Quem está aí?

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Onde estou? Olho ao meu redor, um quarto escuro. Não, não é somente um quarto, é o meu quarto de infância. Sinto-me inundado de solidão. Noto cada detalhe das minhas velhas lembranças daqui, mas não percebi a chave virada na porta e não precisei, pois logo ouvi o choro abafado detrás. Me virei lentamente, querendo que fosse alucinação, mas era tão real quanto meu coração acelerado. Uma criança sentada na cama tentando conter os ruídos, porém não qualquer criança, sou eu, e jamais me esqueceria desse dia, porque foi o mais triste e agonizante que já tive na vida e sem motivo algum. Me rendendo boas horas de tratamentos inúteis com psicólogos, mas foi o dia que me apaixonei pela primeira vez, na dor que eu sentia, nada além da lua cheia me confortava e desde então, encontrei a melhor psicóloga que eu já consultei. Sentei ao lado da criança, olhei na mesma direção e como eu me lembrava, lá está ela.

-É linda, não? -Perguntei sem tirar os olhos da vista-.

O silêncio continuou. Minha atenção voltou-se à criança, mas ela sumiu. Procurei-a ao redor, mas nem vestígio. A maçaneta da porta começou a abrir como se tivesse alguém desesperado para entrar, seguido de batidas fortes, cada vez mais intensas, um barulho ensurdecedor. Gritei para parar com as mãos sobre o ouvido e de nada adiantou. No ápice do tormento, tudo para. Abro os olhos. Onde estou agora? Me pergunto deitado em um quarto iluminado. Algo escorre da minha testa. Água? Percebo um pano com água morna sobre minha testa, parece ter sido recente. Tento levantar, mas cada músculo do meu corpo protesta com uma dor intensa. Sem a possibilidade de me locomover, passo a entender o local que me rodeia. Uma cama com um tamanho desnecessariamente grande, paredes de madeira com um acabamento muito bem trabalhado, detalhes nos tecidos e na decoração geral que lembra muito a Ásia.

-Então acordou finalmente. -Uma voz feminina calma ecoou do fundo do cômodo-. 

-Onde estou? -Perguntei com uma tentativa falha de vê-la, sentando na cama-.

-Não se esforce, estás em recuperação. -Disse enquanto seus passos denunciavam sua posição-.

-Poderia me responder? -Pedi tentando encontrá-la com os olhos-.

-Por enquanto só saiba que bem longe de casa e que precisa me obedecer para sobreviver. -Respondeu firme, entrando no meu campo de visão-.

Asiática, como eu imaginava, sua pele um pouco mais clara que a minha, cabelos curtos e olhos negros que me perfuram.

-Se você vai me proteger, é óbvio que precisa de mim para algo,mas levando em consideração que minha família não é rica e claramente dinheiro não é um problema para você, qual o motivo disso? -Insisti-. 

Ela ignorou-me e abriu uma gaveta perto da cama procurando por algo.

-Pelo menos posso saber o seu nome? Gostaria de saber para quando eu for contar essa história maluca do dia em que fui sequestrado por engano. -Perguntei em tom de brincadeira-.

-Chinatsu Fuji, e isso não foi um sequestro. Agora tome este remédio e descanse. -Mandou com um copo d'água e uma pilula nas mãos-.

Eu continuaria os questionamentos me recusando a tomar, mas conforme o tempo passava, as minhas dores se tornavam mais insuportáveis, fazendo-me aceitar aquele medicamento duvidoso de uma pessoa que até onde sei, me sequestrou. Antes que eu apagasse pelo remédio aparentemente forte que recebi, perguntei:

-Por que você é tão exótica? -Enquanto a via caminhar para fora do cômodo-.

Ela virou para trás no meio do caminho e me olhou, aos poucos minha visão ficava cada vez mais turva, sendo a última coisa que vi antes de apagar novamente.

The Sincere Eyes of SkyOnde histórias criam vida. Descubra agora