capítulo trinta e seis

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  passa das quatro da manhã, estou cansada, com frio, desorientada, sem nenhuma notícia de aurora ou katherine. estou vagando pelo hospital, enlouquecendo sem poder ver minha sobrinha. a agonia da espera tira todas as minhas esperanças e pensamentos positivos, eu apenas quero vê-la, saber que está bem mas parece que nada está certo nesse lugar. mãos quentes tocam meu corpo, eu quase não reconheço o toque familiar mas ele me puxa para um mundo alternativo, onde tudo está bem por uns segundos. sempre faz isso nos meus piores dias.

– linda, alguém quer ver você. – não havia ao menos visto o rosto de hero, estava de costas para ele mas com suas palavras, pensei ser katherine no telefone. quando me virei, tive uma das melhores visões da minha vida, aurora sorrindo enquanto olhava para hero. meus olhos transbordaram instantaneamente.

– minha princesa. – nossa pequena estava tão sorridente, como se nada tivesse realmente acontecido. eu preferia que fosse desse jeito, que ela não se lembrasse da noite mais horrível de sua vida. hero me contou, durante nosso caminho para o carro, tudo o que um dos pediatras disse sobre aurora. como eu pensava, ela estava perfeitamente bem, fizeram um milhão de exames, o que explicava o tempo que esperamos mas tudo estava bem, ela era o que mais importava naquela situação.

– ela está roncando. – hero sorriu ao olhá-la de relance em meus braços, eu nunca me cansaria daquele sorriso, em uma noite tão difícil, aquele gesto iluminava todo o ambiente. a preocupação dele com aurora derretia meu coração, claro.

aurora dormia tranquilamente na sala, rodeada por almofadas, talvez sonhando com seus desenhos favoritos. hero estava fazendo chá para mim, pediu que eu me sentasse, disse que a bebida iria me acalmar.

– eu deveria ajudar ted com ela. você pode ficar de olho nela até eu chegar? – a bebida quente realmente me acalmou, esquentou meu corpo mas com certeza eu iria me vestir antes de ir.

– não, jo, você não precisa ir. eu vou. – hero tocou minha mão e acariciou suavemente, com seus olhos preocupados nos meus.

– você não sabe como lidar com ela, talvez ela precise de mim. o que vamos fazer? ligar para a polícia e deixar katherine presa? – eu realmente não sabia mas esperava que hero tivesse a solução ou ted.

– é sua decisão, jo. não posso te ajudar dessa vez. – ninguém podia tomar uma decisão assim por ted ou eu, estava pensando em deixar nas mãos dele mas não seria nada justo, eu não conseguiria dormir tranquilamente depois.

– vou ligar para o teddy, ver como estão as coisas. prefiro resolver isso pela manhã. estou tão cansada. – hero concordou com a cabeça, pousou seu celular sob a mesa e seus olhos nos meus, novamente.

três chamadas, nenhuma resposta. na quarta tentativa, caixa de mensagens. droga, eu estava implorando para que ele me atendesse, não queria lidar com nada daquela bagunça que katherine se tornou, hoje. ted parecia ler meus pensamentos, por isso éramos grandes amigos. uma mensagem iluminou a tela do celular, poucas palavras mas o suficiente para entender o que ele estava querendo me dizer. hero não iria entender e eu não iria explicar, era um segredo entre ted e eu, pelo tempo que durasse.

– ele disse que está tudo bem. nos pediu se podemos ficar com aurora por enquanto. – hero olhou a mensagem e um ponto de interrogação se formou em seu rosto, como eu previa.

– não entendo o conceito dele de tudo bem. que merda significa? – também sabia que hero iria se preocupar com katherine como se ela fosse sua irmã, porque assim era quando os dois andavam juntos. ted havia deixado claro que o que acontecia entre eu e ele nunca faria sentido para kat e hero. éramos mais do que irmãos, havia uma conexão inumana. então, eu confiava nele quando me disse que tudo estava bem. eu sabia qual solução ele havia tomado, não precisava perguntar.

