando as mãos do casaco, espero em vão ele me dizer o seu nome de volta.

-Não está quente pra usar isso? - Digo apontando pro sobre-tudo e ele levanta as sobrancelhas surpreso abrindo um sorriso de lado mostrando os dentes.

-Você quem foi praticar corrida a essa hora da manhã! - Rebate.

-Como você...? - "sabe?"

-Está com o relógio pra medir sua pulsação e com a roupa de exercício... foi um chute.

-Chutou meu nome também?

-Não... bem, Maddie me disse seu nome.

-Eu não disse meu nome a Maddie, ela não me deu a chance.

-Você é conhecida, Irene - Ele diz calmo com o sorriso se fechando aos poucos.

-EI! senhora!! - A garçonete sai correndo da cafeteria na minha direção - a senhora saiu sem pagar...

Olho pra ela abrindo a boca surpresa, céus que vergonha e então tiro o dinheiro da minha bolsa entregando a ela que volta aliviada para a cafeteria, volto a olhar pra frente mas ele não está mais aqui... suspiro cruzando os braços e olhando ao redor mordendo a língua confusa.

Skinny loveOnde histórias criam vida. Descubra agora