II - 2

317 54 2
                                    

Frases como: "Não há mestre que não possa ser aluno.", de — Baltasar Gracián, citada em 1658, circula pela minha mente. Já havia perdido a conta de quantas frases pronunciei me arrumando para ir para a aula.

Não iria fazer o desjejum, minha cota matutina para aguentar os olhares que irei receber, é zero.  Nesse momento, a frase do inesquecível Aristóteles me fez sorrir olhando meu reflexo no espelho, enquanto penteava meus cabelos longos negros. "O verdadeiro discípulo é aquele que supera o mestre." E eu, havia superado Loren Dudek. 

Não me importava nem um pouco com o surto que tive ontem. Pelo contrário.

Nunca me senti tão bem quanto agora! Entre os longos anos que conheço Loren, consigo contar nos dedos as vezes que ela havia sido agradável.

Eu só havia feito o que todas as suas seguidoras fiéis sonhavam em fazer. Por outro lado, tenho a certeza absoluta de que meu ano letivo será uma tortura.

Em uma comparação estranha que farei, poderia dizer que declarei guerra contra a monarquia. Como uma boa revolucionária, estou pronta para entrar na história, e afirmo, vou derrubar seu reinado asqueroso.

Quando cheguei ao meu dormitório ontem, Katrine tagarelou na minha cabeça por trinta e cinco minutos. Se passasse mais um minutinho, eu a jogaria pela janela para fazer um teste de voo; talvez as galinhas possam aprender a voar. 

Graças as forças divinas do universo, hoje ela saiu em silêncio e bem cedo para fazer seu desjejum.

— Deve ser por isso que o dia amanheceu tão bonito. — comentei com um sorriso maldoso, vendo a minha imagem graciosa no espelho. 

Em particular, gosto de qualificaria o silêncio como a perfeição divina. Não é um sentimento, mas também não deixa de ser.

Se aperfeiçoar para qualquer situação, vale mais que qualquer palavra em outras ocasiões. Talvez seja por isso que eu esteja tão calma essa manhã. Havia feito todo o processo me arrumando sozinha, desfrutando da minha companhia. Nenhuma das garotas do grupo vieram me importunar, como faziam todas as manhãs —se eu soubesse que isso seria tão bom, teria feito antes.

Cantarolei uma música que conhecia desde os meus seis anos e vesti o meu uniforme, que até então eu achava razoavelmente aceitável.

Não era a roupa mais admirável do mundo, mas sei bem que existem piores. Essa forma de pensar fazia com que eu me sentisse melhor, afinal, ficaria bonita até com um saco de pano na cabeça. Diria que o azul do blazer por cima da camisa branca destaca o meu tom de pele.

Antes de sair do quarto, certifiquei-me de que meus cabelos estivessem retos e minhas meias alinhadas. Assim, saí do dormitório com o rosto erguido, pronta para lidar com todos os olhares maldosos que iriam surgir no caminho.

Os boatos sempre se espalham de forma rápida, mas nesse caso não me importo. Quero mesmo que todas desse colégio saibam quem é Gretta Alissa Teadele. 

Minha mãe criou uma Dama centrada, que será de grande renome na sociedade. Ficar conhecida por destruir Loren Dudek, será como uma tarefa banal de treinamento no jardim de infância. Não que eu esteja cantando vitória antes da hora, mas como uma Teadele, me garanto.

O percurso que fiz até a sala foi exatamente como imaginava. Recebia olhares instigantes, mas, não me deixou desconfortável. Os corredores estavam lotados como sempre, já que era início do ano letivo.

Todo esse cheiro de perfumes doces misturados, faziam meu estômago revirar. 

Quando entrei na sala, não me sentei nas últimas carteiras, como sempre fazia com as meninas. Ao contrário, me sentei na fileira que ficava de frente para a mesa aonde os professores se sentavam.

Boas Garotas MalvadasOnde histórias criam vida. Descubra agora