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Enquanto a suave melodia da minha música francesa preferida ecoava em baixo som pelo meu quarto, penteava meus cabelos sentada de frente para a minha penteadeira.

Embora meu olhar esteja vidrado na minha imagem refletida no espelho, a conversa que tive com Mahina a alguns dias atrás sobre o professor Damian insiste em me atormentar, por isso estou dispersa e com a mente longe.

Por um lado, eu a entendo e fico feliz em ver que alguém se preocupa comigo. Mahina foi a primeira pessoa em anos a demostrar isso. Se eu contasse para a Jan e a Ksenia, elas pulariam de felicidade e me parabenizariam como se Damian fosse um troféu ou qualquer outro tipo de prêmio.

Elas não tem cérebro para pensarem no pior, por isso são influenciadas facilmente.

Mas Mahina não, ela demonstrou preocupação levantando argumentos contra o professor Nowak. Não que eu acredite que Damian possa ser um tarado por garotas mais novas, mas e se de alguma forma Mahina estivesse certa?

Tudo aconteceu tão rápido e ele cedeu fácil demais.

Não sei, Damian me parece ser tão correto. Por que ele cederia aos charmes de uma aluna? Ele dá aula em um colégio interno com mais de 750 alunas, por que justo eu?

Não que esteja sendo insegura, mas a conversa que tive com Mahina me deixou pensativa.

Talvez eu deva testar os limites do professor Nowak, ninguém é tão perfeito quanto ele aparenta. Damian é jovem, bonito, um homem mais velho. Experiente, observador, e poderia julgá-lo como controlador, se levarmos em conta como ele administra suas aulas. Ainda não sei verdadeiramente quais suas intenções, não temos um relacionamento.

Será que Damian só que me levar para a cama? Se esse for o caso, preciso assumir o controle dessa estúpida paixonite que tenho por ele! Se não, vou me machucar mais do que deveria.

Sentia como se fosse enlouquecer com tanta coisa acontecendo e isso soava meio irônico, já que no início eu queria que ele fosse a minha diversão. E agora estou preocupada em me tornar a diversão dele. Patético! Mas ao mesmo tempo excitante.

Para variar eu ainda tinha a Dudek como uma pedra no meu sapato. Céus, tudo o que eu mais queria era assumir logo o que é meu por direito e me afastar desse ambiente fútil. Mamãe vai pagar por tudo que me fez passar, vai ser hora da roda da vida girar, vou estar por cima, e ela embaixo. Como será que ela se saíra sem a sua mesada?

Coloquei a escova que usei para pentear meu cabelo na gaveta da penteadeira, arrumei a minha postura enquanto tirava o meu velho caderno de anotações. Eu o tinha há tantos anos e tratava o caderno como um confidente, embora não escrevesse nada sobre a minha vida nele.

Gostava de fazer poemas e textos retóricos que contavam um pouco do meu dia a dia neste inferno. De uma forma encoberta, é claro. Não seria tão patética à ponto de escrever toda a minha vida em um diário como as garotas normais fazem.

Não sou nem de longe idiota de colocar toda a minha vida, meus segredos e medos em algumas folhas que podem cair nas mãos de qualquer um.

Por isso, tenho uma velha mania de criar listas. É mais discreto!

Tento me convencer que isso é uma forma de me manter organizada desde os meus nove anos, mas hoje percebi que é só uma forma que encontrei de preencher o meu tempo. Por alguma razão, me sentia no controle, quando criava essas listas sem utilidades, já que ainda não tenho o controle da minha vida, das minhas ações, e do meu dinheiro.

Fiz um barulho com a garganta para me afastar dos meus pensamentos e abri meu caderno, folheando-o até encontrar uma folha em branco. Peguei minha caneta que estava pendurada na capa e escrevi o nome da megera, fazendo um círculo em volta dele. Embaixo, escrevi o nome do meu professor de história e fiz novamente um círculo ao redor dele.

Boas Garotas MalvadasOnde histórias criam vida. Descubra agora