– ela está bem, os dois estão. sabe que eu nunca ficaria tranquila se não confiasse tanto nele. consegue confiar no que estou dizendo? – eu adoraria que hero não questionasse mas era de sua natureza saber de tudo, seria extremamente difícil esconder por tanto tempo o plano de ted. um suspiro pesado afirmou o quão foda seria para hero confiar cegamente em algo nada concreto.

– sabe que confio em você, jo. – um longo silêncio se instalou entre nós, os olhares perderam o foco mas as mãos não se soltariam tão cedo. amar mesmo quando odiar, era meu mantro, sempre. esperava que hero acreditasse nisso tanto quanto eu, esperava que ele me amasse a ponto de confiar cegamente nas minhas palavras. 'não me deixe cair dessa vez, hero' meu subconsciente gritava mas ele não podia ouvir.

[...]

– não, porra! estou dizendo um puta não, josephine. – a voz elevada de hero fazia meu coração pulsar como se estivesse tendo um infarto. doía.

– você não entende o que estou tentando dizer. eu estou tentando explicar mas você não me escuta. só grita e grita, eu não vou ficar ouvindo essa merda. – há muito tempo não via hero tão fora de si, sei que os eventos dessa noite fizeram isso mas eu não podia contar. ted odiava quando eu estragava seus planos.

– eu entendo perfeitamente o que você e aquele desgraçado estão fazendo, estão me deixando de fora de tudo como sempre fazem. ela é importante pra mim, josephine. eu mereço saber que merda ele fez com ela. vai ficar do lado dele ou vai me contar logo? – suas mãos apertavam forte a beira do armário do banheiro. hero me olhava através do espelho, um olhar profundamente irritado e sem paciência.

– eu não estou escolhendo lados, pode esquecer seu ciúme doentio por um segundo? – naquele momento, dei dois passos para trás, sabendo que havia acordado um monstro que morava nos pensamentos mais escuros de hero. há tanto tempo não brigávamos por ciúmes, agora parece o momento perfeito para ele despertar o monstro.

– deixou bem claro o lado que está, josephine. – pensei que os gritos iriam piorar mas a fala foi tão fria que eu senti falta da discussão calorosa.

eu me sentia tão burra, me questionei um milhão de vezes o que havia acabado de fazer mas minha mente não me dava respostas claras. estava estupidamente parada no canto do quarto, sem saber o que dizer, como agir, como parar hero porque eu sabia que ele iria aparecer na casa de katherine assim que saísse pela porta. antes de sumir do meu campo de vista, ele parou a centímetros do meu corpo, com os olhos escurecidos pela raiva e as mãos gélidas como a neve lá fora.

– está certa do que está escolhendo? – suas palavras, agora, soavam de maneira triste. eu não sabia o que estava acontecendo, minha cabeça rodava como nunca antes, eu apenas desejava estar em seus braços, aquecida e segura.

– por que é tão difícil confiar em mim? – seus olhos caíram instantaneamente, agora eu sentia a frieza entre nós.

– eu volto quando encontrar ela. – hero não hesitou no caminho para fora do nosso quarto, eu corri atrás dele como se minha vida dependesse daquilo, o alcançei na escada mas ele não conseguia mais me olhar nos olhos.

– se sair por aquela porta, estará colocando um fim nisso. em nós. – foram, de longe, as palavras mais difíceis que já tive que pronunciar mas se ele resolvesse sair, significava que não tínhamos mais nada, nem confiança nem amor. nada que bastasse para continuarmos.

hero não conseguia me olhar, aquilo doía mais do que qualquer dor física. quando seus pés pisaram fora de casa, eu assisti paralisada tudo o que tínhamos indo embora junto com ele. dizem que vemos nossa vida antes da morte; eu vi minha felicidade, nossos momentos, o melhor de mim. assim foi a morte do meu melhor lado. eu nunca mais seria a mesma. parte de mim nunca mais voltaria a ser o que era. eu estava vazia.

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tem atualização dupla hoje, baby!! até mais tarde.

Every breath you take | Herophine ∞Onde histórias criam vida. Descubra agora