🔑 - Parte I

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Chamo-me David, e tudo começou em uma madrugada de domingo.

Estava escrevendo meu livro quando me deparei com uma chave brilhante sobre a mesa do computador. Me espantei em ver aquele minúsculo objeto, "será que ela sempre esteve ali?" De fato, eu não me lembrava de muita coisa, estava tão distraído ultimamente que me pergunto como eu ainda podia escrever algo. Olhei envolta em busca de alguma fechadura em que pudesse usá-la, mas nada havia ali.

Olhei a chave com maior atenção, era pequena e tinha detalhes rúnicos bordados em ouro, me lembrou de um livro histórico que tinha lido há alguns anos. um livro que falava sobre um povo asteca que diziam terem descoberto um portal magico para outro mundo.

Guardei a chave no bolso, levantei-me do computador para esticar as pernas um pouco. A casa estava uma bagunça, as almofadas achavam-se jogadas no chão, a louça estava por lavar, as panelas com óleo empilhadas sobre o fogão. Com a vista um pouco embaçada e doendo, olhei no relógio do micro-ondas. Já passava das duas horas da manhã. Nem me lembrava ao certo de quando comecei, pois me sentia tão preso à história que acabei perdendo a noção do tempo. Mas, pelo cheiro que exalava do meu corpo, percebi que estava a muito escrevendo. Arrumei a sala, tirando somente as coisas que estavam no chão. Havia alguns pratos sobre a mesa, tirei-os também. As moscas jaziam sobre as panelas, além do odor de comida estragada, que ardia minhas narinas.

Enquanto organizava a bagunça, me peguei pensando novamente em minha vida novamente pela quarta vez naquele dia, fui banhando por uma onda de depressão. "O que eu estava fazendo com minha vida?" Eu estava só e não existia ninguém para se preocupar comigo. "Por Deus, onde foi que eu errei? Que maldição eu adquiri para estar assim? Alice meu bem por que tinha que ter partido?" Inspirei e expirei profundamente por alguns minutos, isso me ajudava a não ter um infarto devido a ansiedade. Após terminar de empilhar os pratos sobre a pia. Sentei-me na cadeira, sentindo a chave apertar meu bolso. Peguei-a e me perguntei: "De onde você saiu?"

Ainda em meu estado de reflexão, comecei a pensar nas coisas que fiz nas últimas semanas e minha cabeça começou a latejar de dor, logo percebi que não me lembrava de nada até alguns minutos antes de me levantar do computador. Minha cabeça não estava bem. Recoloquei a chave novamente no bolso e fui ao banheiro tomar uma ducha, enquanto pensava no que faria com o objeto misterioso.

Meu pequeno Toalete era estreito, com azulejos brancos do chão ao teto, e era a única parte da casa que estava limpa. Tirei a roupa. Pendurei-a no cabide da parede, indo em direção ao chuveiro. No caminho, notei minha aparência no espelho, sem acreditar no que via. Meu rosto estava sem vida, os pelos da minha face me incomodavam, meu cabelo preto, sem cor, meus olhos se encontravam avermelhados. Senti-me como um zumbi que acabara de retornar à vida, comecei a tocar em meu rosto para ter certeza de que aquela visão não era um sonho.

Durante o banho, tive muitas ideias para acrescentar ao meu novo livro e fiquei me imaginando na cena. Comecei a ver o que meu personagem via e sentir-me como ele era. De fato, foi uma experiência muito boa, até voltar a pensar na realidade e o peso da volta doía muito. Sentei me no chão e deixei a água quente bater em minhas costas e por dentro murmurava, "Que as águas lavem a minha insanidade e as levem pelo ralo". Voltei meus pensamentos na chave que havia aparecido sobre a minha mesa. "Será que estou delirando?", pensei por um momento. Dei um tapa em meu rosto e voltei a me concentrar apenas em me esfregar direito.

Após o banho, retirei minhas roupas do cabide, enrolei-me na toalha, para em seguida caminhar até o corredor escuro e comprido que levava ao meu quarto. Quando achei a porta, abri com cautela, liguei a lâmpada do cômodo escuro, surpreendendo-me com o tanto de sujeira que tinha nele. Roupas jogadas ao chão, meias sujas, resto de comida que havia esquecido, entre outros entulhos que deixei por lá.

A Chave de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora